15 esquina 7: encontro do café com o cinema (parte 1)
A. F. Monquelat
Aos 25 dias do mês de janeiro de 1912, conforme era
esperado, chegou a Pelotas, pelo primeiro trem, o senador pelo Rio Grande do
Sul, Dr. José Gomes Pinheiro Machado, que teve, acolhida na gare da Viação. Dentre as pessoas que o aguardavam, era notada a presença do
intendente municipal, Dr. Barbosa Gonçalves, bem como a presença do coronel
Pedro Osório, senador Cassiano do Nascimento, Dr. Ildefonso Simões Lopes, e
muitos outros vultos da cidade.
Logo após o desembarque de Pinheiro Machado, formou-se
extenso préstito de carros que, em cortejo, seguiu em direção ao palacete do
coronel Pedro Osório, onde o político ficaria hospedado.
Naquele mesmo dia, alguns jornalistas da imprensa local
visitavam as obras das futuras instalações do Ideal-Concerto, um café-cinema,
que talvez fosse, no gênero, o único do Estado.
As obras, que iam a ritmo acelerado, eram executadas por
grande número de operários, a fim de que o estabelecimento fosse inaugurado a
seção de café em fevereiro daquele mesmo ano
Segundo um dos visitantes, o Ideal-Concerto seria montado de
acordo com os estabelecimentos mais importantes das grandes capitais, de modo a
fazer honra à cidade de Pelotas, que se preparava para festejar seu primeiro
centenário.
O Café ficaria situado à Rua 15 de Novembro, esquina da Sete
de Setembro, ocupando amplo salão, com piso de mosaico e, em derredor do qual,
em piso superior, haveria uma galeria, com grades douradas e destinada
exclusivamente a famílias, tendo acomodação para 18 mesas.
A parte térrea seria para os homens e comportaria 20 mesas.
Estas seriam algumas de mármore, outras em junco e vidro,
todas de estilo moderno e artístico.
O serviço de café, gelados, bebidas, etc., na galeria, seria
feito por meio de elevadores, com a máxima presteza.
A armação do Café, artística e obedecendo ao mais apurado
gosto, estava sendo confeccionada por “hábil artista”, Sr. Quintas e seria
colocada por baixo da galeria com a frente para a Rua 15 de Novembro.
Para o refrescamento de bebidas estavam construindo grande e
profundo porão.
O aparelho que serviria para o preparo do café era o mais
moderno até então conhecido e fora importado diretamente de Paris, assim como
toda a louça, cristais, mobiliário, etc. Estes haviam sido encomendados na
capital francesa, em Hamburgo, em Londres e em Viena.
A exemplo do que era feito nos grandes centros, os proprietários
do ideal-Concerto colocariam, à Rua sete, além da calçada, um estrado de
madeira, desde a esquina até a última porta do café, sendo ali servidos ao ar
livre, bebidas, gelados, etc.
Anexas ao Café, uma luxuosa engraxataria e uma bem montada seção
de confeitaria e cigarraria para bem atender ao público.Ao lado do Café,
ficaria a sala de espera, para o Cinema, e a qual ofereceria todo o conforto às
famílias, pelo luxo com o qual seria decorada.
Seriam, naquele local, instalados belos espelhos, quadros,
estátuas, palmeiras, etc., havendo conversadeiras [uma espécie de móvel de
época] para descanso dos espectadores.
A divisão da sala de espera com o café seria um “verdadeiro
primor d’arte”.
O Cinema ocuparia amplo salão situado à Rua 7 de Setembro,
com 500 poltronas de luxo, iguais às do Theatro Sete de Abril, e mandadas vir
diretamente da Áustria, havendo também 8 camarotes.
Dariam acesso a essa seção de diversões do Ideal-Concerto
três portas: uma pela Rua 7 de Setembro, outra pela sala de espera e ainda uma
terceira pelo café.
A saída dos espectadores seria por três portas à Rua Sete de
Setembro.
A ventilação seria feita por duas grandes aberturas de dois
metros de altura, e em toda a largura do salão, havendo ainda espalhados por
todo o prédio, aspiradores de ar e ventiladores elétricos.
Além disso, as bandeiras de todas as portas do
estabelecimento poderiam ser abertas, quando fosse necessário.
O declive do salão seria de três por cento.
Para projeção de filmes haveria um excelente aparelho Pathé
[projetor de filmes criado por Charles Pathé], aperfeiçoadíssimo, dotado de uma
lente como não havia igual no Brasil, servido por um dínamo de 108 ampéres e
acionado por um motor de 22 cavalos.
Tocaria, todas as noites, no Ideal-Concerto, um afinado
quinteto, sob a regência do maestro Tagnini.
O quinteto ocuparia a galeria, por trás do pano de projeção,
podendo assim ser apreciado pelas pessoas que se encontrassem no café, ao mesmo
tempo em que abrilhantaria os espetáculos.
O repertório seria de propriedade da empresa do
Ideal-Concerto e já havia sido encomendado para Buenos Aires, constando de 200
trechos escolhidos de óperas, operetas, etc.
De dia, uma excelente pianola alegraria os habitués do
estabelecimento a ser inaugurado.
Toda a instalação elétrica seria feita pelo Sr. José
Brisolara da Silva, auxiliado e orientado pelo engenheiro Dr. José Gabriel
Ubatuba.
Todas as paredes do prédio seriam lindamente decoradas por
hábil artista.
O escritório seria instalado na parte alta do prédio.
Era diretor da seção de café o Sr. Manoel Moreira da Costa,
que, por muitos anos, exercera o cargo de contínuo do Clube Comercial e que, há
pouco, estivera no Rio de Janeiro, a fim de estudar a montagem dos
estabelecimentos congêneres dali. Encarregou-se da direção do cinema o
eletricista Sr. João Salvi.
O Ideal-Concerto funcionaria sob a empresa Ideal.
Continua...
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Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Tratamento de imagem e
postagem: Jonas Tenfen
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