quarta-feira, 27 de março de 2019

Hotel Lagache, Pelotas

Hotel Lagache, Pelotas

                                                                             A.F. Monquelat

Anúncio de abertura do Hotel Lagache

Em 23 de agosto de 1928, era anunciado que, com o nome de Hotel Lagache, o Sr. Joaquim Martins Filho, proprietário do conhecido restaurante Royal, abriria, dentro em breve, magnífico hotel no vasto “palacete”  à rua Voluntários, esquina da Andrade Neves, onde estivera o Hotel Gotuzzo.
O novo hotel seria dotado dos “últimos requisitos da arte”, tais como mobiliário fino, aparelhamento completo, nos dormitórios, com instalação de água corrente nos quartos, independente dos esplêndidos compartimentos de banhos em geral.
Também a cozinha, além de ter a assistência da família do proprietário, seria ocupada por um competente mestre da arte culinária que recentemente chegara do Prata.

As reformas

O jornal A Opinião Pública anunciava, nos primeiros dias do mês de setembro de 1928, que estavam sendo feitas as reformas internas do espaçoso prédio à rua Voluntários, esquina da Andrade Neves, onde funcionara o Hotel Gotuzzo, a fim de nele ser instalado o Hotel Lagache.
O seu proprietário, Sr. Joaquim Martins Filho, pensava inaugurar o novo estabelecimento até o dia 20 daquele mês, tendo já recebido numerosos pedidos de quarto.

A inauguração do Hotel Lagache

Conforme previra o proprietário, dia 20 de setembro de 1928, no espaçosos edifício à rua Voluntários, era inaugurado o moderno e confortável Hotel Lagache.
Era seu proprietário o competente profissional no ramo, o Sr. Joaquim Martins, o que, por si só, era garantia, dizia o jornalista, de que o novo estabelecimento seria atendido e dirigido com escrupuloso carinho.
Da visita que o repórter fizera, na véspera da inauguração, trouxe ele a melhor das impressões, já pelo cuidado que exerceram às diversas instalações, já pelo conforto que ofereceriam os seus aposentos.
Desde a entrada à cozinha, surpreendiam o bom gosto e o empenho do proprietário, em tornar o Hotel Lagache um estabelecimento de primeira ordem, “digno do progresso da cidade”.
Na saleta de espera, situada no longo corredor, coberto o assoalho com fino trilho aveludado, estava disposto confortável Maple [móvel de madeira] que convidava ao repouso.
A sala de refeições, ampla, clara, arejada, realçando a adequada decoração das paredes, recebia ar e luz em abundância de largas janelas abertas para uma agradável área.
Elegante mobiliário e um fino serviço de louças, cristais e christofle, completavam a magnífica dependência.
Todos os quartos eram amplos e ventilados, recebendo ar e luz diretos, princípio de higiene indispensável para a saúde, em especial nos estabelecimentos do gênero.
Eram providos de excelentes camas, fina mobília com roupeiros espelhados, pias, tapetes de veludo e outros itens, que recomendavam o modelar estabelecimento.
A cozinha era outro setor, instalada em uma grande e agradável peça, com luz e ar suficientes e que obedecia aos mais rigorosos preceitos de higiene.
Seria ela dirigida por competente profissional, que teria ao seu dispor outros elementos subalternos, também competentes.
O Hotel Lagache, que já tinha quartos ocupados, estava montado de maneira a corresponder satisfatoriamente a todas as exigências.
O ato de inauguração seria abrilhantado pelo jazz-band Chiquinho.
No ato da inauguração, foi solta uma girândola de foguetes.
Estiveram presentes muitas pessoas e representantes da imprensa, tendo o Sr. Joaquim Martins cercado a todos com muitas gentilezas, servindo no ato, sanduíches, doces e líquidos.
Durante todo o dia, o estabelecimento foi muito visitado, recebendo de todos ótima impressão, pelo conforto e elegância pela forma que estava montado.
À hora do jantar, novamente, se fez ouvir música, que durou até às 20 horas.

