quarta-feira, 20 de março de 2019

Hotel Gotuzzo, Pelotas

Hotel Gotuzzo, Pelotas


                                               A.F. Monquelat

Anúncio de um novo hotel em Pelotas

Dizia o jornal O Libertador de 22 de janeiro de 1926 que Pelotas seria dotada de mais um confortável hotel, instalado com todos os requisitos de higiene e dirigido diretamente pelo seu proprietário, com auxiliares competentes.
Queria o jornal se referir ao Hotel Gotuzzo, que seria inaugurado até o dia 15 do próximo mês, no vasto prédio à rua Andrade Neves, esquina da Voluntários.
O seu proprietário, Sr. Haroldo Gotuzzo, já havia adquirido todas as cobertas de mesa, louça de granito, material para a copa, de christofle, e móveis modernos da fábrica Patzer.
O novo hotel conteria 25 quartos com água encanada, revestidos todos de todo o conforto, sendo maitre o Sr. José Orlandi, o que, por si só, segundo o jornalista, já era uma recomendação.
Quanto à prática do seu proprietário, no ramo, era dispensável qualquer referência de tão conhecido que ele era, não somente dos clientes desta cidade, como dos forasteiros em geral.

As reformas do hotel

Em fevereiro de 1926, continuavam em atividade os trabalhos de adaptação do “vasto prédio” da rua Andrade Neves, esquina Voluntários, para nele ser instalado o novo Hotel Gotuzzo, do Sr. Haroldo Gotuzzo.
Os trabalhos estavam confiados à competência dos hábeis construtores Srs. Rodrigues & Cia, o que, por si só, era uma recomendação.
Assim, segundo o jornalista, dentro em breve, teria a cidade mais um estabelecimento de 1ª ordem, para o qual não tinha poupado esforços o seu proprietário.

A inauguração do hotel

No confortável prédio da rua Andrade Neves, esquina da rua Voluntários, tendo-se ali feito grandes reformas, visando melhoramentos e pinturas, foi, no sábado, dia 20 de março de 1926, inaugurado o novo Hotel Gotuzzo.
Logo à entrada, destacava-se um rico mobiliário de louro, cabides, uma porta-restante para cartas, livro de registro de passageiros e etc.
Via-se, em seguida, amplos e bem ventilados quartos para casal, como mobiliários da Casa Patzer; camas de ferro da fábrica Walding & Cia., de Porto Alegre e fornecidas pela casa de ferragens Behrensdorf, de Pelotas; eletricidade e acessórios fornecidos pela casa Buxton Guilayn; talheres christofle da casa Levy Frank & Cia.
Todos os quartos eram servidos por luz direta, belos e espaçosos. A cozinha, de primeira ordem, a cargo dos Srs. Honofre Teixeira e João Porto Alegre.
Tinha ótimos banheiros, tanto os masculinos quanto os femininos.
O novo hotel obedecia às mais modernas regras da higiene e tinha como gerente o Sr. José Orlandi.
Era uma casa de primeira ordem com vinte e tantos quartos, amplo salão de refeições estando dotada de todos os meios necessários para alcançar à altura a que tinha direito.
Ao seu proprietário, O Libertador desejava prosperidade.

A inauguração vista pelo A Opinião Pública

Com a inauguração, dia 20, do modelar Hotel Gotuzzo, Pelotas via-se servida de mais um fator preponderante de seu crescente progresso.
Tratava-se de um estabelecimento que, pelas condições em que estava montado, tornava-se um dos mais bem aparelhados, com todos os preceitos de higiene e conforto.
Seus inúmeros aposentos, para solteiros ou casal, providos de lindos móveis, lavatórios especiais, com luz direta e outras condições, eram as principais características de um estabelecimento moderno.
Nos apartamentos de banho e cozinha, verificava-se a preocupação de seu proprietário em corresponder às exigências mais indispensáveis do ramo.
Na inauguração, à noite, na sala de refeições, o Sr. Haroldo Gotuzzo, ofereceu à imprensa e demais convidados uma farta mesa de frios e líquidos, onde foram feitas várias saudações.
Ao novo estabelecimento, o jornal desejava prosperidade.

