O jornal A
Discussão, em julho de 1882, sob o título de Trabalhos Fotográficos dizia aos
seus leitores que a arte de Daguerre [Louis Jacques Mandé,(1787-1851)], progressivamente, tinha apresentado
melhoramentos sensíveis. Nos domínios do desenho havia produzido uma revolução,
não só pela rapidez, assim como pela exatidão na reprodução de toda a natureza:
desde obras de arte, até do próprio ente humano.
Nesta cidade,
que primava pelo desenvolvimento intelectual e material em todos os ramos
essenciais da vida social, notava-se com vantagem esse trabalho artístico em um
atelier que não poderia o jornal deixar de apontar ao público, como digno de
toda a procura, em consequência dos melhoramentos que ali observavam, em
harmonia com o que de mais moderno tinha essa arte conquistado na Europa.
Queria o
jornal falar do estabelecimento fotográfico do Sr. Augusto Amorety, à Rua
General neto nº46, onde o observador poderia apreciar os retratos mais bem
acabados e julgar o mérito de suas obras, que mereceram na Exposição
Alemã-Brasileira a medalha de ouro, prova essa excessivamente honrosa para o
distinto fotógrafo.
Não era apenas
uma recomendação que o jornal fazia daquela bem montada oficina fotográfica,
era de toda justiça que dissesse que ali se executavam os mais belos trabalhos
sob a direção do Sr. Amorety.
Em maio de
1885 o Sr. Amorety enviou à exposição de Belas Artes três caixinhas de
“aprimorado gosto”, contendo os retratos da princesa imperial, do Sr. conde
d’Eu e seus filhos.
Estas
fotografias seguiram em um vapor que saiu de Pelotas para a Corte, a fim de
serem oferecidas a S.S. A.A. Imperiais.
Em junho de
1885, o Sr. Amorety, com vistas a angariar recursos em benefício do Asilo de
Mendigos de Pelotas, ofertou uma “bela fotografia” do interior do salão
principal da Bibliotheca Pública Pelotense, onde teve lugar a exposição de
Belas Artes em favor do Asilo.
O Sr. Amorety
foi um dos esforçados cooperadores daquele evento, ocasião em que destinou
algumas de suas fotografias para o Bazar [espécie de brechó].
O jornal A
Discussão, de 30 de setembro de 1885, informava aos seus leitores, que o hábil
fotógrafo residente nesta cidade Sr. Augusto Amorety, estava anunciando por
aquele órgão uma grande redução nos preços de seus trabalhos.
Há tempos
domiciliado nesta cidade, o público reconhecia o mérito do Sr. Amorety, cujos
trabalhos honravam a sua bem montada oficina.
Atualmente,
dizia o jornalista, expunha o Sr. Amorety em sua vitrina retratos de perfeição
inigualável, o que se podia desejar de melhor, aliado as regras de bom gosto.
Uma visita, pois, ao atelier do Sr. Amorety, ou ao menos, à vitrina é o que
recomendava o jornal.
Aos 20 de
novembro de 1886, à noite, inaugurou-se à Rua Andrade Neves nº 102 o novo
atelier do “emérito artista fotógrafo”, o Sr. Augusto Amorety, onde os que o
visitassem poderiam apreciar as grandes reformas e os notáveis melhoramentos
praticados pelo Sr. Amorety. Havia no estabelecimento um elegante boudoir [salão, toucador] para as
senhoras e uma confortável sala de espera, todos forrados de papel e
atapetados.
Todas as
dependências eram amplas e ornamentadas “com todo o luxo e bom gosto”.
Segundo
o Sr. Amorety eram poucas as casas desse gênero no Império e até mesmo em
Paris, montadas com tanto apuro e delicadeza.
As vitrinas
continham grande número de retratos, trabalhados a capricho, que demonstravam a
capacidade artística do Sr. Amorety.