A morte do Doutor Saturnino de Britto, hóspede do Hotel Lagache

Aos 12 dias do mês de março de 1929, os jornais de Pelotas diziam ter repercutido dolorosamente o falecimento do Dr. Saturnino de Britto, ocorrido dia 10 daquele mês, no Hotel Lagache.
O eminente engenheiro foi surpreendido pela morte aos 65 anos de idade, quando se encontrava em viagem de observação aos trabalhos de saneamento da cidade de Pelotas, feitos pela empresa que dirigia.
O Dr. Saturnino de Britto era casado com a Sra. Alice Saturnino de Britto e, quando de sua morte, deixava os seguintes filhos: Francisco Saturnino de Britto, que se encontrava em Poços de caldas, Srta. Maria Alice Britto e o Sr. Augusto Saturnino de Britto.
Nascera o Dr. Saturnino de Britto em Campos, estado do Rio de Janeiro, a 14 de julho de 1864, formando-se em 1887 na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

A missa do 7º dia 

Aos 15 dias do mês de março de 1929, a família Saturnino de Britto convidava as pessoas de suas relações, para a missa do 7º dia que mandariam rezar, no dia seguinte, às 19 horas, na capela do Asilo de Mendigos, de Pelotas.

O Traslado dos restos mortais

De acordo com a vontade, testamentada, do eminente engenheiro Saturnino, a de que os seus restos mortais, após um prazo por ele determinado, fossem  repousar no Rio de Janeiro, no mesmo ataúde em que fossem dados à sepultura, vieram a Pelotas seus filhos e os fizeram embarcar, dia 12 de março de 1933, no paquete Itassucê.

Dr. Saturnino de Britto vira nome de rua em Pelotas

O Sr. coronel Joaquim Augusto de Assumpção, prefeito do município, aos 23 dias do mês de março de 1933, deu nome de Saturnino de Britto à rua que ligava a Manduca Rodrigues ao bairro Simões Lopes.
Prestava assim Pelotas a sua homenagem ao eminente engenheiro.
 
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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 20 de março de 2019

Hotel Gotuzzo, Pelotas

Hotel Gotuzzo, Pelotas


                                               A.F. Monquelat

Anúncio de um novo hotel em Pelotas

Dizia o jornal O Libertador de 22 de janeiro de 1926 que Pelotas seria dotada de mais um confortável hotel, instalado com todos os requisitos de higiene e dirigido diretamente pelo seu proprietário, com auxiliares competentes.
Queria o jornal se referir ao Hotel Gotuzzo, que seria inaugurado até o dia 15 do próximo mês, no vasto prédio à rua Andrade Neves, esquina da Voluntários.
O seu proprietário, Sr. Haroldo Gotuzzo, já havia adquirido todas as cobertas de mesa, louça de granito, material para a copa, de christofle, e móveis modernos da fábrica Patzer.
O novo hotel conteria 25 quartos com água encanada, revestidos todos de todo o conforto, sendo maitre o Sr. José Orlandi, o que, por si só, segundo o jornalista, já era uma recomendação.
Quanto à prática do seu proprietário, no ramo, era dispensável qualquer referência de tão conhecido que ele era, não somente dos clientes desta cidade, como dos forasteiros em geral.

As reformas do hotel

Em fevereiro de 1926, continuavam em atividade os trabalhos de adaptação do “vasto prédio” da rua Andrade Neves, esquina Voluntários, para nele ser instalado o novo Hotel Gotuzzo, do Sr. Haroldo Gotuzzo.
Os trabalhos estavam confiados à competência dos hábeis construtores Srs. Rodrigues & Cia, o que, por si só, era uma recomendação.
Assim, segundo o jornalista, dentro em breve, teria a cidade mais um estabelecimento de 1ª ordem, para o qual não tinha poupado esforços o seu proprietário.

A inauguração do hotel

No confortável prédio da rua Andrade Neves, esquina da rua Voluntários, tendo-se ali feito grandes reformas, visando melhoramentos e pinturas, foi, no sábado, dia 20 de março de 1926, inaugurado o novo Hotel Gotuzzo.
Logo à entrada, destacava-se um rico mobiliário de louro, cabides, uma porta-restante para cartas, livro de registro de passageiros e etc.
Via-se, em seguida, amplos e bem ventilados quartos para casal, como mobiliários da Casa Patzer; camas de ferro da fábrica Walding & Cia., de Porto Alegre e fornecidas pela casa de ferragens Behrensdorf, de Pelotas; eletricidade e acessórios fornecidos pela casa Buxton Guilayn; talheres christofle da casa Levy Frank & Cia.
Todos os quartos eram servidos por luz direta, belos e espaçosos. A cozinha, de primeira ordem, a cargo dos Srs. Honofre Teixeira e João Porto Alegre.
Tinha ótimos banheiros, tanto os masculinos quanto os femininos.
O novo hotel obedecia às mais modernas regras da higiene e tinha como gerente o Sr. José Orlandi.
Era uma casa de primeira ordem com vinte e tantos quartos, amplo salão de refeições estando dotada de todos os meios necessários para alcançar à altura a que tinha direito.
Ao seu proprietário, O Libertador desejava prosperidade.

