quarta-feira, 11 de maio de 2016

Salão Marly: a casa do maxixe e outros maxixes*

(parte 4/4)

                                                                                                            A.F. Monquelat
 
O Marly em ação: novos maxixes
         Na famigerada espelunca que respondia ao nome de “Salão Marly” e onde se dava Rendez-Vous a ralé mais característica de Pelotas, se realizariam, hoje e amanhã, 13 e 14 de janeiro de 1917, mais dois maxixes à fantasia.         Noticiando este fato, já aqui ficava o jornal O Rebate com a certeza de que segunda-feira teria a registrar nas linhas de noticiário, esbórnias deprimentes e sarilhos grossos.
         Isso, por que, desde que fora aberto o Salão Marly, frequentado por badernistas profissionais e hetairas de beco, resultou teatro eterno de desordens.         À polícia impunha-se o dever de já ter acabado com o desclassificado antro de vagabundagem, em nome do nosso crédito de terra moralizada.         Desleixada e, por assim dizer, refratária a todo o serviço que redundasse em benefício coletivo, ela nada fizera até então.         Tomavam-se nota para a história de uma época, e de certas gentes.          Ficava ele de pena em punho, preparado para o registro das badernas que no Marly, certamente, ocorreriam.
Deprimente: os cartazes do Marly na Praça da República
            Havia para aí, encravado, como apêndice mau que era preciso extirpar ao organismo da cidade, um antro baixo de perversão, fedendo à cachaça e a umas quantas coisas mais desagradáveis.         Ali imperava, por noites de orgia arrancadas à existência dos quilombos, a bacanal da plebe que, para se divertir, chafurdava-se no lodo de todas as abjeções e de todas as vergonhas.         Ali reinava, pelas horas movimentadas em que a “zona” estava repleta, pobres mulheres, farrapentas e esquálidas, sinistras no seu horror.            E, como personagem principal, a corja de navalha ao cinto, provocadora e suja.         Isso é que era o celebrizado e repugnante “Marly”, centro de “banzés” grossos, e cujo funcionamento só uma polícia como a nossa poderia permitir, vociferava o jornalista aos 30 dias do mês de março de 1917.         Pois não era que, agora, à troca de uns pingues níqueis extorquidos, indiretamente embora, às infelizes profissionais do amor, decadentes e rotas, a subintendência permitiu que, na Praça da República, um dos títulos de orgulho de nossa cidade, sítio palmilhado e frequentado por famílias, se ostentassem imundos cartazes com a propaganda obscena da tasca infecta.         Doía dizer, mas era a verdade.         Não haveria uma autoridade, com uns restos de vergonha, que se dispusesse a proibir tamanha profanação?
 
 
Conflito e ferimento no Salão Marly
            Ontem, dia 9 de janeiro de 1918, às 16 horas mais ou menos, se achava libando entre outros convivas do Salão Marly, Pedro Faria, servente de pedreiro, preto, solteiro, de 20 anos de idade, e outro indivíduo mais conhecido pela alcunha de Escovado.         Em dado momento, suscitou-se entre eles uma acalorada discussão, que terminou por chegarem às vias de fato e, fazendo uso de armas, aquele de um cacete e este de um punhal, travaram luta, resultando sair Faria com um ferimento penetrante no pulmão direito.            Intervindo terceiros, separaram os contendores, efetuando aqueles a prisão de Escovado, que foi mais tarde entregue à polícia, a qual sendo avisada do fato, ali compareceu.        Pedro Faria, foi removido para a Santa Casa, onde, depois de receber curativos, foi internando na Enfermaria Pimenta.
Outros locais de maxixe
         Anunciava o jornal O Dia de 3 de março de 1916, que o maxixe requebrado, no reinado de Momo daquele ano, também teria o seu culto.         Pois, estupefacientes bailes se anunciavam para aquele dia e dia seguinte no elegante salão da Rua General Vitorino [atual Anchieta], esquina da Rua General Neto, bem como do Restaurant Maxim’s, onde se prometia coisas do arco da velha.
Antro de perdição
         Em 5 de julho de 1922, o jornal O Rebate publicava em suas páginas a carta de um leitor, cujo conteúdo era para chamar a atenção da polícia, se é que a polícia ignorava, para os escandalosos maxixes, abrilhantados pela Banda Musical e realizados na cãs de tavolagem de Velho Menino, situada num ponto central da cidade, à Rua Andrade Neves, esquina Tiradentes.         Dizia o leitor que sem o mínimo decoro pelas famílias que residiam no em torno, o pessoal dos tais bailes, aliás, a escória do “bairro sujo” [referência à Rua Tiradentes, entre as atuais 15de Novembro e Anchieta] e adjacências praticavam escândalos de toda laia, promoviam desordens e bebedeiras, alarmando o vizindário e ameaçando graves acontecimentos.         Já que a polícia permitia a jogatina em tais tascas imundas, deveria impedir que houvesse semelhantes maxixes, imorais e perigosos, afrontando às famílias e à cultura de Pelotas.
 
 
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(*) Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Revisão do texto: Jonas Tenfen




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