quarta-feira, 5 de junho de 2019

Carlos Ritter e a contribuição industrial para Pelotas

Carlos Ritter e a contribuição industrial para Pelotas
(parte 1)


A. F. Monquelat
Jonas Tenfen

         

         Os alemães e, por vezes, seus descendentes estiveram desde cedo bastante presentes na vida, tanto rural quanto urbana, da cidade de Pelotas. São eles os responsáveis pelo desenvolvimento da indústria do Rio Grande do Sul, em especial através das cidades de Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas.
         A província do Rio Grande do Sul deve, em grande parte, seu desenvolvimento industrial à nacionalidade alemã ou teuto-brasileira. No segundo momento da sua imigração ao território mencionado, deram início ao processo de modernização que, até então, além da primitiva e rudimentar indústria do charque vivia apenas da agricultura e pecuária.
         Na década de 80 do século XIX, Porto Alegre se encontrava entre as cidades mais industriais da América do Sul, e, salvo não muitas exceções, quase todas as indústrias existentes na província do Rio Grande do Sul se deram por iniciativa dos imigrantes alemães, ou por seus descendentes, prova da forte influência exercida por esta imigração sobre a indústria das regiões onde ela concentrou.
         A província do Rio Grande do Sul, segundo dados obtidos sobre as décadas de 70 e 80 do século XIX, produzia poucos produtos.
         A exportação para fora do país se limitava a um milhão de couros secos e salgados, duzentas mil arrobas de fumo e um pouco de erva mate, cuja fabricação se desenvolvia consideravelmente. Se a estas mercadorias agregássemos alguns carregamentos de guano artificial, chifres de boi, cola e crina, algumas centenas de barricas de pedra ágata, línguas em conserva e um pouco de seda, teríamos todos os produtos que compunham a exportação da província para o exterior.
         Em compensação, e constituindo-se a agricultura na principal riqueza da província do Rio Grande do Sul, esse setor da produção fornecia além da graxa e do charque, o feijão, a farinha e o milho para a maior parte das províncias do império. Fato possível e incrementado a partir da chegada dos 12.000 colonos alemães recebidos no Rio grande do Sul desde as primeiras décadas do século XIX.
         No sul da província, podemos destacar na cidade de Rio Grande, sem nos determos em descrevê-la ou acrescentarmos maiores detalhes, a importante fábrica dos Srs. Rheingantz & C., única do Império no seu gênero.

O Rei (e deus) Gambrinus
        
      Em Pelotas, além de várias outras, podemos citar a fábrica de guano artificial e outros produtos do gado vacum, de propriedade do Sr. Gustavo Hugo Elst, industrial alemão, situada na Costa - Arroio Pelotas -, no centro das charqueadas, ali instaladas por volta do ano de 1876.
         É ainda necessário salientar e destacar as fábricas dos Srs. Lang e a do Sr. Carlos Ritter. É deste último que trataremos neste trabalho.
         O Sr. Carlos Frederico Jacob Ritter, oriundo da cidade de São Leopoldo, provavelmente tenha se instalado, segundo o historiador Alberto Coelho da Cunha, em1870 em Pelotas, onde, neste mesmo ano fundou uma cervejaria, em modestíssimas instalações à  Rua 24 de Outubro [atual Rua Tiradentes] sobre a margem esquerda do Arroio Santa Bárbara, em um casebre situado no interior de um terreno de propriedade do Sr. Procópio Gomes de Oliveira.
         Segundo palavras do próprio Sr. Carlos Ritter, a cervejaria por ele fundada teve o início de seu funcionamento no ano de 1872 e ali permaneceu até o ano de 1879/1880, quando então se transferiu para a Rua São Jerônimo [atual Marechal Floriano], esquina Rua Marquês de Caxias [atual Santos Dumont], em um bonito prédio construído especialmente para tal fim, com a denominação de Fábrica de cerveja Ritter.
         Era seu proprietário o industrial Sr. Carlos Ritter, teuto-brasileiro, estabelecido em Pelotas há doze anos, conforme nos informa o jornal Diário de Pelotas no ano de 1883.
         Antes de conhecermos as instalações da Cervejaria Ritter daquele período, é preciso dizer que apesar da exaustiva pesquisa nos jornais sobre a possível inauguração da indústria cervejeira, não foi possível localizar notícia alguma sobre tal fato.
         O registro mais antigo encontrado foi o anúncio, que aqui vai a título de ilustração, publicado no Jornal do Commercio em 4 de julho de 1880.

         
         Ao entrar na cervejaria, deparava-se com uma pequena sala contendo cinco mesas de tampo de mármore, rodeadas de cadeiras.
Ao fundo, uma copa onde um empregado esperava as solicitações dos frequentadores da fábrica para atender aos seus pedidos.
      Ao centro da parede da direita, havia um enorme quadro representando Gambrinus, patrono não oficial da cerveja, e duas medalhas obtidas na Exposição Brasileira-Alemã de 1881, em Porto Alegre, exposição esta que premiou vários outros industriais alemães e teuto-brasileiros de Pelotas.
         Daquela sala, passava-se para um enorme salão onde, em treze mesas também podiam os frequentadores do estabelecimento saborear seus “deliciosos e bem fabricados” produtos e apreciarem três magníficos quadros de história natural resultado da paciência e apurado gosto artístico do Sr. Carlos Ritter.
         Um dos quadros representava, feito de insetos, as armas brasileiras, outro as armas alemãs; e o terceiro, para o jornalista o de maior beleza e arte, representava o prédio da fábrica de cerveja.
Sobre uma pequena mesa existia um armário onde, artisticamente colocado, se encontravam diversos animais empalhados.
         Por aqueles trabalhos sobre história natural, o Sr. Ritter obteve uma das medalhas na Exposição de Porto Alegre, a medalha de ouro. Infelizmente, os quadros que mereceram tal distinção foram consumidos pelas chamas que reduziram a cinzas o edifício onde se realizara a exposição.
        Pelas paredes daquele salão, viam-se também diversos animais perfeitamente empalhados. No centro, existiam duas ótimas mesas de bilhar.
         Dali passava-se para um pátio que comunicava com a fábrica e servia de passagem para o jardim.
Continua...


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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Postagem: Jonas Tenfen

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