Em março de
1887 o Sr. Amorety informava ao público que, chegara recentemente da Europa o
Sr. Guilherme Johansen, artista da Academia de Belas Artes de São Petersburgo
[Rússia] e, tendo entrado em acordo com o proprietário deste estabelecimento
(Photographia Amorety), o abaixo assinado avisa aos seus fregueses e ao público
em geral que no seu estabelecimento tiram-se retratos a óleo sobre tela,
fotografias de qualquer tamanho, retocadas a óleo, pastel, aquarela, crayon e
tinta china, igual ao melhor trabalho artístico que possa vir de Paris, como o
público poderia verificar pelos trabalhos que se achavam expostos em suas
vitrinas à Rua Andrade Neves nº 102, os quais ficariam em exposição até o dia
21 daquele mês.
Ao final havia
um N.B. com o seguinte teor:
Reproduz-se qualquer retrato nos sistemas acima mencionados, por pequeno que
seja ao tamanho que se desejar.
A galeria do
conceituado profissional Sr. Augusto Amorety, estabelecida no Bazar Musica [que
ficava na Rua 15 de Novembro] foi, em quatro de julho de 1901, aumentada com a
bela coleção de fotografias com que aquele fotógrafo concorrera à Exposição
Estadual.
Aqueles
trabalhos ali permaneceriam por oito dias e eram dignos do apreço público.
A imprensa de
Pelotas anunciava para o dia 15de maio de 1902 um importante leilão, no qual o
Sr. J. M. da Cunha, leiloeiro desta praça, remataria móveis, cristais,
porcelanas, máquinas fotográficas, piano superior e outros bens, tudo
pertencente ao prédio nº 115 da Rua 15 de Novembro, Fotografia Amorety, por
ordem do Sr. Dr. juiz distrital.
O leilão teria
início às 11 horas.
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Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e
acervo de A.F. Monquelat
Revisão do texto e tratamento
de imagem: Bruna Detoni
Bah sr. Adão esse artigo instiga a procurar essas obras; algumas devem ainda se encontrar na cidade, gostaria muito de vê-las... Baita artigo, matou a pau... abrá
ResponderExcluirSempre ouvi falar do Amorety durante a minha infância em razão da admiração que meu pai (que tem como hobby ler e estudar acerca da viação férrea no Estado) pelos registros realizados pelo nobre fotógrafo. Ao ficar adolescente desenvolvi meu hobby também no tocante a história do Brasil, em especial acerca da vida, hábito, posições e importância da família real no brasil, em especial no tocante a Dom Pedro II e sua famíli, e ao adquirir um livro referente ao baú de fotos que Princesa Isabel guardava, haviam alguns registros realizados por Amorety em seu arquivo, em especial a viagem em que acabaram por chegar em Pelotas e posaram junto ao estúdio fotográfico do mesmo, Conde D'eu utilizando vestes típicas do sul. A atmosfera gerada e capturada pela lente desse importante fotógrafo me fascinam até hoje, e em algumas imagens me "sinto" vivendo aquele período.
ResponderExcluirMeu caro Monquelat! Estou fazendo um trabalho sobre antigos fotógrafos de Pelotas e gostaria que alguém me informasse sobre aquele que exercia suas atividades no atual calçadão da rua Andrade Neves, entre Floriano e Sete. Pelo que me consta, o mesmo seria ucraniano ou polonês. Agradeceria a colaboração. Carlos Silveira
ResponderExcluirMeu caro Carlos, me parece que aquele fotógrafo terminou seus dias no Asilo de Mendigos, talvez lá tu obtenhas algo. Lembro muito bem dele, era um sujeito muito reservado.
ResponderExcluirCaro Adão, com o registro da notícia da permanência do Joahansen em Pelotas, dirimiste a dúvida que eu tinha sobre a autoria de um retrato a óleo que adquiri anos atrás, e está sendo restaurado pelo Laboratório de Restauro da UFPel, o qual não está assinado, mas, por semelhança de traço e outros detalhes, eu atribuía a esse artista, após ter visto dois outros retratos da autoria dele que foram leiloados uns anos atrás em Porto Alegre. O retratado é possivelmente avô ou bisavô paterno da Profa. Maria Laura Maciel Alves. Obrigado por sempre nos enriquecer com tua preciosa pesquisa. Grande abraço. Jonas Klug
ResponderExcluirMestre Jonas, grato por tuas gentis palavras. Abração.
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