O Entreguerras em Pelotas – Parte 01Ainda desdobramentos da Primeira Guerra Mundial
A. F. Monquelat
Jonas Tenfen
A
série que iniciamos hoje é um desdobramento de série anterior desenvolvida nas
páginas do Diário da Manhã no ano passado e que pode ser conferida na íntegra
no blog pelotasdeontem.blogspot.com. A primeira foi dedicada aos desdobramentos
da Primeira Guerra Mundial em Pelotas; esta, por sua vez, é dedicada ao
Entreguerras (adotamos esta grafia para a palavra, sem hífen e com inicial
maiúscula, para nos referir ao período entre as duas Guerras Mundiais).
Por
escolha, alguns eventos não serão abarcados aqui, no intuito de pesquisar e dar
a tais eventos série própria. Antes de entrarmos propriamente no Entreguerras,
no ano de 1917 ainda encontramos nas páginas dos jornais de Pelotas notícias e
acontecimentos dignos de nota, como
Tiro 31 em excursão ao Retiro
A
Opinião Pública, no primeiro mês de 1917, recuperou entusiasticamente o evento
que há tempos acompanhava. Partiria no dia daquela edição, às 23 horas, saindo
da sala de armas à Praça da República, a companhia do patriótico tiro 31.
Tratava-se de uma marcha treinamento ao Retiro, devidamente acompanhada pelas
bandas de música cornetas e tambores.
O
comando coube ao capitão Otto Hecktheuer. Os diversos pelotões marcharam sob
direção dos seguintes oficiais: 1° tenente-atirador Manoel Candido da Cruz, 2°
tenente Neptuno B. da Silveira e 2° tenente Arthur C. Carneiro. O pavilhão
nacional foi conduzido pelo 1° sargento-atirador Arthur Avila. Garantindo o
bem-estar em caso de passamento, a ambulância seguiu sob a direção do
tenente-atirador sr. dr. José Botafogo.
Toda
a passeata foi fiscalizada pelo segundo tenente do exército, sr. Waldemar
Schneider, instrutor do Tiro 31.
Tinha-se
por objetivo acantonar nos galpões do sr. João Schild, na várzea do Retiro.
Convidava
o jornalista aos moradores do local e veranistas a prepararem condigna recepção
à “valorosa rapaziada, que bivacará nos matos de propriedade do sr. Gustavo
Brauner”.
Já
noticiado, e talvez por isso o entusiasmo com que a passeata fora entendida,
foi promovido por uma “comissão de gentis senhoritas” um “baile em homenagem à
briosa mocidade, com distribuição de flores naturais”.
Escola Brasileira Alemã
Em
páginas de A Opinião Pública, de início de fevereiro de 1917, encontra-se a
propaganda sobre as atividades da Escola Brasileira Alemã, um “acreditado
estabelecimento de instrução primária e secundária, há já longos anos
funcionando nesta cidade com um reputado corpo docente, afim de proporcionar
melhores acomodações aos seus discípulos” que “acaba de ser instalado em
magnífico prédio próprio, à rua Marechal Deodoro, nº 927”
Aos
interessados, a instituição mantinha cursos práticos de alemão e francês,
escrituração comercial, desenho, pintura, música e piano, matérias
indispensáveis ao ensino primário e aulas de trabalhos com agulhas. Não
cuidando apenas do espírito, também era oferecido métodos para o
desenvolvimento físico através de aulas de ginástica sueca.
A
todos os públicos – meninos, meninas e senhoritas – em sistema de externato e
semi-internato.
Na
conclusão da nota, um vocativo aos senhores chefes de família com a
recomendação do “importante estabelecimento de ensino entregue ao zelo e
competência da exma. Cecília W. Motta.”
Temor infundado?
Diário
Popular, de abril de 1917, próximo à extração da loteria do estado e de
interessante matéria intitulada “A ciência na guerra”, trouxe matéria noticiosa
e de opinião sobre o “Temor Infundado” – era esse o título – de agricultores,
“alemães e teutos, diante dos últimos sucessos aqui ocorridos,” estavam
receosos de “trazer seus produtos ao mercado desta cidade, temerosos de alguma
agressão do elemento popular”.
