Prisão do “souteneur”
polonês Eduardo Sommastre
Sob a denominação de “cruzada de saneamento social” que
passou a ocorrer na cidade, resultado das denúncias feitas em primeira mão pelo
jornal A Opinião Pública foi que
ocorreu a primeira prisão de um cáften, o polonês Eduardo Sommastre.
A prisão aconteceu graças a hábil condução feita pelo Sr.
delegado de polícia, coronel Otacílio Fernandes, a partir da denúncia feita
pela prostituta Adenita Deniz, que cansada dos maus tratos que o delinquente
explorador de hetairas lhe infringia, além de constantemente exigir-lhe
dinheiro, resolveu denunciá-lo à polícia.
De posse das informações prestadas pela decaída, pode o
delegado Otacílio usar o estratagema do “sapo inchado”, expressão da gíria
malandra daquela época, que era utilizada pela polícia para prender criminosos.
Dia 5 de gosto de 1929, a vítima do cafetão, que assustada
vivia até então escondida, devidamente instruída pela autoridade que pretendia
prender em flagrante Eduardo, fato muito difícil de ser executado em se
tratando de proxenetismo, ligou desde a Pensão Réne, localizada à Rua Felix da
Cunha nº157, ligou para o hotel Vulcão de
Napoli, onde estava hospedado o souteneur, chamando-o para se
reconciliarem.
Eduardo, mais do que depressa correu à Pensão René e, já no
quarto de Adenita foi logo aceitando as explicações que esta lhe ia dando,
instruída que fora pelo delegado para fazê-lo abrir-se, e assim permitir que
fosse dado o flagrante no cáften polonês, que foi preso no ato.
Segundo o jornalista,
Sommastre iria naturalmente ser deportado.
E o foi, pois dia 7 de agosto era anunciada pela imprensa a
expulsão de dois “cafifas” que, segundo declarações prestadas pelo Sr. Otacílio
Fernandes, delegado judiciário do município, seriam eles deportados, por trem,
com destino a Argentina.
Tratava-se dos poloneses Eduardo Sommastre e Jack Sanches,
nomes que deixaram inscritos nos cadastros da polícia e que há não muito haviam
aportado em Pelotas, passando desde então a extorquirem dinheiro de mulheres
hospedadas na “Pensão Réne”.
Proxenetismo e
entorpecentes
Em
matéria veiculada na edição de 9 de agosto de 1929, o jornal A Opinião
Pública mais uma vez chamava a atenção das autoridades competentes para as
práticas de bas-fond [área de uma cidade marcada pela prostituição] que, como
efervescências dos grandes centros, estavam sendo transplantadas para esta
cidade, por elementos indesejáveis e “sórdidos cuspidos da maré cinzenta do
fluxo e refluxo do humano oceano de outras civilizações...”
Apontava
então, o indecoroso e criminoso espetáculo das escravas brancas, dizendo que o
proxenetismo vestia-se não somente de retalhos e farrapos imundos, como também
de seda e finas pedrarias...
Forçoso
era convir que o grito de alarma já produzisse seu efeito, em parte, pelo
menos, pois que, há bem poucos dias, o Sr. delegado de polícia efetuara a
prisão de um daqueles “repelentes” indivíduos, seguida por certo, da competente
deportação.
Nova
prisão acrescentava o jornalista, efetuara-se vinte e quatro horas mais tarde.
Queria
dizer ele com isso, que o jornal não exagerara e nem errara quando aludira à
presença, nesta cidade, de personagens dadas à prática do proxenetismo, quase
que a olhos vistos.
Porém,
a campanha que o jornal encetara não deveria terminar ainda; antes pelo
contrário; aproveitando-se da boa vontade das autoridades locais, clamava por
novas investigações nos meios suspeitos, onde se descortinariam, talvez,
episódios mais sombrios ainda, como o processo de conquista do “pó da ilusão”,
o delicioso veneno branco [alusão à
cocaína?], entorpecente maligno, que ao proxeneta proporcionava a recompensa
polpuda...
O
jornal aguardaria, para o caso, a ação da polícia, na objetivação de uma
campanha tenaz.
Ressaltamos
aqui um episódio ocorrido às 9h30 do dia 19 de janeiro de 1928, que nos faz
crer que o “pó da ilusão” já era bastante difundido antes do ano de 1929, pois
a mulher Isabel Lopes, conhecida por Belinha,
moradora à Rua Voluntários, depois de ingerir a “sua costumeira dose de
cocaína”, dirigiu-se ao corredor do Ernesto, à Rua 13 de Maio [atual Princesa
Isabel], nº302 A, onde promoveu grossa baderna, tentando arrombar a porta de um
dos quartos do local, que acabou penetrando, pulando a janela, a procura de seu
ex amante..
Passando
no momento pelo local o guarda nº4 do 1º posto, que foi chamado para conter a
desordem, tendo Belinha desrespeitado
o policial, que acabou levando-a para o xadrez, onde ela “acalmou um pouco os
efeitos do tóxico”.
A expulsão dos
indesejáveis cáftens
Voltava
o jornal A Opinião Pública, em 12 de agosto de 1929, desta vez apontando as
falhas da polícia que, na sua repressão ao caftismo estava empregando todos os
esforços, que o jornal reconhecia como um ato elogiável.
Havia,
entretanto, um ponto a que o jornal queria em especial se referir.
Tratava-se
da expulsão dos indesejáveis caftens, que não era feita com a precisa
segurança, pois, os indivíduos expulsos já se encontravam novamente no seio da
sociedade pelotense e, naturalmente, continuando com a sua sanha criminosa.
Por
isso, segundo o autor da matéria, não deveria a polícia, ao expulsar esses
indivíduos, deixá-los no Fragata ou nas estações próximas como estava fazendo.
A
repressão precisava ser a mais enérgica.
Era
a defesa da moralidade social, a qual, dizia o jornalista, não podia estar a
jogo, entregue às mãos daqueles indivíduos repelentes que mereciam o franco
repúdio.
Cáften preso
O
tenente-coronel delegado de polícia prendeu dia 20 de agosto de 1929, à noite,
um conhecido cáften de nome Alfredo Boris, que, além de ser cáften, não trazia
consigo documento algum de sua procedência.
Toma-se ópio em
Pelotas?
Sob este título, o Diário
Popular de 8 de dezembro de 1929, em sua coluna denominada “O que se passa
na cidade”, noticiava que Jacqueline, “embalada”, dera entrada na Santa Casa.
O motivo, segundo o jornal, era que, em uma pensão
[prostíbulo] “chic”, por aborrecimento ou vício a Jacqueline, cantora do
Dancing Pigalle, situado à Rua Sete de Setembro, ao recolher-se ao cotorro [pequeno quarto], ingerira 15
cms. de ópio.
Isso bastou para que Jacqueline ferrasse no sono e fosse
bater com os costados na Santa Casa.
Ali estava ela, no quarto nº 1, ainda sob a ação
“extravagante do terrível tóxico”.
Onde Jacqueline obtivera o ópio? – indagava o jornalista.
Continua...
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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública
de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni