quinta-feira, 19 de maio de 2016

Encrencópolis, uma princesa desnuda ou o Café da Infância, o Antro do Mãosinha*


O Café da Infância, conhecido e denominado pela imprensa de Pelotas como o Antro do Mãosinha, é a terceira e última das bodegas, ou tascas, que escolhemos para  destacar dentre as mais afamadas da Rua Tiradentes, o Bairro Sujo ou A Encrencópolis da cidade.
Das notícias recolhidas sobre o Antro do Mãosinha, pode-se depreender que no local moravam prostitutas, a exemplo das bodegas da Rua General Osório, que era ele protegido de alguma autoridade e uma espécie de xerife da quadra. Quanto à antonomásia, acreditamos se tratasse de alguma deficiência em uma das mãos. Vejamos então:

A Rua Tiradentes em dança

Às 2 horas da madrugada do dia 28 de janeiro de 1914, na espelunca de Marcelino Vidal, vulgo Mãosinha, situada à Rua Tiradentes entre 15 de Novembro e General Vitorino [Anchieta], os desordeiros Fernandes Marques Rodrigues, Maria Emília Pereira e Cantalice Tavares dos Santos proferiram as maiores obscenidades, desrespeitando os transeuntes.
Afinal, aparecendo o rondante daquela rua, conduziu as desordeiras e o desordeiro para o 1º posto, não com muita facilidade.
A licença que esses freges [locais de má aparência] desfrutavam, de estar abertos pela noite a dentro, devia lhes ser cassada, dizia o jornalista, a bem da moral pública e da tranquilidade da cidade.

Grosso sarilho

Dia 13 de dezembro de 1914, às 17 horas, na espelunca denominada Café da Infância situada à célebre Rua Tiradentes, houve mais um grosso sarilho.
Longino Vens, sentindo a canícula [calor muito forte] reinante, foi à casa do Mãosinha desalterar-se, e lá encontrou Fernando de tal, com quem entrou a questionar.
Da discussão rompeu a luta, engalfinhando-se os dois contendores.
Chamada à polícia, compareceram os guardas 25 e 7 do 1º posto, que efetuaram a prisão de Longino e conduziram-no, abaixo de estouros, para o 1º posto.
O infeliz chegou ao xadrez em lastimável estado e deitando sangue pela boca.
Quanto a Fernando e Mãosinha foram apenas intimados.
No outro frege, à Rua Tiradentes, de propriedade de Fructuoso Alves, houve, quinta-feira, àsl9 horas, grossa baderna.
Um indivíduo, depois de beber a farta, esbofeteou a mundana Emilia Podowisky, por antonomásia “Polaca”, e em seguida manuseando um revólver, tentou alvejar o dono do frege.
Dois marinheiros que se encontravam no local desarmaram o valente e entregaram-no à polícia.
No 1º posto, o badernista não quis declarar o seu nome.

Quadros vivos: a apologia do nu, sempre a Rua Tiradentes

Na faina diária de registrar fatos passados nas ruas, o jornalista de O Rebate já se habituara a descrever as cenas havidas na célebre quadra da Rua Tiradentes, entre 15 de Novembro e General Vitorino [Anchieta].
Terríveis borracheiras, grandes badernas, ciumeiras e suicídios, punhaladas, tiros e pancadaria grossa, davam-se quase que diariamente.
O fato que ele nos narra, ocorrido dia 14 de dezembro de 1914, era inédito em Pelotas:
A meretriz Tininha, em companhia de outras hetairas, foi à espelunca denominada Café da Infância e, com as colegas, despiu os trajes, envergou roupas de renda, saindo a passeio...
Nessa exibição de plástica, se divertiram até aborrecerem-se.
Os guardas que policiavam aquele trecho, que envergonhava Pelotas, nada viram, ou, aliás, viram e... gostaram, dizia o jornalista.
Santa cegueira...

As espeluncas da célebre Rua Tiradentes

            Ontem, 13 de janeiro de 1915, às 11 horas da manhã, encontraram-se um bombeiro e outro soldado que pertenciam à nossa polícia, que deixava o jornalista de dar número por não trazê-lo, como era de obrigação, a gola do dólmã, a porta de uma das mais baixas meretrizes, em completa anarquia.
         Uma família que por aquele local passasse seria obrigada a presenciar alguma imoralidade.
         Para quem apelar?
         Ainda naquele mesmo dia e local, às 16 horas, o chauffer Barbosa, um tanto alcoolizado, foi visitar a mulher por nome Maria da Conceição Carvalho, de cor parda, que residia no afamado antro de perdição denominado Café de Infância, propriedade do alcunhado Mãosinha, e depois de uma discussão com aquela dama fez uso de um pequeno revólver, detonando-o uma vez e ferindo-a no braço esquerdo. 
         Barbosa foi preso em flagrante e conduzido ao 1º posto.
         Maria, cujo ferimento era leve não se medicou, em parte alguma.
         Apesar de várias vezes ter o jornal chamado a atenção das autoridades locais para aquele trecho escandaloso da cidade, ainda não fora tomada nenhuma providência.

Ainda o antro do Mãosinha

Dia 7 de fevereiro de 1915, os hóspedes do Café da Infância apanharam uma terrível mona [bebedeira].
Intoxicaram-se com “finos” líquidos e começaram a praticar mil badernas.
Comparecendo o guarda de serviço, na célebre quadra, foi recebido pelas Messalinas a copos e garrafas.
Afinal, o mantenedor da ordem conseguiu prender as pandegas que eram em número de quatro.



O Mãosinha

O proprietário da imunda tasca à célebre quadra da Rua Tiradentes, denominada Café da Infância, conhecido pela antonomásia de Mãosinha era o “Jesus daquela zona”.
Paschoal Bonifácio de Bonfim, cozinheiro do Hotel Portugal, foi à casa do Mãosinha dia 8 de fevereiro de 1915, e pediu 6 garrafas de cerveja, ingerindo o líquido em companhia de alguns camaradas.
Pagou a despesa, ficando os copos cheios de cerveja.
O proprietário da espelunca, possuído de fúria, quebrou copos e garrafas e quis desancar ao seu freguês.
Paschoal procurou os guardas 12 e 14 que davam serviço na quadra e lhes pôs ao corrente do sucedido.
Estes declararam que nada podiam fazer.
“Ao que nos consta o Mãosinha é acobertado por um ‘grande’ na polícia; daí a impunidade de que goza”, acrescentava o jornalista.

No Bairro Sujo

O indivíduo Mário Rieira, que há dias ferira a mulher Aracy Furtado, defronte ao Colyseu, cometeu dia 17 de março de 1915, forte desordem na Rua Tiradentes, na célebre tasca do Mãosinha, sendo preso e recolhido ao 1º posto.

 Ainda no bairro sujo

Dia 24 de abril de 1915, às 12 horas, o conhecido desordeiro Haroldo Moreira, vulgo Barbadinho, foi ao Café da Infância, situado à Rua Tiradentes e, armado de navalha, cortou a meretriz Clotilde de Faria no rosto e na mão direita.
Após o delito, Barbadinho fugou, mas foi preso e desarmado, estando com as costelas bem aquecidas pelo chanfalho, e levado ao xadrez do lº posto.
________________________________________________
(*) Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Revisão do texto: Jonas Tenfen

2 comentários:

  1. Excelente amigo Adão, tenho que adquirir todos os seus livros, uma verdadeira maravilha!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É uma grande satisfação saber do interesse do amigo pelo meu trabalho. Abraço.

      Excluir