Como
mostrado em série anterior, este não fora um medo infundado, uma vez que a
cidade de Pelotas fora palco de desdobramentos da Primeira Guerra Mundial, em
especial, repressão violenta contra jornal e falantes de língua alemã.
Com
tudo, a matéria afirma que “este temor só se explica pelas notícias adulteradas
e boatos terroristas em circulação entre essa laboriosa gente, que nada tem a
temer, podemos afiançar, pois ninguém cogitou nem cogita de usar de qualquer
violência.”
É
lembrado também que as autoridades estão aí para manter a ordem e a segurança
públicas e que estas não permitiriam, de forma alguma, qualquer desacato – por
mais leve que fosse – contra as liberdades do comércio dos pequenos
agricultores. Assim, os colonos podiam seguir vindo à cidade, pois nada lhes
sucederia.
Outro
pedido aos colonos foi para não darem ouvidos aos maus conselheiros, aos
boateiros e especuladores que estavam se aproveitando dos ocorridos para
comprarem os produtos fora da cidade e revenderem por melhor preço.
“Contra
estes, mais do que contra imaginários atentados, devem estar de prevenção os
colonos” era o pedido e conselho final da matéria.
Buscas e nota
melancólica
Em
31 de outubro do mesmo ano, nas páginas de A Opinião Pública, foi noticiado que
“em observância a ordens superiores, a polícia judiciária deu hoje minuciosa
busca no Club Concordia.”
Buscou-se
com a batida encontrar armas e munições, mas nada fora encontrado. A batida foi
feita com autorização da diretoria do Club.
À
casa do sr. Carlos Ritter também foi procedida busca, contudo atrás de estação
radiofônica clandestina. O que também não se confirmou.
É
noticiado que outras casas de súditos alemães também estavam sendo revistadas.
Por
fim, uma nota melancólica: “Depois de escritas estas linhas soubemos que por
intervenção do sr. coronel Avelino Borges, subchefe de polícia, o Club
Concordia resolveu, a partir de hoje, suspender o seu funcionamento.”
Tolerância prejudicial
Foi
publicado nas páginas de A Opinião Pública – próximos de informações sobre o
aeroplano “Cidade de Pelotas”, encerramento do certame juvenil do Club Diamantinos,
voluntários que partiam para Rio Grande e pequena nota sobre espião alemã -,
matéria sem assinatura com o título “Tolerância Prejudicial”.
O
primeiro parágrafo deixou às claras as intenções do texto: “A tolerância
brasileira é um característico da raça e que muitas vezes nos tem trazido
dissabores”.
Clamava-se
pelo fim de panos quentes para com os súditos do Kaiser na cidade, espiões e
colaboradores do Kaiser. Tolerância tal que ainda era consentido que alemães
genuínos continuavam em vários cargos de repartições públicas.
Ainda
no desenvolvimento, o anônimo autor lista “um tal Peters, fiscal da intendência
no Mercado Central; Hugo Kupfer, empregado na Mesa de Rendas, e Oscar Rost, da
oficina de drenagem e encarregado pelo governo do Estado da construção de
boias”. A saber, “este último, então, teima, dentro da própria repartição, em
desrespeitar os brasileiros, só falando em alemão, apesar de admoestado por
mais de uma vez”.
A
matéria seguiu descrevendo todos os meios desumanos e violento que o Kaiser, a
Alemanha e seus súditos praticaram e estavam dispostos a
repetir no Brasil. Não imaginava o brasileiro, alertava, o que o alemão era
capaz de fazer em nome da legenda “Uber alles Deutchaland”.
Depois
de perguntar como que nós brasileiros não reagíamos a tudo que era alemão
depois de saber destes fatos, a matéria era encerrada com o pedido de “prezemos
a nossa dignidade de povo independente, defendamos a existência de nossa
nacionalidade ameaçada pelo imperialismo prussiano.”
continua...
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Fonte: Cedov – Bibliotheca
Publica Pelotense
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