segunda-feira, 12 de junho de 2017

Constantina, a mandingueira (parte 2 e final)




... tinha sido enfeitiçada por alguém que se interessava por separá-los, feitiço esse que fizera o maior efeito, pois a cuja se voltara inteiramente para o empregado do amante.
         O infeliz, sem ânimo para reagir, duplamente enfeitiçado que andava, não só pelo feitiço propriamente dito, como pelo feitiço verdadeiro, que era o demônio da rapariga ter dado para andar triste, desajeitado, chegando ao ponto de chorar.
         Assim, foi ele consultar com a Constantina.      
         Constantina, que tanto era perita em unir quanto em desunir, deu-lhe um excelente remédio, que o ingênuo ministraria à ingratona.
         Foi tiro e queda. Ela brigou com o caixeiro [balconista] e voltou novamente a amar o patrão.
         A feiticeira contou o fato, ao jornalista, tão despudoradamente, que ele achou que ela estivesse zombando dele.
         Mudou ele, então, de assunto para não acabar estourando de rir.
         Perguntou a ela se era possível esconder a gravidez, ao que Constantina em seguida respondeu:
         - Sem dúvida alguma. Eu tenho um remédio que livrará a menina de desgostos futuros, pelo ato que vai praticar.
         E, a seguir, contou-lhe outra história:
         - Há um homem, casado, que está de amores com uma moça solteira. Ela está tomando o remédio de que lhe falo, e graças a ele ninguém sabe disso.
         - No caso de gravidez? – inquiriu o jornalista.
         - Ah! Isto é outra coisa! Não tenha medo. Há também remédio para o desmancho.
         Dizendo isto, a Constantina, sempre risonha, sempre amável, foi a outro compartimento da casa, de onde voltou com uma pequena garrafa.
         - Aqui está o remédio. Faça com que a sua preferida tome isto às colheres de sopa, pela manhã cedo e à noite.
         Aconselhou ainda o meio que ele deveria usar para que o remédio fosse tomado com toda a confiança, sugerindo um sem número de pretextos e, por último, pôs-se inteiramente às ordens do “cliente”... para o resto.
         Acreditava ele que o tal remédio fosse apenas um meio inocente, que a mandingueira usava para enganar papalvos; mas, esperava o resultado da análise.


O resultado da beberagem da Constantina
         “Escola de Agronomia e Veterinária – Laboratório de Química
         Nº 1802                                                     Rs. 25.000
         Recebi do jornal O Dia 300cc de um líquido de cor amarela para analisar.
         Analisada resultou:
         Álcool a 15º c. de temperatura... 32 c.
         Cheiro muito forte de guaco.
         Grande quantidade de açúcar redutor (talvez) mel.
         Foram negativas as pesquisas de canela, cantáridas e alcalóides.
         No fundo da pequena garrafa de Maag-Bitter, na qual nos foi trazido o líquido, existia um pequeno depósito de areia vermelha e de um pó escuro em mistura com detritos vegetais.
         A pesquisa de matérias minerais nesse pó revelou:
         Ácido fosfórico, cal, traços de arsênico e de sódio.
      A pequena quantidade do líquido restante não nos permite a continuação da análise.
         Luiz G. Gomes de Freitas”.
        Em vista do resultado da análise, o jornal alertava que ficassem os D. Juan cientes de que a Constantina, com um pouco de álcool, guaco, areia de cemitério, arsênico e sódio, matérias que por certo ela não conhecia, e que vieram na areia, consegue que as meninas perdessem a cabeça e acompanhassem romanticamente, sem mais aquela, o namorado pouco escrupuloso e velhaco, que deixara cair na gaveta da madraça uns cobres...
 



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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV Revisão do texto: Jonas TenfenPostagem: Bruna Detoni

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