O Sr. Gotuzzo adquire o Hotel Roma

Em meados de abril de 1927, dando mostras de que havia prosperado, o Sr. Gotuzzo, proprietário do “conceituado Hotel Gotuzzo”, acabava de adquirir o Hotel Roma, situado à rua Andrade Neves, ao lado do Congresso Português [atual Centro Português] e distante daquele meia quadra.
Esse novo hotel funcionaria como anexo do Hotel, que ficaria dispondo, assim, de 45 quartos.
O Hotel Roma iria em seguida ser reformado completamente, sendo inclusive dotado de novo mobiliário, mais confortável.
Assim sendo, ficaria o Hotel Gotuzzo melhor aparelhado para atender o número sempre crescente de hóspedes que procuravam aquele conceituado estabelecimento.
Procurando obter informações sobre o Hotel Roma, encontramos tão somente uma ocorrência policial da década de 1880, na qual era dito que: por volta das sete horas da noite do dia 18 de maio de 1885, o súdito italiano Nicolau de tal, ex-proprietário do Hotel Roma, disparou em seu compatriota Severo Bannaro, mudo, estabelecido com sapataria à Rua General Osório, um tiro de revólver, atravessando o projétil o pulso de Severo e indo penetrar-lhe no peito, onde não foi extraído.
Chamado imediatamente o médico para primeiros socorros, Dr. Gervásio, este declarou tratar-se de ferimento grave.
A causa do crime, segundo o jornal Rio-Grandense, fora o jogo.
Poucos minutos antes, Nicolau e Severo jogavam em uma taverna na Rua Santa Bárbara [atual Marechal Deodoro] e, no calor do jogo, quase haviam chegado a vias de fato.
Severo se retirou e chegou à sua casa antes do agressor o alcançar.
Nicolau, instigado por castigar a mímica hostil de seu parceiro, chegou à porta do mudo e disse a um oficial [auxiliar de sapateiro] do mesmo que o fosse chamar.
O auxiliar de Severo foi chamá-lo, fazendo sinal que Nicolau empunhava um revólver, o que parece não ter sido entendido pelo mudo.
Dirigindo-se à sala, com uma vela na mão direita, ao aproximar-se de Nicolau, recebeu a queima roupa o tiro.
Após o crime Nicolau deitou a correr em direção à Rua Santa Bárbara, sendo perseguido pelo Sr. alferes Nuno de Macedo e por grande número de pessoas que logo se reuniram.
Quando Nicolau já ia sendo agarrado pelo alferes Macedo, entrou bruscamente na casa do Sr. Paulino Leite, escondendo-se dentro de um guarda-roupa.
A família, assustada, abandonou a casa.
O Sr. Nuno não tendo autoridade e não podendo, portanto, invadir a casa em que o assassino havia se refugiado, procedeu como lhe competia: pediu ao povo que a vigiasse, enquanto ia dar providências para a captura do criminoso.
Correu à polícia e ali encontrou o subdelegado Sr. tenente Ribas, que, acompanhado de algumas praças, dirigiu-se imediatamente ao local onde estava Nicolau e efetuou a prisão.
Voltando ao Hotel Gotuzzo:

Reunião de intelectuais no hotel

Segundo a imprensa, dia 1º de junho de 1927, entre as expansões da maior cordialidade ocorreu o almoço promovido por iniciativa do coronel Tancredo de Mello, colaborador do Diário Popular, e um estudioso dos assuntos históricos, em especial da história da imprensa do Rio Grande do Sul.
O almoço foi presidido pelo Dr. Augusto Simões Lopes, Intendente do município de Pelotas.
Ao champanhe, falou o coronel Tancredo, brindando a imprensa nas pessoas que ali representávamos jornais da cidade.
Em nome da imprensa, falou o diretor do Diário Popular, Dr. Jorge Salis Goulart que, referindo-se à pessoa do coronel Tancredo Fernandes de Mello, nele brindando aos verdadeiros amigos da imprensa.
Delegado por todos os presentes, o Dr. Victor Russomano, representante do jornal A Opinião Pública, saudou o Intendente municipal e a imprensa pelotense.
Por último, o intelectual Aristides Bittencourt, falou em nome do jornal Templário [jornal maçônico], que brindou o coronel Tancredo.
Depois de alguns comentários e sugestão para a criação de uma sociedade de letras nesta cidade, o Dr. Jorge Salis Goulart lançou a ideia da fundação de uma sociedade de estímulo às letras, visando a publicação de obras literárias entre outras.
Pouco tempo depois, o Hotel Gotuzzo desaparece e surge, no mesmo local,o Hotel Lagache,  assunto que trataremos em outra oportunidade.

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

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