(parte 1)
Dentre
os cinemas de Pelotas, da década de 50 em diante, o que mais esteve presente na
minha vida foi, sem dúvida alguma, o Avenida.
Durante
algum tempo,
aquele cinema foi a minha rodoviária,
aeroporto e ferrovia; e seus guichês, o local
onde eu retirava as entradas para viajar pelo mundo. Foi dessa forma que
conheci lugares e gente famosa. Verdadeiros astros, estrelas, mocinhos e
bandidos, estes últimos, mais tarde percebi que não eram tão bandidos quanto
Hollywood os fazia parecer. John Wayne, por ter matado tantos índios maus não teve lugar no meu panteão.
Quando de sua construção, ano de 1927, o
Theatro Avenida viria, segundo a imprensa, preencher uma lacuna existente
naquela parte da cidade, que era a de levar um dos principais - se não o principal
- entretenimento para os moradores daquela região.
A
pedra fundamental e a importância, na época, da construção do Avenida
Aos
21 dias do mês de novembro de 1926, a imprensa noticiava que o esforçado Sr.
Francisco Santos, proprietário do Theatro Apolo e arrendatário do Theatro 7 de
Abril, submetera a aprovação da Diretoria de Obras da Intendência Municipal o
projeto para a edificação de mais uma casa de diversões que teria o nome de
Theatro Avenida, e seria situada à Avenida Bento Gonçalves.
O futuro estabelecimento teria
majestoso aspecto e obedeceria a todos os requisitos exigidos nas modernas
casas daquele gênero, vindo certamente contribuir destacadamente para o
embelezamento da parte da cidade a que iria servir.
As obras do Theatro Avenida estavam
a cargo do conhecido construtor Anacleto Perazzo.
Poucos dias após aquela divulgação,
dia 11 de dezembro de 1926, com a presença de um grande número de pessoas,
apesar de não ter sido em caráter oficial, ocorreu o lançamento da primeira
pedra para a edificação do Theatro, que a empresa Xavier & Santos mandou
levantar em vasto terreno que adquirira â Avenida Bento Gonçalves esquina da
Rua Paysandu [atual Barão de Santa Tecla].
O ato, que decorreu entre o mais franco júbilo
da assistência, teve como padrinhos os jovens Homero Santos e Carlos Xavier,
filhos respectivamente, dos Srs. Francisco Santos e Francisco Vieira Xavier,
diretores da empresa.
Pela planta da bela construção, que
esteve exposta na vitrina da Casa Americana, constatava-se ficar aquela
populosa zona da cidade, atendida por casa de espetáculos de primeira linha,
com o conforto moderno e nas condições indispensáveis para as pessoas que, na
época, tinham de percorrer longo trecho, em busca das casas de “diversões
cinematográficas”.
Com a construção do Avenida,
ficaria preenchida uma grande lacuna, graças a iniciativa da empresa Xavier
& Santos.
A
inauguração da cumeeira do Avenida
Depois de seis meses do
lançamento da pedra fundamental, a empresa Xavier & Santos já pode
inaugurar, dia 14 de maio de 1927, a cumeeira do majestoso Theatro Avenida, que
estava construindo à Avenida Bento Gonçalves esquina da atual Barão de Santa
Tecla.
Seguindo rigorosamente o projeto,
cuja planta esteve por vários meses exposta na vitrina da Casa Americana, a
construção da nova casa de diversões, que assinalaria mais um passo “no
progresso da cidade graças a elogiável iniciativa” da empresa Santos &
Xavier, fora confiada ao hábil construtor Sr. Anacleto Perazzo, sob imediata
direção do Sr. Francisco Vieira Xavier.
Com um número, em média, de 40
operários e a conjugação de muitos esforços, podia-se após tão curto espaço de
tempo, avaliar o que seria, em conforto e beleza, o belo prédio que em muito
iria contribuir para o aformoseamento daquele local.
Edificado em terreno próprio, o
Theatro Avenida media 54 metros de fundo por 24 de largura, tendo o corpo do
edifício 12 metros de altura.
O palco, amplo e confortável, tem a
altura de 17 metros, facilitando a subida dos cenários abertos, o que
economizaria tempo e não inutilizaria o material, tem 9 metros de boca e 15 de
fundo, possuindo 8 camarins de cada lado, em dois andares, servidos por escadas
cômodas e completo serviço de água em cada andar; banheiros, ampla varanda para
a locomoção de cenários.
A plateia, que seria provida de
ótimas poltronas, comportaria 1.600 pessoas, havendo à entrada, sob as
galerias, 7 frisas de cada lado com assentos para 35 pessoas.
As galerias, cobrindo todo o saguão
e parte da plateia, com um piso de concreto, comportariam 650 espectadores
comodamente sentados, ficando ao centro das galerias o aparelho
cinematográfico, instalado em alemã, das fábricas Krupp, o mais aperfeiçoado no
gênero.
A
fachada do prédio, de belo estilo, contém 19 aberturas térreas e 9 superiores.
À
esquerda ficavam as bilheterias, servidas por 3 guichês externos e 2 internos;
a secretaria no segundo piso e a enorme copa, para onde e passava depois de
penetrar no amplo saguão.
À
direita ficava situado um guarda-bengalas, os banheiros da galeria e da
plateia, independentes, toalete para mulheres, a escada de acesso para as
gerais e a porta de saída destas.
A cobertura, de zinco, repousava sobre
sólido vigamento de aço encomendado à firma porto-alegrense Gustavo Hugo, este
sustentado por colunas de ferro colocadas sobre sólidas bases de concreto, sendo
o forro de madeira.
O amplo saguão, que seria ornamentado
moderna e discretamente, ostentava fortes colunas que seriam revestidas de fina
escaiola.
Pensava a empresa Xavier & Santos
inaugurar o Theatro Avenida na segunda quinzena de unho, exibindo um grande
filme.
Visitado
pelo Sr. Dr. Ewbank da Câmara, diretor das Obras Públicas do município, este
funcionário só teve elogios para o novo teatro, já pela competência evidenciada
nessa construção, já pelo excelente serviço sanitário que ia o mesmo sendo dotado.
Comemorando
o fato, a empresa ofereceu naquele sábado, 14 de maio, às 16 horas, um
suculento churrasco regado a chope aos seus operários, tendo para aquele ato
convidado a imprensa e grande número de pessoas amigas.
O
Sr, José Inghes [Júlio José Inghes, fotógrafo pelotense] apanhou vários
aspectos da agradável festa, durante a qual reinou a mais franca alegria e
cordialidade.
Continua...
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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de
Pelotas/CDOV
Foto: Acervo A.F. Monquelat.
Revisão do texto e postagem: Bruna Detoni
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