quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Primeira Guerra em Pelotas VIII - Miscelânea

Primeira Guerra em Pelotas VIII
Miscelânea 

A.F. Monquelat
Jonas Tenfen

Kaiser Guilherme II e Nicolau II

    Dos jornais que circulavam à época, o que mais bem acompanhou os desdobramentos da Primeira Guerra Mundial em Pelotas foi O Rebate, sob a direção de Frediano Trebbi. Através das páginas deste periódico, temos os dados sobre a Noite das Fogueiras (tanto nesta cidade quanto na cidade de Rio Grande), o denuncismo dos cidadãos pelotenses contra o inimigo então declarado, a movimentação de tropas pela Europa. Em miscelânea de pequenas informações durante os últimos meses de 1917, o jornal sempre nos recorda de que a Grande Guerra também ocorre por aqui.
             A saber:
          Reencaminhando notícias de “Correio da Serra”, em 20 de novembro, sabemos que ontem as comunidades de colonos alemães localizadas em Paiol Grande e Baliza organizaram um levante e mataram o delegado e o comissário de polícia locais.
Na mesma edição, nota sobre o fechamento da escolar dirigida por um súdito alemão. Na escola, localizada no bairro das Três Vendas, era lecionado apenas em língua alemã. A ordem fora da superintendência e parece ter sido cumprida sem maiores atritos. Ao que tudo indica, pelo esvaziamento de notícias do gênero, ter sido esta a última escola a ser fechada por este motivo durante a Primeira Guerra.
       Também na mesma edição, é apresentada a queixa do jornaleiro Clementino de Macedo. Mesmo estando empregado como rondador da fábrica Lang, acabou por atrasar o aluguel do modesto quarto que ocupa com esposa e filhos; quarto este localizado defronte ao armazém Schimidt. Como retaliação, o proprietário do imóvel de nacionalidade alemã e de nome João Siemer organizou um grupo para destelhar o pequeno imóvel, deixando sob as intempéries os poucos bens e os membros da família. 
          Sem poupar palavras a Siemer, o jornalista destaca o fato de a vítima ser brasileira, o que explica o desmedido do ato cometido pelo cidadão alemão, ato que “bem demonstra a aspereza de que é revestido o coração insensível destes fanáticos do ‘Deus” Kaiser”. A nota é encerrada pedindo amparo dos leitores patrícios ao pobre homem.
      Na primeira página do início de dezembro de 1917, duas notícias de longe. A primeira, do Rio de Janeiro, tratando do padre alemão Miguel Siebler, acusado de espionagem. Vigário na paróquia de Santa Cruz, naquela capital, teve busca pela casa onde foi encontrada móveis em muita quantidade. O ajudante do padre, este italiano, explicou ao delegado que o padre esperava que sua casa fosse queimada pela população de Santa Cruz por causa da guerra, o que se mostrava um engenhoso golpe. Andava sempre com a lista de móveis e bens no bolso, pois como a Alemanha, até o fim do ano iria vencer a guerra, almejava conseguir grande indenização do governo brasileiro pelos bens que fossem queimados.
          A segunda, uma tradução encaminhada para o jornal. Carta dirigida ao ilustre patrício F. Trebbi relata o acaso em que o autor viu cair em suas mãos o número 24 do jornal alemão “Der Pipoken”, onde há uma notícia de destaque. Claro tratar-se de sátira, pois não há dados sobre um jornal publicado em Berlim com este nome, bem como a natureza da matéria que, para o entendimento de todos, fora traduzido pelo autor da carta:
          “Nascimento fenomenológico. Nasceu hoje [27 de janeiro de 1859] o príncipe. Ele já trouxe farto bigode, louro como uma espiga de cevada madura, ou como as flores do lúpulo (seco). A sua dentadura é belíssima e compacta, acrescendo ainda que ao nascer, S. A. recriminou a parteira por não atendê-lo em seus desejos, chamando-a de imbecil e sem ‘kultur’.”
       O redatora-tradutor da pilhéria acresce parágrafo onde assegura, depois de ter verificado o Almanaque de Gota [publicação onde era listada todas as casas reais reinantes à Europa], tratar-se de notícia sobre o nascimento do Kaiser de hoje.
          Na mesma edição, os encaminhamentos de uma denúncia. Existiam dados de que no depósito colonial de Alberto Boern, localizado na avenida 20 de setembro, havia estoque em grande quantidade de armas e munições. Ontem à noite, sob as ordens do comissário Mira, o subchefe da polícia da região, com auxílio da Brigada Militar e auxiliados pela polícia administrativa, organizou o cerco ao depósito. 
    Depois das buscas, foi encontrado apenas um revólver, propriedade de um brasileiro, nenhum depósito de armas ou munições. O jornalista levantou que a denúncia foi feita por um menor que possuía munição de calibre pouco comum. Questionada a origem da munição, disse o menor ser o depósito colonial, onde havia muito mais dessas.
          Contudo, três dias depois, na edição de O Rebate que traz em primeira página o fuzilamento da célebre Mata Hari, é dado notícia de munição apreendida. Ontem à tarde, o subchefe de polícia fez apreender 257.216 cartuchos de vários calibres na firma Bromberg & Comp, localizada à rua Marechal Floriano. Depois da apreensão, a munição foi remetida para o 3° posto.
       Matéria encerra em tom preocupado à época, mas que se tornou jocosa aos dias de hoje: - Não nos saberão dizer para que a casa Bromberg tinha armazenadas tantas balas?
          No último dia de 1917, O Rebate noticia atuação de alemão perverso em Pelotas, e não se trata do Kaiser. Uma égua de propriedade de Vasconcelos e Filhos fugiu de seus pastos efoi encontrar abrigo na porteira aberta dos fundos da fábrica de fumos do sr. Guilherme Adam. O funcionário da fábrica, Richard de tal, de origem alemã, foi incumbido de afugentar o animal. Por ordem ou por má ideia, este atou uma lata de querosene com um pouco de combustível à cola do animal. Depois da fuga, o animal ficou em péssimo estado. Os donos do animal prestaram queixa contra o alemão perverso e se sabe que o mesmo disparara três tiros contra uma vaca fugitiva dos mesmos comerciantes.
          Para encerrar o texto, um apelo do governo veiculado várias vezes na imprensa, imaginamos que não só pelotense:
Apelo do governo

A todos os brasileiros

Respeita a pessoa e os bens alemães; só ao governo incumbe punir aqueles que atentarem contra a defesa nacional.
Nenhum brasileiro deixará de cumprir o dever alistando-se nas linhas de Tiro e reservas navais, trabalhando pela produção dos campos, velando contra a espionagem e estando alerta aos apelos da nação.

continua...
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Fonte de pesquisa: CEDOV – Bibliotheca Pública Pelotense

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