quarta-feira, 6 de março de 2019

Os bondes elétricos em Pelotas (parte 2, e final)

Os bondes elétricos em Pelotas (parte 2, e final)

A.F. Monquelat

O Alegre Passeio de Bonde

Anunciando a inauguração

Dia 19 de outubro de 1915, os Srs. Buxton, Olditch & C., de acordo com os convites já distribuídos, comunicavam que a inauguração definitiva dos bondes elétricos ocorreria no dia seguinte, 20 daquele mesmo mês, às 14 horas.
A comitiva sairia da Intendência Municipal e seguiria pelas ruas 15 de Novembro e Marechal Floriano até a Usina Elétrica, onde teria lugar o ato inaugural.
Uma vez terminado esse ato, a comitiva embarcaria novamente nos bondes fazendo o trajeto da Usina pela Estrada de Ferro e rua 7 de Abril [D. Pedro II], até o porto, voltando à Intendência onde se dispersaria.
Isso realizado, os bondes começariam a trafegar para o serviço público na linha da praça da República ao Porto, enquanto não ficasse concluída a construção do cruzamento das linhas na esquina da 15 de Novembro e 7 de Abril, que deveria levar uns dois ou mais dias.
        Os bondes sairiam da Praça e do Porto, a cada sete minutos.
Oportunamente seria publicado o horário definitivo das duas linhas.
Para facilitar aos Srs. Passageiros e o serviço do pessoal dos bondes elétricos, a Empresa resolvera oferecer ao público cadernetas de Bilhetes de Troco de 200 e 100 réis (que se encontravam à venda no Escritório à rua Marechal Floriano nº 54) os quais seriam apresentados aos condutores dos bondes em troco por bilhetes de passagem de igual valor. Os 200 réis correspondiam às passagens ordinárias, e os de 100 réis para os colegiais.
As cadernetas de colegiais vendidas até então, para viajar nos bondes à Tração Animal, seriam válidas também para os bondes elétricos até  se esgotarem.
A empresa Light & Power lembrava ao público que, de acordo com as condições de seu contrato (cláusula 21), os bondes parariam para subir ou descida passageiros, unicamente nas esquinas das ruas e pedia ao público, para o bom serviço e conservação do horário, não demorar em subir ou descer dos bondes.

A inauguração

O dia 20 de outubro de 1915, em Pelotas, foi um dia de festa para a população, que se movimentou euforicamente até altas horas da noite, realizada por ver materializada a antiga aspiração de possuir um serviço de bondes elétricos.
A inauguração desse serviço, conforme estava previsto, realizou-se naquele dia às 14 horas, na presença de mais de 4.000 pessoas.
Àquela hora já estavam no vestíbulo da Intendência municipal, além dos componentes da empresa Buxton, Olditch & C., construtora da linha de bondes elétricos, as altas autoridades administrativas da cidade, representantes da imprensa, profissionais liberais, capitalistas e comerciantes, convidados para assistir à inauguração da linha de bondes elétricos.
Entre as pessoas presentes, se encontrava o Dr. Cypriano Barcellos, intendente municipal, Dr. José Barbosa Gonçalves, ex-intendente e quem abriu licitação para a construção das linhas de bondes, e dezenas de outras pessoas representando os mais diversos segmentos da sociedade pelotense.
Todas as imediações da intendência e da praça da República estavam repletas de povo.
Em frente ao paço municipal, estavam estacionados quatro bondes elétricos, o primeiro dos quais vistosamente ornamentado com flores e bandeiras de várias nacionalidades.
A convite do Sr. Coronel Emílio Guillayn e do representante da firma Buxton, Olditch & C., tomaram lugar, no bonde da frente, os Srs.
        Cypriano Barcellos, intendente, Coronel Pedro Osório, Dr. José Barbosa Gonçalves, Dr. Joaquim Augusto de Assumpção e outras pessoas “altamente representativas”.
Os outros bondes foram ocupados pelos demais convidados.
Depois dos preparativos necessários, puseram-se em marcha os veículos, sob aclamações da multidão, seguindo pela rua 15 de Novembro até a rua 3 de Maio, de onde deram volta para entrar na 7 de Abril, Vieira Pimenta, avenida Vinte de Setembro, até a Usina Elétrica.
Ali, desceram todos os convidados, para dar início ao ato de inauguração.
Bonde dois andares

Aos presentes, foi servida uma taça de champagne, tendo nessa ocasião o Sr. Coronel Emílio Guillayn feito uso da palavra, dando por inaugurado o tráfego de bondes em Pelotas.
Seguiu-se com a palavra, o major Luiz Pennafiel, em nome do Dr. Intendente municipal. Depois  o Capitão João Simões Lopes Neto, diretor do Correio Mercantil, em nome da imprensa local e que encerrou saudando o Coronel Emílio Guillayn.
Falou também o Dr. José Barbosa Gonçalves, que saudou ao coronel Pedro Osório, como um dos mais fortes esteios de todos os melhoramentos de Pelotas.
A seguir, todos os presentes voltaram a tomar lugar nos bondes, que seguiram pela Avenida 20 de Setembro, praça Rio Branco, ruas Vieira Pimenta, 7 de Abril, 15 de Novembro, Benjamin Constant, José do Patrocínio e praça Domingos Rodrigues, no porto da cidade, de onde regressaram pelo mesmo trajeto até a Intendência, onde se dispersou a comitiva, depois de terem os presentes cumprimentado o representante da firma Buxton, Olditch & C., o Dr. Cypriano Barcellos, o Dr. José Barbosa Gonçalves e o Coronel Emílio Guillayn.
Por todos os lugares que os elétricos passavam, era geral a admiração.
Depois, foram os quatro carros entregues ao tráfego público, sendo os lugares nos bondes disputados com verdadeira ânsia, até depois da meia-noite, pela multidão de homens e mulheres, que até àquela hora ainda se encontravam nas imediações da praça da República.
Os bondes elétricos entregues ao tráfego eram elegantes, confortáveis, e bastante iluminados.
Os motorneiros, fiscais e condutores apresentaram-se fardados com uniforme cinzento.
A usina estava toda embandeirada.
Durante o ato da inauguração, o fotógrafo Sr. Clemente Schintich bateu várias fotografias do evento.
Os industrialistas Srs. M. Fagundes & C., proprietários da fábrica de fumos S. Manoel, ofereceram às pessoas presentes à inauguração volumosas amostra do fumo Peruano e Java.
Foram vendidas, no dia da inauguração, 3.794 passagens, no total de 758$800.
No dia seguinte, trafegaram dois bondes para o porto e um para a estrada de ferro, de 15 em 15 minutos.

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: Acervo da Bibliotheca Pública Pelotense e de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

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