quarta-feira, 13 de março de 2019

Os 4 chafarizes de Pelotas e seus destinos

Os 4 chafarizes de Pelotas e seus destinos


A. F. Monquelat


1°, dos quatro chafarizes, a ser inaugurado

Já faz algum tempo desde a última vez que falei sobre algum ou até mesmo sobre os quatro chafarizes instalados em Pelotas no século XIX pela Companhia Hidráulica Pelotense. 
Para que não haja dúvidas quanto a ter sido quatro e não três, os quais, por enquanto ainda se vê pela cidade, os chafarizes instalados pela Companhia Hidráulica Pelotense, damos aqui a localização destes quando do ato de instalação, suas mudanças de local e até mesmo o sumiço de um deles:
Baseado em notícia veiculada no Jornal do Comércio de 22 de julho de 1873, acreditamos que o primeiro chafariz a ser instalado na cidade de Pelotas foi o da praça da Igreja ou praça da Matriz , atualmente, praça José Bonifácio.
Em matéria posterior, ficamos sabendo que três chafarizes estavam assentados nos três primeiros pontos da cidade, e, “em breve”, o mesmo se fará ao quarto, logo que a câmara municipal tenha feito determinar o lugar conveniente.
Domingo, 05 de abril de 1874, como estava anunciado, teve lugar, na cidade de Pelotas, a inauguração das obras da companhia Hidráulica Pelotense.
2°, dos quatro chafarizes, a ser inaugurado

A câmara municipal, diretoria da Hidráulica e muitos dos convidados foram ao porto de Pelotas, que estava todo enfeitado, bem como o pequeno “mas lindo chafariz que estava coberto de flores, bandeiras e galhardetes”.
O chafariz recebeu a bênção do vigário da “freguesia”, Sr. Dr. Canabarro. 
Depois de que algumas girândolas de foguetes subiram ao ar, e saudações festivas anunciaram a inauguração do monumento e melhoramento “que orna o já tão próspero porto de Pelotas”.

Logo em seguida, foram todos à praça da Matriz, onde teve lugar as mesmas cerimônias da bênção de um outro chafariz, repicando naquela ocasião todos os sinos da igreja.

Finalmente, com imenso público, procederam à bênção do chafariz da praça Pedro II, “que é um verdadeiro objeto de arte e gosto”.
3°, dos quatro chafarizes, a ser inaugurado

Segundo palavras do jornalista que descreveu o ato: os chafarizes, de bronze, “são elegantes; principalmente o da praça Pedro II, em que quatro cavalos, que ornam a segunda bacia, atraem as vistas para a sua posição, e porque sobre eles a água espadana em mil gotas, que brilham aos raios do sol”.
Ali, o empresário Hygino Durão, querendo que o ato solene e que uma população inteira aplaudisse, alguém a quem pudesse ligar a mais grata lembrança, escolheu a três de seus escravos e concedeu-lhes a liberdade.
Depositadas as cartas em mãos do Sr. Machado Filho, este logo as leu em alta voz, e todos os presentes bateram palmas pela inesperada surpresa, “e que tão fundo devia calar no ânimo popular”.

O quarto chafariz

Aos dezesseis dias do mês de março de 1876, “finalmente” teve lugar a sessão extraordinária da Câmara Municipal, sob a presidência do sr. Urbano Martins Garcia, na qual foram lidos alguns ofícios enviados à Câmara, dentre esses o da Companhia Hidráulica Pelotense, “cientificando, que não sendo possível a colocação do 4º chafariz na praça da Constituição, além da ponte do Santa Bárbara [quase em frente ao atual prédio da Receita Federal], ela resolveu, para terminar delongas, comprar um terreno na rua S. Miguel [15 de Novembro], fazendo esquina, ao Sul, pela rua Sto. Inácio [Gomes Carneiro], onde poderá ser colocado o 4º chafariz, caso o ponto indicado mereça a aprovação da Ilma. Câmara Municipal”.

