De
dois cigarros dei cabo,
Fazendo
esta versalhada;
Mas
cigarros da afamada,
Da
popular marca Diabo;
Os
que mais são consumidos
Pelos
fumantes bizarros,
E,
como ouvi de diversos,
São
dados, não vendidos.
Só gosto de ler
bons versos,
Tendo
ao lado bons cigarros...
T.
Em
sessão realizada dia 10 de julho de 1901, à noite, foi lido pela diretoria da
União Gaúcha um ofício encaminhado pelo Sr. João Simões Lopes, no qual era
comunicado àquela instituição que ele iria dar à marca de fumo do
estabelecimento industrial, que estava a instalar nesta cidade, a denominação
de União Gaúcha.
Em
resposta ao ofício, decidiu a diretoria da União Gaúcha agradecer a gentileza
da lembrança do “apreciável” industrialista.
Cremos
que a origem do empreendimento, que Simões Lopes Neto anunciava instalar, fosse
a fábrica de fumos estabelecida há tempo e funcionando com regularidade à Rua
Dr. Pio, na cidade de Rio Grande.
Simões
Lopes deve tê-la adquirido por volta do mês de novembro de 1900 dos Srs. Araújo
Medeiros & Cia. e, logo a seguir, transferido o equipamento para Pelotas.
Em
janeiro de 1901, João Simões & Cia. comunicavam aos seus comitentes e
amigos, que mudaram o seu escritório, da Praça da República [atual Coronel Pedro
Osório], para junto do seu antigo depósito, à Rua Sete de Abril [atual D. Pedro
II] nº 52.
A
fábrica de fumos e cigarros passou a funcionar regularmente em Pelotas, em
agosto de 1901, sob a denominação de Diabo.
O
estabelecimento dividia-se em duas instalações distintas: fábrica, à Rua Independência
[atual Rua Uruguai] nº 73, depósito, e também manufatura à, Rua Sete de Abril
nº 52.
Thomaz,
o Sagaz, em sua coluna intitulada De
Plantão do dia 21 de agosto de 1901 se referindo à nova atividade de Simões
Lopes, diz que todos nós sabíamos que o Bemol, o Sr. Serafim, [referência a um
dos pseudônimos de Simões Lopes] era um notável em diversos misteres...
Entendido
em comércio, em indústria, em administração pública, versado em hipnotismo,
graduado em militância, bacharel no
teatro, maluco pela imprensa, o homem ainda teve tempo para dedicar-se a fumos.
E...
fez o diabo... Nem mais, nem menos...
Agora
mesmo, prosseguia Thomaz, ao deixar sobre a tira aquelas mal traçadas linhas saboreava um adorável caporal da
amostra farta que para a redação mandara o Bemol em latas e pacotinhos de
vários tamanhos e feitios, irrepreensíveis no acondicionamento caprichoso,
preciosos pela qualidade dos produtos que continha.
Os
companheiros aos quais chegou à distribuição do oportuno presente eram unânimes
em elogios às diversas marcas que lhes coube, de onde podiam claramente
concluir que os fumos que fazia o Bemol eram indistintamente de uma qualidade a
toda prova.
Tanto
Thomaz, o colunista, quanto os companheiros não elogiavam mais, porque o
fabricante era capaz de desconfiar.
Que
o fumo era bom, era a mais certa das verdades, e ele estava convencido que,
apesar da sua origem diabólica, o Padre Eterno não arrumaria com outro o seu
secular cachimbo.
Thomaz
encerrava a coluna chamando a atenção dos leitores: “Vejam só que reclame
[propaganda] para o Bemol”.
Concurso de balões como forma de propaganda
O evento ocorreria na festa popular que teria lugar dia 10
de novembro, à noite, na Praça da República e, segundo constava ao jornal, outros
concursos do mesmo gênero ocorreriam.
Com o Diabo na Praça da República
Avultada multidão popular, desde as primeiras horas da noite
do dia 10 de novembro de 1901,afluiu à Praça da República e arredores.
Era profusa a iluminação nos corredores, jardins, a bicos
Auer e lampiões venezianos, numa quantidade inumerável e variedade de copinhos,
lanternas, placas de gelatina, etc., e etc. Nos quarteirões, eram queimados,
seguidamente, fogos de bengala de várias cores.
No chafariz e no lago, havia projeções luminosas.
Pouco depois das 19 horas realizou-se o anunciado concurso
de balões reclame “da importante fábrica de fumos e cigarros marca Diabo”.
Dos quatro (4) balões inscritos, dois retiraram-se. Os dois
que subiram, “aliás, de bonito efeito”, foram ambos desclassificados: o
primeiro, com um lado preto e outro branco, tendo neste bem recortados em
preto, os letreiros e a marca – figura do diabo – caiu pouco adiante.
O segundo balão, realmente bem acabado e que deveria
apresentar o mais vistoso aspecto, ao subir, perfeitamente equilibrado, por um
descuido, deixou ficar em terra, o clou [atrativo principal] do reclame; a
mesma figura diabólica da marca da Fábrica, levando presas diversas engenhosas
lanternas representando exatamente os diversos tipos de pacotinhos dos fumos e
dos cigarros daquela “conhecida e acreditada casa dos Srs. João Simões &
Cia.”.
Foram convidados para juízes o Sr. tenente-coronel Godoy,
despachante Firmo Braga e inspetor Martins.
Queremos aproveitar para dar nossa opinião a respeito da
efemeridade da fábrica, pelo menos tendo Simões como proprietário, que em
hipótese alguma aceitamos a ideia de ter sido em função do boicote da Igreja
Católica aos cigarros, por levarem a marca Diabo. Dentre outros, nos apoiamos no fato de não
haver de forma impressa manifestação alguma neste sentido como, e
principalmente, por ter Simões Lopes vendido a fábrica e a marca, que foi
mantida pelos novos proprietários.
Fontes: Bibliotheca
Pública Pelotense – CDOV – Diário da
Manhã, Pelotas, 07-08-2012, p. 15, A
fábrica Diabo de João Simões & Cia.
Revisão de texto: Jonas
Tenfen
Tratamento de imagem:
Bruna Detoni
Tchê concurso de balões Marca Diabo... Legal o artigo.
ResponderExcluirbem bacana o artigo! a proposito, sou colecionador de carteiras antigas de cigarro; caso alguem tenha material disponivel, favor entrar em contato, pois tenho interesse! Murilo, whatsapp 47 99967-5383
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