quarta-feira, 18 de abril de 2018


15 esquina 7: encontro do café com o cinema (parte 1)


A. F. Monquelat

   
   
     Aos 25 dias do mês de janeiro de 1912, conforme era esperado, chegou a Pelotas, pelo primeiro trem, o senador pelo Rio Grande do Sul, Dr. José Gomes Pinheiro Machado, que teve, acolhida  na gare da Viação.    Dentre as pessoas que o aguardavam, era notada a presença do intendente municipal, Dr. Barbosa Gonçalves, bem como a presença do coronel Pedro Osório, senador Cassiano do Nascimento, Dr. Ildefonso Simões Lopes, e muitos outros vultos da cidade.

         Logo após o desembarque de Pinheiro Machado, formou-se extenso préstito de carros que, em cortejo, seguiu em direção ao palacete do coronel Pedro Osório, onde o político ficaria hospedado.

         Naquele mesmo dia, alguns jornalistas da imprensa local visitavam as obras das futuras instalações do Ideal-Concerto, um café-cinema, que talvez fosse, no gênero, o único do Estado.

         As obras, que iam a ritmo acelerado, eram executadas por grande número de operários, a fim de que o estabelecimento fosse inaugurado a seção de café em fevereiro daquele mesmo ano

         Segundo um dos visitantes, o Ideal-Concerto seria montado de acordo com os estabelecimentos mais importantes das grandes capitais, de modo a fazer honra à cidade de Pelotas, que se preparava para festejar seu primeiro centenário.

         O Café ficaria situado à Rua 15 de Novembro, esquina da Sete de Setembro, ocupando amplo salão, com piso de mosaico e, em derredor do qual, em piso superior, haveria uma galeria, com grades douradas e destinada exclusivamente a famílias, tendo acomodação para 18 mesas.

         A parte térrea seria para os homens e comportaria 20 mesas.

         Estas seriam algumas de mármore, outras em junco e vidro, todas de estilo moderno e artístico.

         O serviço de café, gelados, bebidas, etc., na galeria, seria feito por meio de elevadores, com a máxima presteza.

         A armação do Café, artística e obedecendo ao mais apurado gosto, estava sendo confeccionada por “hábil artista”, Sr. Quintas e seria colocada por baixo da galeria com a frente para a Rua 15 de Novembro.

         Para o refrescamento de bebidas estavam construindo grande e profundo porão.

         O aparelho que serviria para o preparo do café era o mais moderno até então conhecido e fora importado diretamente de Paris, assim como toda a louça, cristais, mobiliário, etc. Estes haviam sido encomendados na capital francesa, em Hamburgo, em Londres e em Viena.

         A exemplo do que era feito nos grandes centros, os proprietários do ideal-Concerto colocariam, à Rua sete, além da calçada, um estrado de madeira, desde a esquina até a última porta do café, sendo ali servidos ao ar livre, bebidas, gelados, etc.

         Anexas ao Café, uma luxuosa engraxataria e uma bem montada seção de confeitaria e cigarraria para bem atender ao público.Ao lado do Café, ficaria a sala de espera, para o Cinema, e a qual ofereceria todo o conforto às famílias, pelo luxo com o qual seria decorada.

         Seriam, naquele local, instalados belos espelhos, quadros, estátuas, palmeiras, etc., havendo conversadeiras [uma espécie de móvel de época] para descanso dos espectadores.

         A divisão da sala de espera com o café seria um “verdadeiro primor d’arte”.

         O Cinema ocuparia amplo salão situado à Rua 7 de Setembro, com 500 poltronas de luxo, iguais às do Theatro Sete de Abril, e mandadas vir diretamente da Áustria, havendo também 8 camarotes.

         Dariam acesso a essa seção de diversões do Ideal-Concerto três portas: uma pela Rua 7 de Setembro, outra pela sala de espera e ainda uma terceira pelo café.

         A saída dos espectadores seria por três portas à Rua Sete de Setembro.

         A ventilação seria feita por duas grandes aberturas de dois metros de altura, e em toda a largura do salão, havendo ainda espalhados por todo o prédio, aspiradores de ar e ventiladores elétricos.

         Além disso, as bandeiras de todas as portas do estabelecimento poderiam ser abertas, quando fosse necessário.



         O declive do salão seria de três por cento.

         Para projeção de filmes haveria um excelente aparelho Pathé [projetor de filmes criado por Charles Pathé], aperfeiçoadíssimo, dotado de uma lente como não havia igual no Brasil, servido por um dínamo de 108 ampéres e acionado por um motor de 22 cavalos.

         Tocaria, todas as noites, no Ideal-Concerto, um afinado quinteto, sob a regência do maestro Tagnini.

         O quinteto ocuparia a galeria, por trás do pano de projeção, podendo assim ser apreciado pelas pessoas que se encontrassem no café, ao mesmo tempo em que abrilhantaria os espetáculos.

         O repertório seria de propriedade da empresa do Ideal-Concerto e já havia sido encomendado para Buenos Aires, constando de 200 trechos escolhidos de óperas, operetas, etc.

         De dia, uma excelente pianola alegraria os habitués do estabelecimento a ser inaugurado.

         Toda a instalação elétrica seria feita pelo Sr. José Brisolara da Silva, auxiliado e orientado pelo engenheiro Dr. José Gabriel Ubatuba.

         Todas as paredes do prédio seriam lindamente decoradas por hábil artista.

         O escritório seria instalado na parte alta do prédio.

         Era diretor da seção de café o Sr. Manoel Moreira da Costa, que, por muitos anos, exercera o cargo de contínuo do Clube Comercial e que, há pouco, estivera no Rio de Janeiro, a fim de estudar a montagem dos estabelecimentos congêneres dali. Encarregou-se da direção do cinema o eletricista Sr. João Salvi.

         O Ideal-Concerto funcionaria sob a empresa Ideal.

                                                                                                                                                                                                               Continua...
        
        
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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
 Revisão do texto: Jonas Tenfen
Tratamento de imagem e postagem: Jonas Tenfen

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