No
rastro do Cabaré Balalaika
(parte
1)
A.
F.
Monquelat
Certa
feita, caminhando pelas ruas da cidade, acompanhado do meu pai, a certa altura
de uma das ruas, quase esquina da Rua Marechal Floriano, ele me fez parar e
olhar para cima, onde havia um sobrado, falando logo em seguida: “Ali ficava o
famoso Balalaika”, e não disse mais nada. Foi a primeira vez que ouvi tal nome.
As caminhadas com ele me foram bastante proveitosas e delas até hoje sinto falta,
pois, através dessas, muito aprendi sobre diversas coisas e fatos da cidade. Na
verdade, dizer que eu caminhava com meu pai é de certa forma um eufemismo, uma
maneira de dizer que eu troteava ao lado dele, quem sabe até seja melhor dizer
que eu troteava atrás dele tentando acompanhá-lo.
Meu pai não tinha passadas longas, mas caminhava muito
rápido, tentar andar ao seu lado era quase impossível, e não raras vezes eu
ficava para trás.
Com meu pai aprendi muitas coisas, dentre elas a gostar de
corridas de cavalos e, por muitas vezes fui com ele ao hipódromo da Tablada
onde ele me ensinou como apostar nas corridas, isso somente depois de “estudar”
alguns detalhes importantes no programa, tanto sobre o jóquei quanto o cavalo.
Dicas essas que se não nos davam certeza de ganhar auxiliavam em pelo menos não
errar muito feio. Ao hipódromo íamos de ônibus e de a pé; também, uma vez por
semana eu acompanhava o meu pai até a sede do Jockey Club, na Rua Sete de
Setembro, aonde ele ia para apanhar o Programa das corridas e conversar com
amigos dele, turfistas. Com o programa em mãos, descíamos a escadaria e, ao
lado da sede, entravamos no Café Derby onde meu pai sentava com amigos ou
conhecidos para conversarem sobre “carreiras” passadas e as “barbadas” para as
próximas, acrescidas essas, ou não, de informações de cocheira, que nem sempre
aconteciam.
Minha primeira ida ao porto da cidade foi também com meu
pai, pois, uma vez por mês, pelo menos, ele ia até a Alfândega, que algumas
pessoas, não poucas, chamavam de Mesa de Rendas, que ficava no porto. Íamos de
Lotação, como eram chamados os carros que faziam a linha centro-porto e
vice-versa. Tais conduções, que ficavam estacionadas defronte ao Índio da
Sorte, uma espécie de casa lotérica. Localizada entre a Praça Coronel Pedro
Osório e o Beco da Bibliotheca Pública, pouco conhecido como Travessa Conde de
Piratini. Dali o veículo saía em direção a Rua XV de Novembro até a Benjamin
Constant, onde dobrava à esquerda em direção à Praça da Alfândega, ou pracinha
do Porto, cujo nome de batismo é Domingos Rodrigues.
Nos anos quarenta, possível período de inauguração do
Balalaika, Pelotas se encontrava entre as duas ou três dezenas das maiores
cidades do Brasil. A política nacional vivia espremida pela ditadura varguista,
e não poucos acreditavam que o nazismo dominaria o mundo. Era uma cidade
industrializada e de vida noturna efervescente, com vários cinemas, dancings,
prostíbulos, clubes, gigolôs, mendigos e operários, que em sua maioria
habitavam os inúmeros cortiços existentes na cidade.
E é nesse cenário e ambiente que o jornalista e poeta
Fernando Melo fez desfilar os personagens do seu livro “Os fios telefônicos”,
mais precisamente no ano de 1944, onde, a certa altura da narrativa nos diz:
"Atravessou a rua e contemplou o sobrado do Balalaika da calçada
fronteira. Os fios telefônicos, finos e pretos, corriam ao lado das casas,
dentro do nevoeiro de junho".