A inauguração vista pelo A Opinião Pública

Com a inauguração, dia 20, do modelar Hotel Gotuzzo, Pelotas via-se servida de mais um fator preponderante de seu crescente progresso.
Tratava-se de um estabelecimento que, pelas condições em que estava montado, tornava-se um dos mais bem aparelhados, com todos os preceitos de higiene e conforto.
Seus inúmeros aposentos, para solteiros ou casal, providos de lindos móveis, lavatórios especiais, com luz direta e outras condições, eram as principais características de um estabelecimento moderno.
Nos apartamentos de banho e cozinha, verificava-se a preocupação de seu proprietário em corresponder às exigências mais indispensáveis do ramo.
Na inauguração, à noite, na sala de refeições, o Sr. Haroldo Gotuzzo, ofereceu à imprensa e demais convidados uma farta mesa de frios e líquidos, onde foram feitas várias saudações.
Ao novo estabelecimento, o jornal desejava prosperidade.

O Sr. Gotuzzo adquire o Hotel Roma

Em meados de abril de 1927, dando mostras de que havia prosperado, o Sr. Gotuzzo, proprietário do “conceituado Hotel Gotuzzo”, acabava de adquirir o Hotel Roma, situado à rua Andrade Neves, ao lado do Congresso Português [atual Centro Português] e distante daquele meia quadra.
Esse novo hotel funcionaria como anexo do Hotel, que ficaria dispondo, assim, de 45 quartos.
O Hotel Roma iria em seguida ser reformado completamente, sendo inclusive dotado de novo mobiliário, mais confortável.
Assim sendo, ficaria o Hotel Gotuzzo melhor aparelhado para atender o número sempre crescente de hóspedes que procuravam aquele conceituado estabelecimento.
Procurando obter informações sobre o Hotel Roma, encontramos tão somente uma ocorrência policial da década de 1880, na qual era dito que: por volta das sete horas da noite do dia 18 de maio de 1885, o súdito italiano Nicolau de tal, ex-proprietário do Hotel Roma, disparou em seu compatriota Severo Bannaro, mudo, estabelecido com sapataria à Rua General Osório, um tiro de revólver, atravessando o projétil o pulso de Severo e indo penetrar-lhe no peito, onde não foi extraído.
Chamado imediatamente o médico para primeiros socorros, Dr. Gervásio, este declarou tratar-se de ferimento grave.
A causa do crime, segundo o jornal Rio-Grandense, fora o jogo.
Poucos minutos antes, Nicolau e Severo jogavam em uma taverna na Rua Santa Bárbara [atual Marechal Deodoro] e, no calor do jogo, quase haviam chegado a vias de fato.
Severo se retirou e chegou à sua casa antes do agressor o alcançar.
Nicolau, instigado por castigar a mímica hostil de seu parceiro, chegou à porta do mudo e disse a um oficial [auxiliar de sapateiro] do mesmo que o fosse chamar.
O auxiliar de Severo foi chamá-lo, fazendo sinal que Nicolau empunhava um revólver, o que parece não ter sido entendido pelo mudo.
Dirigindo-se à sala, com uma vela na mão direita, ao aproximar-se de Nicolau, recebeu a queima roupa o tiro.
Após o crime Nicolau deitou a correr em direção à Rua Santa Bárbara, sendo perseguido pelo Sr. alferes Nuno de Macedo e por grande número de pessoas que logo se reuniram.
Quando Nicolau já ia sendo agarrado pelo alferes Macedo, entrou bruscamente na casa do Sr. Paulino Leite, escondendo-se dentro de um guarda-roupa.
A família, assustada, abandonou a casa.
O Sr. Nuno não tendo autoridade e não podendo, portanto, invadir a casa em que o assassino havia se refugiado, procedeu como lhe competia: pediu ao povo que a vigiasse, enquanto ia dar providências para a captura do criminoso.
Correu à polícia e ali encontrou o subdelegado Sr. tenente Ribas, que, acompanhado de algumas praças, dirigiu-se imediatamente ao local onde estava Nicolau e efetuou a prisão.
Voltando ao Hotel Gotuzzo:

