segunda-feira, 30 de maio de 2016

Simões Lopes Neto, o Club Cyclista e o carnaval de rua

(parte 3)



A.F.Monquelat

A participação do Club Cyclista no carnaval de 1898

         O jornal A Opinião Pública, de 26 de fevereiro de 1898, em matéria divulgada sob o título de “A Pinhata”, noticiava que o Club Cyclista também desfilaria no carnaval de rua, com a participação, talvez, de 30 ciclistas, em sua máquinas adornadas, pretendendo abrir o corso [desfile], que se organizava para o dia seguinte.
         A reunião dos ciclistas seria em frente à Intendência [hoje Prefeitura Municipal], às 17h30.
         O corso, durante trajeto, deveria obedecer às evoluções dos ciclistas, para melhor andamento da diversão e se evitarem atropelos.
         Sabia o jornalista que algumas senhoritas, em suas máquinas, prometeram abrir a marcha do Club, a qual seria fechada por um elegante carro ornamentado.
         Seria este, possivelmente, o melhor momento naquele ano do carnaval de rua.
         Encerrando a matéria era dito que o Club Cyclista, por aquele jornal, faria em suas páginas uma declaração a propósito de sua passeata no domingo da pinhata.


A comunicação do Club Cyclista

         “O Club Cyclista no seu e em nome dos amadores que acederam ao seu convite, resolveu fazer uma passeata e, para a boa ordem e regularidade da mesma, estabeleceu o seguinte programa, que pede para ser observado:
         Os ciclistas se reunirão às 17h30 em frente à Intendência.
         O itinerário será o seguinte: da Intendência pela Rua 15 de Novembro, Voluntários, Andrade Neves, General Neto e 15 de Novembro, por onde descerá até à Intendência, onde se dissolverá o préstito.
         A distribuição dos pares e direção da marcha ficam a cargo do Club”.
         O Club dos Cyclistas convidava as famílias, que tomassem parte do corso a acompanharem o préstito, seguindo rigorosamente o movimento deste, devendo estacionar os seus carros também junto à Intendência, para dali procederem a organização da marcha, pois, assim, não só evitariam a dispersão, desordem e qualquer atropelo, como aproveitariam melhor os atrativos, pela movimentação e abundância do corso.
         O Club rogava ao público não atirar serpentinas sobre os ciclistas, a fim de evitar quaisquer embaraços.




O ciclismo visto pelo carnaval de rua

         Embora o carnaval de 1898 estivesse bastante chocho, à noite, do dia 28 de fevereiro, a coisa melhorara, com o tempo que parecia se firmar, havendo grande aglomeração de povo pelas ruas, muito especialmente à Rua 15 de Novembro, desde o Hotel Aliança [hoje Galeria Zabaleta] até a Praça da República [atual Pedro Osório], em que esteve iluminado o Café Java, a Casa Modelo, a Livraria Universal e a Notre Dame de Pariz.
         Nesse trecho, hoje Voluntários até a Marechal Floriano, entretanto, havia mais vibração, mas o jogo de confete e serpentinas fora pequeno.
         Fizera um passeio alegre um grupo de rapazes, num bonde expresso, com rodas circundadas de cordões de algodão, revelando todos, nesse cortejo burlesco, bastante espiritualidade.
         Estes rapazes distribuíram prospectos análogos à crítica que faziam.
         Junto a estes endiabrados ciclistas fritz mack vinha uma tremebunda orquestra de rufos e tambores, capaz de ensurdecer o próprio diabo.
         Os “nossos ciclistas”, que andaram em maré de contratempos, tiveram ainda uma crítica num cágado, que andava montado num pau, com duas rodas, tocando campainha como um doido...

