quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Carlos Ritter e a contribuição industrial para Pelotas (parte 6)

Carlos Ritter e a contribuição industrial para Pelotas
(parte 6)


A.F. Monquelat
Jonas Tenfen


Ainda a visita do Correio Mercantil à Cervejaria Ritter

        
        O frio nos compartimentos necessários era de um grau, medido pelo termômetro ali existente em cada, e era distribuído por meio de uns tubos de água gelada, que corriam paralelamente aos tetos.
      A água usada na fabricação da cerveja, fornecida pela Hidráulica Pelotense, era toda filtrada cuidadosamente, havendo no estabelecimento um poço que também era usado para os demais serviços da fábrica.
          A indústria também produzia gelo, aproximadamente 2.000 quilos por dia, havendo sempre certa quantidade à disposição, mas era esta uma atividade secundária, pois o objetivo principal dos Srs. Carlos Ritter & Irmão, introduzindo os aparelhos de congelação era o de aperfeiçoar a sua cerveja, de modo a manter e aumentar o merecido conceito de que gozavam os seus produtos.
          Era, segundo a reportagem, realmente espantosa a quantidade que podiam produzir por dia, estando a indústria em condições de produzir 125 hectolitros de cerveja, ou seja, 12.500 litros, o que em garrafas correspondia a mais de 18.900 unidades.
      No verão anterior, verão de 1899, a fábrica começou a funcionar com a ampliação que sofrera, tendo aumentado também, expressivamente, o consumo do produto.
         O estabelecimento então empregou 80 operários, devendo aumentar ainda mais no final daquele mesmo ano.
         O motor que transmitia impulso a todo o maquinário era da capacidade de 125 cavalos, sendo excepcionalmente grande a caldeira, alimentada a lenha e carvão, já estando nesta cidade e com alicerces prontos a espera de uma nova caldeira, pesando esta 9.000 quilos.
         A cervejaria mantinha dois maquinistas, o Sr. Carlos Braun e o Sr. Júlio Gerlach.
         Era seu diretor técnico o Sr. Frederico Ritter.
      No gênero, a cervejaria Ritter era a única no Brasil que utilizava a cevada comprada na nossa região colonial, em curioso processo.
         Recebida a cevada, depois de lavada, era recolhida a grandes depósitos, onde germinava, sendo constantemente batida, e dali o elevador transportava à estufa, onde secava, à temperatura de 50º centígrados de calor, sendo resguardada em grandes caixões forrados de zinco.
         A fábrica podia preparar 5.000 sacos de cevada por ano. Foi a colheita daquele ano, no município, bastante farta, concorrendo com a estrangeira, da qual faziam os Srs. Ritter & Irmão considerável importação, a qual era feita em condições onerosas, tendo em tempo presente, cada caixão de 150 quilos pago de importação 14$000 réis, o que era considera um absurdo.
         O lúpulo era todo importado.
    A fábrica tinha anexas, secções de caixoteria, e os mais aperfeiçoados aparelhos para lavar e engarrafar o extremo número de vasilhame do qual continuamente precisava.
      Na época da reportagem, as suas duas únicas marcas de cerveja eram: a Simples e a Ritter Brau, esta última lançada recentemente com excelente aceitação do público, e ambas isentas de qualquer resíduo, límpidas e cristalinas, de agradável sabor.
      Era grande a produção da cervejaria, que enviava sua produção para todo o Estado e para o norte do país e Pernambuco, sendo que o principal mercado consumidor era Pelotas, onde incontestavelmente havia se imposto.
      Encerrando a matéria, os jornalistas, como pelotenses que eram, parabenizavam e agradeciam aos proprietários, pelo que haviam dado a esta cidade na instalação de tão importante estabelecimento.

Em defesa da excelência e do bom nome


         Em matéria veiculada dia 20 de março de 1901, o Correio Mercantil sob o título de falsificação de cerveja e rótulos, informava aos seus leitores que: o Correio do Povo, da capital, noticiava que o Sr. Vitorio Gambetta, proprietário de uma fábrica de cerveja estabelecida na cidade do Rio Grande, sabendo que o contramestre da fábrica Ritter, de Pelotas, havia deixado aquele lugar, e que se retirava para a Baviera, de onde era natural, tratou de procurá-lo, e, pela quantia de dois contos de réis, ficou conhecendo a fórmula aprendida na cervejaria Ritter.
         Para essa marca de cerveja, o Sr. Vitorio Gambetta mandou imprimir rótulos, que o Sr. Carlo Ritter considerou como iguais aos que ele usava em seu produto, razão pela qual protestou, movendo uma ação judicial contra o cervejeiro de Rio Grande.
         Correndo os trâmites legais do processo, o juiz de comarca do Rio Grande condenou Vitorio Gambetta que, não se conformando com a decisão, apelou para o superior tribunal do Estado.
         Dizia o Correio do Povo ter visto dois dos rótulos em questão: eram ambos azuis e brancos, diferindo, porém, nos dizeres e desenhos das fábricas.
         O recurso foi distribuído ao desembargador Tito Prates.

O protesto do Sr. Carlos Ritter & Irmão


    Diante da notícia reproduzida pelo Correio Mercantil, a cervejaria Ritter veio a público dizer que não podia deixar passar tal fato sem um protesto imediato.
       Segundo os Irmãos Ritter, aquela notícia envolvia um plano capcioso, cujo objetivo era uma finalidade oculta, que era o de prevenir o ânimo dos tribunais, que, entretanto, não precisavam de insinuações para o cumprimento da lei.
        Tratava-se da imitação de rótulos “da nossa fábrica”, por outra fábrica da cidade do Rio Grande, imitação, contra a qual eles  haviam dado queixa perante os tribunais competentes, obtendo sentença contra “os nossos defraudadores”.
      Os rótulos da fábrica de Vitorio Gambetta, do Rio Grande, eram perfeitamente iguais aos da Ritter, quanto ao tamanho, à cor e, mais ainda, quanto ao desenho, que era direta e positivamente copiado destes.

Continua...


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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Postagem: Jonas Tenfen

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