Reunião de intelectuais no hotel

Segundo a imprensa, dia 1º de junho de 1927, entre as expansões da maior cordialidade ocorreu o almoço promovido por iniciativa do coronel Tancredo de Mello, colaborador do Diário Popular, e um estudioso dos assuntos históricos, em especial da história da imprensa do Rio Grande do Sul.
O almoço foi presidido pelo Dr. Augusto Simões Lopes, Intendente do município de Pelotas.
Ao champanhe, falou o coronel Tancredo, brindando a imprensa nas pessoas que ali representávamos jornais da cidade.
Em nome da imprensa, falou o diretor do Diário Popular, Dr. Jorge Salis Goulart que, referindo-se à pessoa do coronel Tancredo Fernandes de Mello, nele brindando aos verdadeiros amigos da imprensa.
Delegado por todos os presentes, o Dr. Victor Russomano, representante do jornal A Opinião Pública, saudou o Intendente municipal e a imprensa pelotense.
Por último, o intelectual Aristides Bittencourt, falou em nome do jornal Templário [jornal maçônico], que brindou o coronel Tancredo.
Depois de alguns comentários e sugestão para a criação de uma sociedade de letras nesta cidade, o Dr. Jorge Salis Goulart lançou a ideia da fundação de uma sociedade de estímulo às letras, visando a publicação de obras literárias entre outras.
Pouco tempo depois, o Hotel Gotuzzo desaparece e surge, no mesmo local,o Hotel Lagache,  assunto que trataremos em outra oportunidade.

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 13 de março de 2019

Os 4 chafarizes de Pelotas e seus destinos

Os 4 chafarizes de Pelotas e seus destinos


A. F. Monquelat


1°, dos quatro chafarizes, a ser inaugurado

Já faz algum tempo desde a última vez que falei sobre algum ou até mesmo sobre os quatro chafarizes instalados em Pelotas no século XIX pela Companhia Hidráulica Pelotense. 
Para que não haja dúvidas quanto a ter sido quatro e não três, os quais, por enquanto ainda se vê pela cidade, os chafarizes instalados pela Companhia Hidráulica Pelotense, damos aqui a localização destes quando do ato de instalação, suas mudanças de local e até mesmo o sumiço de um deles:
Baseado em notícia veiculada no Jornal do Comércio de 22 de julho de 1873, acreditamos que o primeiro chafariz a ser instalado na cidade de Pelotas foi o da praça da Igreja ou praça da Matriz , atualmente, praça José Bonifácio.
Em matéria posterior, ficamos sabendo que três chafarizes estavam assentados nos três primeiros pontos da cidade, e, “em breve”, o mesmo se fará ao quarto, logo que a câmara municipal tenha feito determinar o lugar conveniente.
Domingo, 05 de abril de 1874, como estava anunciado, teve lugar, na cidade de Pelotas, a inauguração das obras da companhia Hidráulica Pelotense.
2°, dos quatro chafarizes, a ser inaugurado

A câmara municipal, diretoria da Hidráulica e muitos dos convidados foram ao porto de Pelotas, que estava todo enfeitado, bem como o pequeno “mas lindo chafariz que estava coberto de flores, bandeiras e galhardetes”.
O chafariz recebeu a bênção do vigário da “freguesia”, Sr. Dr. Canabarro. 
Depois de que algumas girândolas de foguetes subiram ao ar, e saudações festivas anunciaram a inauguração do monumento e melhoramento “que orna o já tão próspero porto de Pelotas”.

Logo em seguida, foram todos à praça da Matriz, onde teve lugar as mesmas cerimônias da bênção de um outro chafariz, repicando naquela ocasião todos os sinos da igreja.

Finalmente, com imenso público, procederam à bênção do chafariz da praça Pedro II, “que é um verdadeiro objeto de arte e gosto”.
3°, dos quatro chafarizes, a ser inaugurado

Segundo palavras do jornalista que descreveu o ato: os chafarizes, de bronze, “são elegantes; principalmente o da praça Pedro II, em que quatro cavalos, que ornam a segunda bacia, atraem as vistas para a sua posição, e porque sobre eles a água espadana em mil gotas, que brilham aos raios do sol”.
Ali, o empresário Hygino Durão, querendo que o ato solene e que uma população inteira aplaudisse, alguém a quem pudesse ligar a mais grata lembrança, escolheu a três de seus escravos e concedeu-lhes a liberdade.
Depositadas as cartas em mãos do Sr. Machado Filho, este logo as leu em alta voz, e todos os presentes bateram palmas pela inesperada surpresa, “e que tão fundo devia calar no ânimo popular”.

