quarta-feira, 17 de julho de 2019

Carlos Ritter e a contribuição industrial para Pelotas (parte 4)

Carlos Ritter e a contribuição industrial para Pelotas
(parte 4)



A.F. Monquelat
Jonas Tenfen


Conselho sobre a qualidade da cerveja, dado pelo Sr. Carlos Ritter & Irmão

          Como fabricantes, sentiam-se na obrigação de informar ao público consumidor que nem sempre a cerveja muito espumante era prova de sua boa qualidade: este excesso de espuma se dava geralmente quando a cerveja era velha, desaparecendo em grande parte a seiva nutritiva, bem como o aroma tão grato ao paladar, que se evapora na fermentação.
          Comunicavam ainda que a Sociedade Musical União tocaria, naquela tarde, as melhores peças de seu repertório, regida pelo hábil maestro Sr. G. Hungott, que por primeira vez executaria em seu trombone a grande peça Roberto do Diabo e a ária do Trovador.
Quanto à entrada: grátis para o belo sexo, pagando o sexo forte 500 réis, que daria direito a uma garrafa de cerveja simples.
     Ao que tudo indica, com relação à música, não houve reclamação alguma, porém, quanto à cerveja, houve quem enviasse carta ao Diário de Pelotas pondo dúvidas sobre a qualidade. Prontamente respondeu o Sr. Carlos Ritter, via jornal A Nação, como se pode ver da edição de 21 de março de 1884, nos seguintes termos: “Sr. Redator da Nação. – No seu noticiário de 20 do corrente, em referência à cerveja por mim fabricada dizem que eu posso declarar se é ou não de inteira confiança o cavalheiro que lhes deu a informação.
         Cumpre-me dizer que sempre tive no melhor conceito o nome do cavalheiro que informou a essa digna redação, mas também como fabricante de cerveja corre-me o dever de dar certas explicações.
          Há pessoas que ao abrir uma garrafa de cerveja, e esta não fizer espuma dizem logo, antes mesmo de prová-la, que a cerveja não é boa, no entanto, os entendedores a preferem com espuma.
Na minha mesa, onde ao almoço e jantar se senta minha família e empregados, no lugar do vinho se toma cerveja, e eu seria um criminoso e um mau esposo e pai, consentindo que nela e em outros momentos do dia, minha mulher e filhos tomassem uma droga que lhes prejudicasse a saúde. Têm os meus filhos, um quatro anos e o outro dois anos e meio, bebem ele cerveja às refeições e durante o dia, e pode se ver que estão bem desenvolvidos, e isto graças as partes muito nutritivas, que contém a cevada.
          A Baviera é a parte da Alemanha onde mais consumo se faz da cerveja, e o resultado é que seus filhos são os de melhores cores, robustez e saúde.
      É um engano supor que a cerveja velha, que tem mais fermentação e que produz mais espuma seja a melhor, tudo tem o seu tempo natural, e os entendidos são unânimes em afirmar que aquela não é a melhor, nem ao paladar e nem ao estômago.
        Finalizando, dizia o Sr. Carlos Ritter que era fácil e até mesmo natural que entre mil garrafas se encontrasse alguma delas choca, em razão de defeito da rolha, mas essa era muito conhecida já ao cair no copo, fato que era inevitável ao fabricante.

O anúncio do Sr. Carlos Ritter sobre a sociedade com o irmão


“Aviso: Carlos Ritter, estabelecido com fábrica de cerveja à Rua Marques de Caxias [Santos Dumont] nesta cidade, esquina São Jerônimo [Marechal Floriano] (ponte de pedra), cientifico ao respeitável público, aos seus fregueses da província e aos de outras, com cuja confiança tem sido honrado, que deu sociedade de 1º de setembro em diante ao seu irmão Frederico J. Ritter, o qual tendo voltado da Alemanha, onde foi propositalmente aprender o fabrico teórico e prático da cerveja, o habilita a bem continuar a angariar a confiança que sempre tenho merecido de meus numerosos fregueses.
A nova firma gira daquele dia em diante sob a razão de C. Ritter & Irmão. Pelotas, 6 de novembro de 1884. C. Ritter”.

Só a dinheiro

     Sob o título de Ritter, os proprietários desta fábrica cientificavam ao público e aos seus fregueses que a partir do dia 31 de janeiro de 1885, só venderiam a dinheiro (à vista), pelos preços seguintes: Lager-Bier, dúzia, 3$600 (réis); Columbacher, dúzia, 3$000 (réis) e Simples, dúzia, 2$000 (réis).
          E  mais uma nova marca, 1$500 (réis) a dúzia, superior as que outros fabricavam e vendiam a 1$800 (réis).


A cervejaria Ritter vista pelo jornalista da comitiva imperial

          Em abril de 1885, o jornalista da comitiva imperial em visita a cidade, dizia que diante da importância industrial da cidade de Pelotas, quase que, por vezes, esquecia as pessoas imperiais, a sua comitiva e os passeios que pela cidade faziam, para tratar de assuntos que mais ou menos pudessem dar ideia do progresso que encontrava em cada uma das cidades por onde tinha passado nesta viagem imperial.
       Não pretendia ele tratar de todos os estabelecimentos industriais de Pelotas, apenas queria salientar aqueles mais importantes. Daí naquele dia ocupar-se, dentre outros, da fábrica de cerveja do Sr. Carlos Ritter, cujo estabelecimento era o mais importante no gênero, dos que existiam na cidade.
          O Sr. Ritter é teuto-brasileiro, natural da florescente cidade de São Leopoldo, e, dizia o jornalista, achava-se estabelecido em Pelotas há doze anos.
          Grande parte da descrição feita pelo jornalista Maximino repetia, quase que ipsis literis a descrição que anteriormente fizemos, daí deixarmos de fazê-la e transcrevermos apenas o que nos pareceu novidade: ao fundo da fábrica havia um magnífico jardim, onde, aos domingos, se reuniam as principais famílias da cidade, que ali iam tomar cerveja e ouvir música, tal qual faziam no Passeio Público, por certo uma referência a praça central.
          A cerveja fabricada na casa do Sr. Ritter, dizia o jornalista, era a melhor que ele tinha visto e bebido desde que visitava esta província, e até mesmo na corte, em fábricas congêneres.
        Visitando a cervejaria, em companhia “do amável e inteligente guarda-livros” [contador, contabilista], o Sr. José de Azevedo Souza Júnior, que lhe mostrara todas as dependências, teve ele ocasião de verificar a limpeza com a qual era fabricada a cerveja, na qual era empregado somente o lúpulo e a cevada como matérias prima, e esta de primeira qualidade.
     O Sr. Ritter, industrial laborioso e inteligente, amável cavalheiro, proporcionara-lhe o ensejo de assistir a fabricação de sua cerveja, “para mostrar-me que tem em muita consideração à sua e à saúde do próximo”, concluía o jornalista, o que tinha lhe valido a grande exportação que fazia do seu produto, não só para esta província, como para outras províncias do império e paquetes.


Continua...

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Postagem: Jonas Tenfen

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