Com esse depoimento de época, confirmamos a lembrança que
temos do meu pai apontar em direção a um sobrado e dizer que ali naquele
sobrado ficava o famoso Balalaika, o que até bem pouco tempo ainda não tínhamos
certeza era em qual esquina da Rua Marechal Floriano ficava o tal sobrado, ao
qual tanto o Fernando Melo quanto meu pai dizia ficar. Em nossa lembrança era
na esquina da Rua Barão de Santa Tecla, mas que não conseguíamos comprovar, por
falta de prova documental.
Conversamos e indagamos sobre o Dancing Balalaika com diversas
pessoas, havendo até quem nos dissesse que sua localização era na Santos Dumont
esquina Marechal Floriano, em um sobrado com cimento penteado.
É bem verdade que, durante o longo tempo em que nos
dedicamos a pesquisar o basfond pelotense, nunca foi nosso objetivo nos aproximarmos
da década de 40 do século XX, restrição essa que optamos por abandonar desde
que nos envolvemos com a obra do jornalista Fernando Melo, onde fomos encontrar
a primeira prova documental da existência do Dancing Balalaika.
Quando me decidi por pesquisar o cabaré Balalaika é que me
dei conta que algumas pessoas que poderiam ter me dado algumas informações já
não poderiam fazê-lo por não se
encontrarem mais entre nós, acrescido ainda da chegada da nefasta presença do
vírus da COVID-19, o que acabou provocando o fechamento da nossa biblioteca
pública, uma das nossas principais fontes de pesquisa.
Logo após a reabertura, ainda que parcial, da Bibliotheca
Pública Pelotense e seguindo o protocolo determinado pela diretoria, voltamos a
pesquisar na expectativa de encontrar o rastro do Balalaika nos anos 40 do século XX, segundo a pista deixada por
Fernando Melo.
No CDOV, Centro de Documentação de Obras Valiosas onde se
encontra a hemeroteca, perguntei ao Ueslei, responsável pelo setor se havia
algo registrado, digitalizado ou não, com o nome de Balalaika ou qualquer
informação que fosse sobre tal nome. Depois da busca feita, obtive “um não”
como resposta.
Então, mãos á obra: comecei pelo ano de 1944, pois quem sabe
fosse aquele o ano de inauguração do Dancing Balalaika.
Depois de percorrer, atentamente o ano inteiro do jornal
daquele ano percebi que não, que não fora o ano da inauguração bem como não havia
a menor referencia que fosse sobre o dancing, tampouco nas ocorrências
policiais que, no caso de tais atividades é muito comum e freqüente de serem
encontradas.
Perguntei-me: quem sabe o registro da inauguração ou
qualquer outro que me indicasse o caminho a percorrer estivesse em ano
anterior, no ano de 1943? Foi o que fiz a seguir, ainda sem êxito algum. Não
desistir é o que faço, e foi assim que encontrei o primeiro rastro do
Balalaika.
Note o leitor que temos, no anúncio, a estranha e inusual
grafia para a atividade do que ficou consagrado como bar, e não dancing como
esperávamos encontrar.
Continua...
-------------------------------------------------------------------------
Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Tratamento de imagem:
Tatiele B. Moro
Revisão do texto: Luiz Roberto C. P. da
Conceição
Prezado senhor, o resgate da história de nossa cidade em seu apurado trabalho de pesquisa é excelente. Todavia, respeitosamente deixo-lhe umas dicas textuais: "De a pé" não existe. O correto é "a pé". E é "mão à obra", "não á obra". Sugiro uma revisão textual mais apurada antes de publicar, a fim de não diluir a força do conteúdo com erros desnecessários.
ResponderExcluirCara, você falou tudo, eu estava lixando a porta de casa com a mão, demorei mais de 15 dias para fializar, depois comprei mais porta de madeira, e lixei com a Lixadeira Orbital Bosch acabei no mesmo dia. vale a pena ter uma ferramenta dessa
ResponderExcluirEu até tomo, mais não porque eu gosto, eu tomo o chá de hortelã beneficios dele é que muito bom
ResponderExcluirESTOU LENDOAO MEU PAI COM 95 ANOS VEIO PARA PELOTAS E NESTE MOMENTO ME PERGUNTOU SOBRE O BALALAIKA❤👏
ResponderExcluir