quarta-feira, 14 de novembro de 2018

O coqueiro da Casa Scholberg e outros coqueiros

O coqueiro da Casa Scholberg e outros coqueiros

A.F. Monquelat
Colégio Gonzaga

        A atual Rua General Neto em seus primórdios, pelos idos de 1815 a 1835, provavelmente tenha sido chamada pelo nome de Rua Coqueiro, passando a partir de 1835, a ser denominada de Rua da Palma. Seja lá como esta mudança de nome tenha se dado, pode-se dizer que se trata de uma clara alusão à existência, àquela época, de um ou mais coqueiros na rua central da cidade.
Meados de março de 1885, quase todos, senão todos os jornais da cidade, noticiaram um fato inusitado ocorrido em Pelotas: a morte de antigo coqueiro, tendo como causa o efeito da explosão de três bananas de dinamite, e, como autores os niilistas da cidade.
A vítima, para alguns de idade quase centenária e para outros contando poucas décadas, era moradora à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] esquina com Sete de Setembro e servia de referência ao estabelecimento comercial do Sr. Sampaio [fundador da célebre loja Bule Monstro], tratado com todo o cuidado pelos moradores da quadra, que após o desaparecimento do coqueiro da esquina, sentiram muito a sua falta sem deixar de amaldiçoarem os autores daquele ato vandálico.
Examinado foi o corpo da vítima, a polícia local se pôs no encalço dos autores do atentado sem conseguir detê-los. Foi constatado que o tronco do finado coqueiro havia sido minado, em parte, onde introduziram três bananas de dinamite, cujo uso era bastante comum na época apesar das restrições impostas pela câmara municipal, prendendo fogo por meio de um comprido estopim.
Os coqueiros, ao que tudo indica, sempre estiveram presentes na paisagem e, em especial, em muitas das esquinas da cidade.
Outro, e centenário, coqueiro da cidade, cantado em prosa e verso por algumas gerações de conzagueanos, era o da esquina do Colégio Gonzaga, dali removido no ano de 1954 pela prefeitura, porque este, dada a sua desafiadora inclinação, tal qual a Torre de Pisa, punha em risco não somente os veículos que por ali transitassem bem como os transeuntes, incluindo os estudantes da própria instituição de ensino.
Há indícios de que, em frente ao antigo sobrado do Barão de Correntes [Felisberto Inácio da Cunha, 1824-1896], havia um centenário coqueiro. Em virtude do violento temporal que se abateu sobre a cidade entre os dias 19 e 20 de setembro do ano de 1934, causando enormes prejuízos, dentre esses o tombamento das inúmeras árvores provocou o desaparecimento do centenário coqueiro.
No entanto, que saibamos, nenhum outro coqueiro elevou tão longe o nome da cidade de Pelotas quanto o coqueiro localizado à frente da Casa Scholberg, rua Andrade Neves esquina rua Sete de setembro, coqueiro esse que serviu como marca registrada não somente para o próprio estabelecimento comercial, quanto para ser usado como a imagem gravada, nos artigos desta célebre casa.
Fundada em 1850, a famosa casa Scholberg teve como primeiro proprietário o Sr. Vicin Laport; com a morte deste, a razão social passou a ser Viúva Laport & Irmão.
Durante muitos anos, a casa Scholberg foi dirigida pelo Sr. Alexandre Gadret.
No decorrer dos anos de funcionamento da Scholberg, sucederam-se as firmas Scolberg & Gadet; Scholberg, Joucla & Silva e Scholberg & Joucla.
Em novembro de 1888, era noticiado que no dia 17 daquele mesmo mês estaria reabrindo para o público a grande e importante fábrica de armas de fogo e instrumentos cirúrgicos dos Srs. Scholberg, Joucla e Silva, que fora transferida para o novo prédio, situado à Rua Sete de Setembro, esquina da Andrade Neves.

Nova inauguração da “Casa Scholberg”

No vasto prédio, à Rua 7 de Setembro, esquina da Andrade Neves, onde estivera o Banco do Brasil, dar-se-ia, dia 3 de outubro de 1926, a inauguração, da antiga “Casa Scholberg”.
O prédio para o qual se mudara a “Casa Scholberg”, a fim de poder ser adaptado às necessidades desta, recebera importantes obras, que o tornara um edifício à altura dos créditos da conhecida casa comercial.
Para que a tradição não sofresse solução de continuidade, à esquina foi plantado majestoso coqueiro, emblema e divisa da “Casa Scholberg”. Mas este coqueiro já é outro, e tem ele outra história, a qual de momento não vem ao caso.
. O coqueiro anterior, existente no endereço confronte onde, na parte superior do prédio desde 1888 funcionou na parte térrea a Casa Scholberg, e na parte superior o Hotel Grindler fundado em 1897 pelo Sr. Carlos Grindler, é o coqueiro que foi vitimado pelo forte temporal que assolou a cidade na noite de 11 para 12 de junho de 1927, para o qual, em sua memória foram feitos os seguintes versos, pelo Sr. P. A. Luz e dedicados ao Sr. capitão Silvino Joaquim Lopes, na época um dos sócios da Scholberg:

Velho Coqueiro
Tu me perguntas a história
Daquele triste coqueiro,
Que sempre viste altaneiro
Na esquina do “Joucla”,

Pois bem, resumidamente,
Vou contar de uma só vez
O que me disse um veterano
Há pouco menos de um mês;

Transportado para ali
O nosso protagonista.
Era ainda um pigmeu.
Com tamanho igual ao teu, 
De lindos ramos contido
Quando a terra ele desceu
Quando a terra ele desceu, 
Debaixo de um alarido...

Assistiu seu plantamento
Um preto de idade avançada,
Que passava no momento,
Cheio de vida e ardor,
Trazendo a mão enlaçada
Na do pretinho seu filho,
Por alcunha “ferrador”;

E debaixo do ajuntamento
Do povo que então estacava,
Era com o acatamento
Daquela gente que olhava,
Metido em funda cova
Na esquina que aludi,
Um filhote de coqueiro, 
Com saúde a toda prova;

E sobre os transtornos do tempo,
Foi crescendo, pouco a pouco,
Dia e noite foi crescendo
De verdejantes repleto
Até que a natureza,
Com sua vasta realeza,
Com sua vasta realeza, 
O aumentou por completo.

Assim, viveu muitos anos, 
Sempre alegre e admirado
Por todos que ali passava,
Até que ultimamente, 
Com a mudança do negócio
Ficou o pobrezinho,
Para a esquina em frente,
Triste...só...abandonado...

Numa tarde, tarde horrenda,
Onze de junho lembrada,
Caiu sobre a cidade
Vento e chuva em rajada;
E, no outro dia mui cedo,
Embora o frio que fazia,
Saindo a ver os destroços
Me dirigi para lá;
E qual não foi a surpresa,
Ao deparar na valeta, 
Que sobre o pé da sarjeta
Um corpo rolava já!...

Aí tens a história que pedes
Do coqueiro do “Joucla”.


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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

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