O desfile do Club Cyclista

         Apesar da tarde chuvosa do dia 28 de fevereiro de 1898, não desanimou a “destemida e distinta mocidade” que fazia parte “deste futuroso” Club.
         Os jovens ciclistas, conforme o anunciado, levaram a efeito o tão esperado passeio em suas bicyclettes, percorrendo as Ruas 15 de Novembro, Voluntários, General Neto e voltando pela 15 de Novembro, indo, todos os seus sócios e sócias em suas “lindíssimas” máquinas, enfeitadas com tão apurado e esmerado gosto que, ousava o jornalista de A Opinião Pública afirmar, não poderiam ser excedidas.
         Após uma pequena pausa da chuva, que impertinente desafiava o entusiasmo dos ciclistas, saiu o préstito, às 20 horas, da Biblioteca Pública, rompendo uma multidão que os saudava com palmas prolongadas e ovações entusiásticas de “bravo!” que, dizia o jornalista, realmente mereciam.
         Assim desfilou o préstito: na frente, os comissários do Club, na direita, Sr. Carino de Souza, na esquerda Sr. Mirtyl Franck, logo em seguida o porta-estandarte, o jovem Bidam, depois o grande atrativo da festa, as “gentilíssimas meninas” Firmina Oliveira, filha do negociante Sr. Pompílio Oliveira, e Nilsa Pinto, filha do Sr. José Pinto, coproprietário da Livraria Americana, ocupando o centro de ambas, num ponto distanciado para a retaguarda, o ciclista Sr. Heráclito Brusque, cuja vestimenta e máquina, “incontestavelmente eram as mais belas e ornamentadas, pelo seu apurado bom gosto e extraordinária vista”.
         Descrever minuciosamente um por um todos os ciclistas e suas riquíssimas máquinas seria um trabalho longo, dizia o jornalista, limitava-se então, a citar alguns que mereceram aprovações gerais.  
         Sr. Heráclito Brusque, no qual não sabia o que admirar, se sua custosa e elegante vestimenta, de camiseta de seda, com listras de cores ouro e preta, calção preto e meias de seda, cores também iguais à camiseta, ou a sua soberba Monarch, que bem merecia figurar num desses famosos concursos que, a propósito de festas iguais, costumava-se fazer nas capitais do velho mundo.
         Além deste, havia mais as seguintes máquinas: as das meninas Firmina Oliveira, ornada de flores de seda, e Nilsa Pinto, também de flores artificiais, ambas luxuosamente vestidas de seda branca e bonés, manejando com perícia suas máquinas, dando assim a essa festa um efeito surpreendente e admirável; a do Sr. Carino de Souza, caprichosamente enfeitada com flores naturais e largas fitas de seda grená e branca e uma profusão de laços e fitas nos eixos e nos pedais de sua experimentada máquina La Française; a do jovem José Areas, com fitas e laços de seda branca e azul, vestido com iguais cores; a do Sr. João Simões Lopes Neto, salientando “a belíssima borboleta de seda na frente do guidon”; a do jovem Bidam, com flores naturais e bandeirinhas nacional e francesa; a do Sr. Fritz Boyunga com o cadre [quadro] e guarda-lama totalmente ornados; a do Sr. Mirtyl Franck, ornada de flores naturais: a do Sr. Eduardo Almeida, com muitas rosas e os raios com laços de fitas; a do Sr. Dr. Rasgado, com flores naturais pelo guidon e cadre [quadro]; as dos Srs. Tonny Costa, Dr. Ildefonso Simões e seu filho Sílvio, as dos jovens Cássio Tamborindenguy, Adolfo Maia, Lúcio Lopes Júnior; e, as dos Srs. Pompílio Oliveira, Eleutério P. Pinto e mais as dos moços Chapon, Marques, etc.
         Era de causar muita pena o tempo não ter permitido que o público melhor apreciasse essa festa, para a qual não só havia geral ansiedade, como também ser a primeira, que neste gênero se organizava nesta cidade.
         Os extraordinários esforços e grandes despesas que haviam feito aqueles moços poderiam ser mais bem recompensados, se não fosse o estado de muitas ruas, mesmo a rua principal, cuja lama e mau calçamento em muitos trechos era de lastimar, não permitindo que os ciclistas fizessem algumas evoluções, dando assim mais um atrativo à sua festa.
         As casas comerciais da Rua 15 de Novembro, à passagem dos ciclistas, acenderam suas gambiarras [luzes] e muitas senhoritas e moços empunhavam fogos de bengala, concorrendo desta maneira para maior deslumbramento do cortejo.
         Concluindo, dizia o jornalista que, com franqueza os destemidos ciclistas mereciam um “bravo!”.
        
                                                                                                                                                                                                               Segue...
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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen

Tratamento de imagens: Bruna Detoni

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