O quarto chafariz

Aos dezesseis dias do mês de março de 1876, “finalmente” teve lugar a sessão extraordinária da Câmara Municipal, sob a presidência do sr. Urbano Martins Garcia, na qual foram lidos alguns ofícios enviados à Câmara, dentre esses o da Companhia Hidráulica Pelotense, “cientificando, que não sendo possível a colocação do 4º chafariz na praça da Constituição, além da ponte do Santa Bárbara [quase em frente ao atual prédio da Receita Federal], ela resolveu, para terminar delongas, comprar um terreno na rua S. Miguel [15 de Novembro], fazendo esquina, ao Sul, pela rua Sto. Inácio [Gomes Carneiro], onde poderá ser colocado o 4º chafariz, caso o ponto indicado mereça a aprovação da Ilma. Câmara Municipal”.

4°, dos quatro chafarizes, a ser inaugurado
Para que não pairem dúvidas e venha a pensar o leitor ser este 4º chafariz o “sumido”, é necessário informar que por ter sido o último dos quatro a chegar e ser instalado, todas as referências feitas a ele pela Imprensa da época foram as de o 4º chafariz. O “sumido”,porém, é outro.
O “sumido” é o chafariz instalado na Praça da Matriz [atual José Bonifácio] por volta de meados do ano de 1873, segundo o Jornal do Comércio de 22 de julho daquele mesmo ano, e que, segundo a imprensa da cidade, estava servindo de:

Lavadouro público

A Opinião Pública de 20 de março de 1914, relembrando matéria anterior publicada em outro jornal da cidade, na qual era denunciado o fato de se achar esburacada a bacia que circundava o chafariz da Catedral e de onde a água vazava em grande quantidade, alagando a Praça 15 de Novembro , acrescentava outra denúncia: a de que, diariamente, ali ia um senhor leiteiro que, sem a menor cerimônia, entregava-se à lavagem das “respectivas folhas [?]”, estendendo nas grades do chafariz os panos com os quais enxugava as mesmas.
O povo que passava por ali gozava com o espetáculo de ver o chafariz transformado em lavadouro público.
Reclamação atendida
No dia seguinte, o jornal folgava de registrar que o Sr. capitão Francisco de Jesus Vernetti, atendendo a reclamação feita de estar o chafariz da Catedral sendo transformado em lavadouro por um leiteiro, mandara para aquele local um guarda da polícia administrativa, a fim de evitar o abuso.
Entendia o jornalista ser digno de elogios a atitude daquela autoridade.

O Sumiço

O início da demolição do chafariz ocorreu no dia 14 de dezembro de 1914, e, dali, na época Praça 15 de Novembro, deveria ter sido levado para a Praça Júlio de Castilhos. O que não aconteceu, pois o chafariz sumiu. Escafedeu-se, e nunca mais dele tivemos notícia alguma.
É possível, dado os meios de transporte da época, que ainda esteja a caminho... 

