segunda-feira, 17 de julho de 2017

Fantasmas, lobisomens e casas assombradas (parte 1)



Pelotas conta em sua trajetória com muitas e muitas histórias envolvendo fenômenos nem sempre explicáveis, ou, pelo menos, soluções razoáveis diante dos eventos.
         Teve por exemplo, dentre outros acontecimentos, barulhos sinistros, ranger de portas, vultos fantasmagóricos em velhos casarões ocupados pela pobreza, que os transformara em cortiços e que não cessavam nem mesmo diante da presença e vigilância das autoridades policiais.
         Grande parte desses eventos data do século XX, ainda que existam registros, pelo menos noticiados pela imprensa, em século anterior.
         Dentre os casos famosos e que despertaram a curiosidade pública, estão o do Fantasma da Luz e o Fantasma da Rua Voluntários. Na zona da Várzea, ficou célebre o do Lobisomem da Várzea, que, na verdade, eram dois e não um Lobisomem apenas.

         Tais fatos, hoje quase inexistentes, chegaram até o final da década de 50, no máximo 60. Lembro ainda, que na década de 50 ao acompanhar meu tio até os matadouros das Três Vendas, onde ele buscava produtos suínos para o seu comércio nas feiras ambulantes, durante o trajeto ele apontava algumas entradas de propriedades com grandes portões de ferro, e me dizia ser aquela, ou aquela outra, uma propriedade mal-assombrada. Mesmo assim, e sem ter visto algo que me levasse a acreditar em tais coisas, apesar de cético: Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay, lembrando Don Quijote.




         Outro fenômeno, e que sem dúvida alguma foi o que mais páginas da imprensa e maiores comentários por parte da população obteve, foi o das casas apedrejadas, sem que houvesse qualquer explicação, em sua grande maioria, para tais ocorrências.

         Nasci em uma dessas casas, cujo fenômeno durou cerca de uma semana sem que meus pais soubessem a origem da chuva de pedras, até que de repente, não mais que de repente, deixasse de chover pedras em nosso telhado.

         Um desses casos, e que causou grande repercussão na cidade, foi o ocorrido no ano de 1908, em certa casa localizada na hoje Avenida Bento Gonçalves, entre as ruas Deodoro e Osório. Os jornais da época descreveram mais ou menos assim: eis um caso, que há muito eles não registravam em suas páginas.

         Registros que por esse mundo a fora, a imprensa estava acostumada a noticiar. Desses que aos espíritos supersticiosos fazia crer em fantásticas aparições ou elucubrações satânicas, pois não era que, há algumas noites no tal prédio, onde residia Conceição Marques Figueiredo e seus irmãos José, de 10 anos, Joaquim e Jerônimo, filhos de José Marques de Figueiredo, - que fora assassinado há pouco no Prado Pelotense, em conflito com Luiz Nicolau Gronus que se encontrava preso e, na época, respondendo a processo, - vinha sendo misteriosamente apedrejado, sem que soubessem de onde partiam as pedras... mágicas.

         Houve até quem dissesse que aquilo era obra de alguma alma que andava errante pelos espaços, pagando males que havia praticado na terra.

         Outros, diziam que na casa alvejada existia um corpo enterrado, que daquela forma, agora, resolvera se comunicar.

         Outros, ainda, que o referido prédio fora, no passado, habitado por feiticeiros, que ali haviam deixado o encanto de suas mandingas e bruxarias, tornando-o, por isso, assombrado.

         Vizinhos do armazém do finado Álvaro Ely, localizado na esquina próxima a casa assombrada, por sua vez, diziam ter visto o vulto do assassinado José Marques de Figueiredo, amarrado pela cabeça, de pés para cima, jogando pedras, à meia noite, na casa em que residia.

         Acrescentavam eles que isso acontecia quando Conceição Figueiredo chamava pelo cão que possuía cujo nome era “Rompe-Ferro”.

         Quando Conceição gritava o nome do cão, como que por encanto, começava a chuva de pedras.

         Entretanto, no meio de todas aquelas conjecturas fantasmagóricas de arrepiar couro e cabelo dos supersticiosos, o fato é que os moradores vizinhos da casa apedrejada encontravam-se sobressaltados, incapazes até de pregar olho durante a noite e a fazerem o Cruz Credo para espantarem o demo, receando serem visitados pelas almas errantes que costumavam, segundo alguns ou costumam, segundo outros, se divertirem à noite, em “dar por paus e por pedras”.

         A imprensa, procurando ouvir a moradora da casa, Sra. Conceição Marques Figueiredo, vizinha do armazém do falecido Álvaro Eli, estabelecimento situado à Avenida Bento Gonçalves, esquina Marechal Deodoro.

         Disse ela ao repórter, o seguinte:

         - Que Emílio Miller, caixeiro do armazém e sócio da viúva de Álvaro, dia 19 daquele mês de março, às 15horas, espancara, em plena rua, a seu irmão José, menor de 10 anos de idade;

         - Que o motivo daquele ato de brutalidade por parte de Emílio, segundo ouvira dizer, foi o fato de José brincando, ter brigado com outro menor, irmão de Emílio;

         - Que fora ela ao armazém saber de Emílio o verdadeiro motivo de ter ele espancado José:

         - Que ali, Emílio com maus modos não somente a destratou como lhe disse que assim como batera em José, bateria nela também;

         - Que seu irmão Jerônimo Rodrigues fora também ao armazém tomar satisfações da viúva de Álvaro Ely, ao que ela respondeu que não queria conversa com bandidos ou com um simples boleeiro de carro [condutor de carroça];

         - Que se dirigiu, então, ao 3º posto, onde apresentou queixa ao tenente-coronel Cristóvão José dos Santos, delegado de polícia;

         - Que aquela autoridade mandou intimar a Emílio Miller a comparecer à sua presença, indo, porém, em seu lugar, a viúva de Álvaro Ely, que se empenhou com o delegado de polícia para que não prendesse Emílio, dizendo ser ela, viúva, ter nove filhos e que Emílio era seu sócio e o seu único amparo;

         - Que, entretanto, Emílio ia ser preso;

         - Que foi então Emílio procurar outro de seus irmãos, o Joaquim, com quem se abraçou, pedindo-lhe que o perdoasse;

         - Que Joaquim, sensibilizado, perdoou, indo pedir ao delegado de polícia que nada fizesse contra Emílio;

         - Que tudo aquilo se passara quinta-feira, 19 daquele mês e que, às 22 horas daquele mesmo dia começara o apedrejamento, sendo, porém, as pedras arremessadas à casa de uma “preta” vizinha;

         - Que no dia seguinte, sexta-feira, dia em que o diabo andava solto, o apedrejamento começara às 20 horas da noite, sendo sua casa alvejada até a meia-noite;

         - Que o bombardeio fora contínuo e horrível;

 

 

                                                                                              Continua...

        

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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
 Revisão do texto: Jonas Tenfen

Postagem: Bruna Detoni

4 comentários:

  1. Adoro essas histórias...cresci escutando o meu pai contando casos de quando era jovem e morava no Fragata. Em que segundo ele, viu lobisomem na Gotuzzo, vampiros, fogo fátuo nas colônia e espíritos que per tubavam as pessoas no antigo Parque Pelotense. Parabéns pelas postagens

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  2. Israel, valeu mais uma vez, e Pelotas está povoada dessas histórias. Abraço.

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  3. Grato, Ilanah. É bom tê-la aqui conosco. Abraço.

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