4°, dos quatro chafarizes, a ser inaugurado
Para que não pairem dúvidas e venha a pensar o leitor ser este 4º chafariz o “sumido”, é necessário informar que por ter sido o último dos quatro a chegar e ser instalado, todas as referências feitas a ele pela Imprensa da época foram as de o 4º chafariz. O “sumido”,porém, é outro.
O “sumido” é o chafariz instalado na Praça da Matriz [atual José Bonifácio] por volta de meados do ano de 1873, segundo o Jornal do Comércio de 22 de julho daquele mesmo ano, e que, segundo a imprensa da cidade, estava servindo de:

Lavadouro público

A Opinião Pública de 20 de março de 1914, relembrando matéria anterior publicada em outro jornal da cidade, na qual era denunciado o fato de se achar esburacada a bacia que circundava o chafariz da Catedral e de onde a água vazava em grande quantidade, alagando a Praça 15 de Novembro , acrescentava outra denúncia: a de que, diariamente, ali ia um senhor leiteiro que, sem a menor cerimônia, entregava-se à lavagem das “respectivas folhas [?]”, estendendo nas grades do chafariz os panos com os quais enxugava as mesmas.
O povo que passava por ali gozava com o espetáculo de ver o chafariz transformado em lavadouro público.
Reclamação atendida
No dia seguinte, o jornal folgava de registrar que o Sr. capitão Francisco de Jesus Vernetti, atendendo a reclamação feita de estar o chafariz da Catedral sendo transformado em lavadouro por um leiteiro, mandara para aquele local um guarda da polícia administrativa, a fim de evitar o abuso.
Entendia o jornalista ser digno de elogios a atitude daquela autoridade.

O Sumiço

O início da demolição do chafariz ocorreu no dia 14 de dezembro de 1914, e, dali, na época Praça 15 de Novembro, deveria ter sido levado para a Praça Júlio de Castilhos. O que não aconteceu, pois o chafariz sumiu. Escafedeu-se, e nunca mais dele tivemos notícia alguma.
É possível, dado os meios de transporte da época, que ainda esteja a caminho... 

De volta ao 4º chafariz 

 Retornando ao chafariz que esteve instalado e funcionando no local onde hoje se encontra o Corpo de Bombeiros de Pelotas, 15 de Novembro esquina Gomes Carneiro, dali foi levado para a Praça Cipriano Barcelos, sem ter a menor ideia do triste destino que o esperava: — longe dos olhos, longe da conservação; estando a correr o risco da completa destruição.
Ainda que suficientemente documentada a existência do 4º chafariz — maneira que a imprensa da época tratou – não é por demais trazer aqui outra prova cabal de sua instalação e funcionamento. Para tanto, valemo-nos desta vez de uma coluna publicada quase que diariamente no jornal A Opinião Pública, intitulada Notas do Dia, assinada por alguém que se denominava Vitú. 
Na coluna ou Notas do Dia de 28 de junho de 1901, diz Vitú que, por não dispor de espaço para as suas amolações, se limitaria a reclamar da Intendência ou da Hydraulica o indispensável tapamento, por meio de grades, do terreno em que se achava o chafariz “da Rua 15 de Novembro, esquina Gomes Carneiro”.
Segundo o colunista, aquele terreno não poderia continuar aberto não só porque aquilo contrariava as Posturas Municipais, como também estava o local transformado em “imensa e repugnante cloaca de quanto vagabundo infesta as ruas”. 
E prosseguia Vitú dizendo que no recanto por trás do chafariz havia tanta imundície que assombrava: era um flagelo para os vizinhos.
Concluindo, pedia o jornalista Arthur Oswald Hameister — que foi quem usou por longos anos o pseudônimo de Vitú — a atenção do Dr. Intendente, de quem se esperava uma medida que correspondesse aos interesses de todos os prejudicados.
Vai daí que dia 4 de setembro de 1910, era noticiado que começara, no dia anterior, a ser desmontado o chafariz à rua 15 de Novembro, esquina General Gomes Carneiro e que seria  transferido para a praça Marechal Floriano [Cipriano Barcelos], coitado, sem saber o que viria e vem lhe acontecendo...
  E, pasmem!, dizia a mesma notícia que seria removido também o chafariz da praça da República [Pedro Osório] para a Júlio de Castilhos.
Na praça da República “será construído o Theatro Municipal,...”, assunto que tratarei em outra oportunidade.
Já o chafariz da Praça Domingos Rodrigues, o primeiro a ser inaugurado e receber a benção do Sr. Dr. Canabarro naquela tarde de domingo, dia 05 de abril de 1874, tarde em que o porto de Pelotas esteve todo enfeitado, bem como o pequeno “mas lindo chafariz que estava coberto de flores, bandeiras e galhardetes”, teve melhor sorte ao sair do porto da cidade e vir para o Calçadão da Rua Andrade Neves. Teve mesmo melhor sorte? 

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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense e arquivo de A.F. Monquelat
Imagens: acervo de Luiz Roberto Cruz Pinto da Conceição e A. F. Monquelat
Revisão do texto e postagem: Jonas Tenfen

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