De volta ao 4º chafariz 

 Retornando ao chafariz que esteve instalado e funcionando no local onde hoje se encontra o Corpo de Bombeiros de Pelotas, 15 de Novembro esquina Gomes Carneiro, dali foi levado para a Praça Cipriano Barcelos, sem ter a menor ideia do triste destino que o esperava: — longe dos olhos, longe da conservação; estando a correr o risco da completa destruição.
Ainda que suficientemente documentada a existência do 4º chafariz — maneira que a imprensa da época tratou – não é por demais trazer aqui outra prova cabal de sua instalação e funcionamento. Para tanto, valemo-nos desta vez de uma coluna publicada quase que diariamente no jornal A Opinião Pública, intitulada Notas do Dia, assinada por alguém que se denominava Vitú. 
Na coluna ou Notas do Dia de 28 de junho de 1901, diz Vitú que, por não dispor de espaço para as suas amolações, se limitaria a reclamar da Intendência ou da Hydraulica o indispensável tapamento, por meio de grades, do terreno em que se achava o chafariz “da Rua 15 de Novembro, esquina Gomes Carneiro”.
Segundo o colunista, aquele terreno não poderia continuar aberto não só porque aquilo contrariava as Posturas Municipais, como também estava o local transformado em “imensa e repugnante cloaca de quanto vagabundo infesta as ruas”. 
E prosseguia Vitú dizendo que no recanto por trás do chafariz havia tanta imundície que assombrava: era um flagelo para os vizinhos.
Concluindo, pedia o jornalista Arthur Oswald Hameister — que foi quem usou por longos anos o pseudônimo de Vitú — a atenção do Dr. Intendente, de quem se esperava uma medida que correspondesse aos interesses de todos os prejudicados.
Vai daí que dia 4 de setembro de 1910, era noticiado que começara, no dia anterior, a ser desmontado o chafariz à rua 15 de Novembro, esquina General Gomes Carneiro e que seria  transferido para a praça Marechal Floriano [Cipriano Barcelos], coitado, sem saber o que viria e vem lhe acontecendo...
  E, pasmem!, dizia a mesma notícia que seria removido também o chafariz da praça da República [Pedro Osório] para a Júlio de Castilhos.
Na praça da República “será construído o Theatro Municipal,...”, assunto que tratarei em outra oportunidade.
Já o chafariz da Praça Domingos Rodrigues, o primeiro a ser inaugurado e receber a benção do Sr. Dr. Canabarro naquela tarde de domingo, dia 05 de abril de 1874, tarde em que o porto de Pelotas esteve todo enfeitado, bem como o pequeno “mas lindo chafariz que estava coberto de flores, bandeiras e galhardetes”, teve melhor sorte ao sair do porto da cidade e vir para o Calçadão da Rua Andrade Neves. Teve mesmo melhor sorte? 

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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense e arquivo de A.F. Monquelat
Imagens: acervo de Luiz Roberto Cruz Pinto da Conceição e A. F. Monquelat
Revisão do texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 6 de março de 2019

Os bondes elétricos em Pelotas (parte 2, e final)

Os bondes elétricos em Pelotas (parte 2, e final)

A.F. Monquelat

O Alegre Passeio de Bonde

Anunciando a inauguração

Dia 19 de outubro de 1915, os Srs. Buxton, Olditch & C., de acordo com os convites já distribuídos, comunicavam que a inauguração definitiva dos bondes elétricos ocorreria no dia seguinte, 20 daquele mesmo mês, às 14 horas.
A comitiva sairia da Intendência Municipal e seguiria pelas ruas 15 de Novembro e Marechal Floriano até a Usina Elétrica, onde teria lugar o ato inaugural.
Uma vez terminado esse ato, a comitiva embarcaria novamente nos bondes fazendo o trajeto da Usina pela Estrada de Ferro e rua 7 de Abril [D. Pedro II], até o porto, voltando à Intendência onde se dispersaria.
Isso realizado, os bondes começariam a trafegar para o serviço público na linha da praça da República ao Porto, enquanto não ficasse concluída a construção do cruzamento das linhas na esquina da 15 de Novembro e 7 de Abril, que deveria levar uns dois ou mais dias.
        Os bondes sairiam da Praça e do Porto, a cada sete minutos.
Oportunamente seria publicado o horário definitivo das duas linhas.
Para facilitar aos Srs. Passageiros e o serviço do pessoal dos bondes elétricos, a Empresa resolvera oferecer ao público cadernetas de Bilhetes de Troco de 200 e 100 réis (que se encontravam à venda no Escritório à rua Marechal Floriano nº 54) os quais seriam apresentados aos condutores dos bondes em troco por bilhetes de passagem de igual valor. Os 200 réis correspondiam às passagens ordinárias, e os de 100 réis para os colegiais.
As cadernetas de colegiais vendidas até então, para viajar nos bondes à Tração Animal, seriam válidas também para os bondes elétricos até  se esgotarem.
A empresa Light & Power lembrava ao público que, de acordo com as condições de seu contrato (cláusula 21), os bondes parariam para subir ou descida passageiros, unicamente nas esquinas das ruas e pedia ao público, para o bom serviço e conservação do horário, não demorar em subir ou descer dos bondes.

