A charqueada do Sr. José Bento de Campos Filho estava
localizada à margem direita do Arroio Pelotas.
Havia à entrada duas mangueiras, comportando em cada
quatrocentas reses, o curro e, em seguida, a cancha, grande, de matança, tendo
lugar para 44 carneadores.
À direita, ficavam os varais, em número suficiente para
comportar o charque de mil e tantas reses.
Havia ao lado esquerdo da cancha um tanque de cimento para a
lavagem do sebo.
Ao pé, daquele tanque ficava um poço com 15 palmos de
profundidade.
Em seguida, estava o galpão de charquear, contendo ganchos
para trezentas reses. Este galpão era, segundo descrição da época, enorme, e
nele estavam duas mesas para a salga, nas quais trabalhavam quatro homens.
Ainda no mesmo galpão estava a atafona, de madeira, para moer sal e cabendo ali
em torno de quinze mil alqueires.
Num galpão separado, havia três bons tanques de cimento
sendo, um deles, para as costelas e dois para os couros. Podendo comportar cada
trezentos couros. Ao pé estava a barraca, onde poderiam armazenar de oito a
nove mil couros.
Ao lado direito da cancha, estava um trilho de ferro, que ia
até a graxeira.
Naquele trilho, encontrava-se um carro, puxado por um animal
cavalar, que servia para conduzir os couros, sebo, ossamenta, costelas, etc., para
os respectivos compartimentos, abreviando assim o serviço.
No pátio, tinha sete pilhas de madeira para charque,
assentadas em pilares de cimento.
Na graxeira, havia um bom cilindro, indústria nacional e, em
redor, três tinas para graxa, comportando cada tina gorduras de duzentas a
duzentas e cinquenta reses, e duas para o sebo.
Próximo estava uma bomba aspirante feita em Pelotas, no
Areal, na oficina de Bernardino ferreiro.
Havia ainda duas fornalhas-caldeiras de ferro, para refinar
graxa, comportando cada a graxa de três pipas.
Ao pé, estava o depósito de graxa em bexigas e, fora, o
depósito de sebo em barricas.
A charqueada tinha três trapiches de embarque.
Trabalhavam neste estabelecimento oitenta pessoas, das quais
dez eram livres e, os demais, escravos.
Tinha, para o serviço interno, dez carroças puxadas por um
animal e trinta carrinhos de mão.
No pátio, ficava uma boa casa de moradia, à beira do Arroio
e, em seguida, a senzala, cocheira, cozinha, estrebaria e armazém.
Havia na charqueada uma grande horta, duas quintas e dois
potreiros, dos quais um era demasiadamente grande.
Nesta charqueada, havia um animal cavalar, de raça, e seis
animais vacuns.
O que não se
aproveitava dos produtos bovinos era vendido à fábrica de guano do Sr.
Elst.
Todo o serviço da charqueada era fiscalizado pelo Sr. Jose
Bento de Campos Filho.
O serviço era “bem dividido não sendo demasiadamente
pesado”, segundo palavras de um jornalista, que esteve em visita à charqueada,
e acrescentou ainda, em 1884, que ali na charqueada do Sr. Campos Filho, “ a
escravatura era bem tratada”.
Pois, este mesmo jornalista é o autor de uma notícia
veiculada em 10 de outubro de 1878, na qual era dito que tendo a senhora do Sr.
J. Bento de Campos Filho, mandado à cidade um seu escravo, octogenário, vender
quitanda e voltando este a casa depois da tarefa, com cinco patacas de menos,
foi por seu senhor mandado estaquear e depois surrado até exalar o último
suspiro.
Prosseguindo a notícia, dizia o jornalista que, entretanto,
são estes os homens que se dizem da ordem.
E concluindo: “Por cinco patacas de pão, já se assassina
nesta terra...”.
Bento Campos e o
hediondo crime contra o pardo Vicente
Este mesmo charqueador, Sr. José Bento de Campos Filho, foi
o responsável, no ano de 1882, por um dos crimes mais hediondos praticados em
Pelotas, contra a vida de um escravo.
O fato, sucintamente, ocorreu da seguinte maneira: em
janeiro de 1882, o pardo Vicente, escravo da charqueada do Sr. Bento de Campos
Filho, foi visto por algumas pessoas, vindas da Serra dos Tapes, depois de se
ter evadido do tronco em que se achava preso, na charqueada de seu senhor, por
haver fugado.
Informações do dia 30 daquele mês de janeiro davam conta de
que Vicente fora visto, depois de ter passado pelo Arroio Corrientes, a caminho
de São Lourenço.
Atrás do pardo, havia muitas pessoas. Vicente jurara
vingar-se daqueles que o haviam anteriormente capturado.
Capturado novamente, Vicente foi posto outra vez no tronco e
ali espancado brutalmente, por ordem de seu senhor.
Segundo alguns órgãos da
imprensa, na época, Vicente teria sido açoitado em torno de 1.000 vezes, o que,
como consequência, poucos dias depois do ocorrido, agosto de 1882, veio a
falecer.
A morte do Sr. José Bento de Campos Filho ocorreu, em
Pelotas, no mês de setembro de l890.
Fonte de consulta: Bibliotheca
Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
Tratamento de imagem:
Bruna Detoni
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