A inauguração

O dia 20 de outubro de 1915, em Pelotas, foi um dia de festa para a população, que se movimentou euforicamente até altas horas da noite, realizada por ver materializada a antiga aspiração de possuir um serviço de bondes elétricos.
A inauguração desse serviço, conforme estava previsto, realizou-se naquele dia às 14 horas, na presença de mais de 4.000 pessoas.
Àquela hora já estavam no vestíbulo da Intendência municipal, além dos componentes da empresa Buxton, Olditch & C., construtora da linha de bondes elétricos, as altas autoridades administrativas da cidade, representantes da imprensa, profissionais liberais, capitalistas e comerciantes, convidados para assistir à inauguração da linha de bondes elétricos.
Entre as pessoas presentes, se encontrava o Dr. Cypriano Barcellos, intendente municipal, Dr. José Barbosa Gonçalves, ex-intendente e quem abriu licitação para a construção das linhas de bondes, e dezenas de outras pessoas representando os mais diversos segmentos da sociedade pelotense.
Todas as imediações da intendência e da praça da República estavam repletas de povo.
Em frente ao paço municipal, estavam estacionados quatro bondes elétricos, o primeiro dos quais vistosamente ornamentado com flores e bandeiras de várias nacionalidades.
A convite do Sr. Coronel Emílio Guillayn e do representante da firma Buxton, Olditch & C., tomaram lugar, no bonde da frente, os Srs.
        Cypriano Barcellos, intendente, Coronel Pedro Osório, Dr. José Barbosa Gonçalves, Dr. Joaquim Augusto de Assumpção e outras pessoas “altamente representativas”.
Os outros bondes foram ocupados pelos demais convidados.
Depois dos preparativos necessários, puseram-se em marcha os veículos, sob aclamações da multidão, seguindo pela rua 15 de Novembro até a rua 3 de Maio, de onde deram volta para entrar na 7 de Abril, Vieira Pimenta, avenida Vinte de Setembro, até a Usina Elétrica.
Ali, desceram todos os convidados, para dar início ao ato de inauguração.
Bonde dois andares

Aos presentes, foi servida uma taça de champagne, tendo nessa ocasião o Sr. Coronel Emílio Guillayn feito uso da palavra, dando por inaugurado o tráfego de bondes em Pelotas.
Seguiu-se com a palavra, o major Luiz Pennafiel, em nome do Dr. Intendente municipal. Depois  o Capitão João Simões Lopes Neto, diretor do Correio Mercantil, em nome da imprensa local e que encerrou saudando o Coronel Emílio Guillayn.
Falou também o Dr. José Barbosa Gonçalves, que saudou ao coronel Pedro Osório, como um dos mais fortes esteios de todos os melhoramentos de Pelotas.
A seguir, todos os presentes voltaram a tomar lugar nos bondes, que seguiram pela Avenida 20 de Setembro, praça Rio Branco, ruas Vieira Pimenta, 7 de Abril, 15 de Novembro, Benjamin Constant, José do Patrocínio e praça Domingos Rodrigues, no porto da cidade, de onde regressaram pelo mesmo trajeto até a Intendência, onde se dispersou a comitiva, depois de terem os presentes cumprimentado o representante da firma Buxton, Olditch & C., o Dr. Cypriano Barcellos, o Dr. José Barbosa Gonçalves e o Coronel Emílio Guillayn.
Por todos os lugares que os elétricos passavam, era geral a admiração.
Depois, foram os quatro carros entregues ao tráfego público, sendo os lugares nos bondes disputados com verdadeira ânsia, até depois da meia-noite, pela multidão de homens e mulheres, que até àquela hora ainda se encontravam nas imediações da praça da República.
Os bondes elétricos entregues ao tráfego eram elegantes, confortáveis, e bastante iluminados.
Os motorneiros, fiscais e condutores apresentaram-se fardados com uniforme cinzento.
A usina estava toda embandeirada.
Durante o ato da inauguração, o fotógrafo Sr. Clemente Schintich bateu várias fotografias do evento.
Os industrialistas Srs. M. Fagundes & C., proprietários da fábrica de fumos S. Manoel, ofereceram às pessoas presentes à inauguração volumosas amostra do fumo Peruano e Java.
Foram vendidas, no dia da inauguração, 3.794 passagens, no total de 758$800.
No dia seguinte, trafegaram dois bondes para o porto e um para a estrada de ferro, de 15 em 15 minutos.

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: Acervo da Bibliotheca Pública Pelotense e de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen