quarta-feira, 18 de março de 2020

Entreguerras em Pelotas – Parte 03 O grande dia do Fascismo


Entreguerras em Pelotas – Parte 03O grande dia do Fascismo 


A. F. Monquelat
Jonas Tenfen



Prisão de Professor na Barbuda


            É notícia do jornal A Opinião Pública, de agosto de 1918, a prisão do professor Gustavo de tal que lecionava em língua alemã, somente em língua alemã, em um colégio clandestino na Barbuda.
            Recebera denúncia o intendente municipal, sr. dr. Cipriano Barcellos, que esta instituição de ensino funcionava na residência do agricultor Hans J. Crucius, localizada na Barbuda, 2° distrito deste município.
            No dia do fechamento da matéria, o subintendente, sr. capitão Pedro Dias, realizou batida de surpresa na casa do agricultor, encontrando sim as instalações de uma pequena escola. Na grande pedra negra que servia de lousa no recinto, havia alguns dizeres em alemão; os livros, e todo o mais que se encontrasse de material didático, estavam impressos apenas em germânico.
            Depois de preso, o professor Gustavo foi transportado para ser recolhido ao 2° posto.

Nota


            Depois da notícia reproduzida acima, não encontramos mais fechamento de escolas alemãs em Pelotas no período que compreende o fim da Primeira Guerra Mundial e o Entreguerras. Depois de afastadas do centro, do entorno, naquele momento foram fechadas no interior do município. A conclusão desenhada aqui é a de que as escolas que ensinavam somente em língua alemã foram extintas no período, embora continuasse a circulação de material impresso de forma mais ou menos clandestina.
            Passaremos agora a um período específico do Entreguerras, quando uma série de ideias europeias começou a circular nos centros urbanos. Pelotas não poderia ficar de fora, por isso

Saudação Fascista no Guarany


            A Ilustração Pelotense, em seu décimo número, descreveu a visita à cidade de Rio Grande e de Pelotas, principalmente desta, da Nave-Exposição Itália, um cruzeiro de propaganda pelos países da América Latina.
            A agenda da visita das autoridades e artistas na cidade de Pelotas – referida na matéria como Embaixada Itália – começou com a recepção do intendente, dr Pedro Luiz Osório, visita à praça de desportos do S. C. Pelotas, chá oferecido pelo 9º batalhão de caçadores, seguida de banquete no Club Comercial, espetáculo no Guarany, por fim baile no Club Comercial (marcado para as 11 horas da noite). A comitiva italiana era acompanhada por um séquito de autoridades locais, bem como jornalistas.
            No Guarany, evento que contou com descrição mais acurada do jornalista, era muito esperado os concertos do pianista Buffaletti e do violoncelista Bonucci. Antes, contudo, marcha executada pela banda do 9º de Caçadores anunciou a chegada dos nobres visitantes: “ao lado do Dr. Intendente, o Embaixador Giuriti estendeu o braço na bela e sugestiva saudação fascista, correspondendo aos aplausos vibrantes da assistência.”
            Ao fim das peças musicais, antes da ida do séquito ao baile, o dr. F. O. proferiu “um eloquente discurso de saudação à Itália, cheio de encantadoras imagens e de profundos conceitos”.
            A matéria era ilustrada por três clichês, sem nenhuma foto da Embaixada na cidade de Pelotas: de Edda Mussolini (com a legenda: “Edda Mussolini, filha de Benito Mussolini, a insigne colaboradora na obra extraordinário que foi o grande surto do Fascismo na Itália gloriosa”), de D’Annunzio (com a legenda: “D’Annunzio, o poeta soldado”) e de Benito Mussolini fazendo a saudação fascista (por conter autógrafo na imagem, ou por não ter necessidade de explicação à época, não conta com legenda).


O grande dia do Fascismo


            Nas páginas do Diário Popular, do dia 30 de outubro de 1924, a um título que chama a atenção: A Nova Itália. Abaixo deste título, sob a moldura de folha, duas fotos eram encontradas: uma de D’Annunzio outra de Mussolini.
            Mussolini, figura histórica, dispensa maiores apresentações neste artigo. Contudo a memória sobre Gabriele D’Anunnzio não é tão presente aos brasileiros contemporâneos. Foi escritor e político, que exerceu grande influência sobre as estratégias de Mussolini de organização do estado fascista. Há vários debates hoje sobre até que ponto esta influência foi válida e se Mussolini não corrompeu as ideias do poeta – mais socialista que propriamente fascista. Contudo, há época, as menções a D’Annunzio era frequente entre os apreciadores de literatura ocidental bem como entre os camisas pretas.
            Abaixo das duas fotos, o título “O grande dia do fascismo” e a explicação do que se propunha ali: “A patriótica seção, em Pelotas, do disciplinado partido que, na gloriosa Itália, obedece a direção suprema do eminente político Benito Mussolini comemora, hoje, o 2° aniversário da entrada em Roma da valorosa falange ‘Camisa Preta’. Saudamo-la pela querida data.”
            Às 20 horas, na Bibliotheca Pública de Pelotas, estava programada recepção com a seguinte organização:
            * conferência pelo dr. E. R., secretário da seção;
            * conferência pelo dr. J. L. O, em nome dos brasileiros simpáticos à política italiana;
            * sob a regência do maestro A. C., seria cantado o vibrante hino fascista (“Giovinezza, Giovinezza!”) por um grupo de senhorinhas e cavalheiros.
            O ato, que foi público, contaria também com a presença de autoridades, corpo consular e exmas. famílias de ambas as nacionalidades.

Reunião Fascista


            Em novembro de 1926, o jornal A Opinião Pública trouxe matéria breve sobre o desenrolar da reunião fascista que ocorreu na noite da última segunda-feira, mais especificamente, uma reunião da seção local do partido nacional fascista.
            O presidente da seção local, dr. E. R., “abriu sessão mandando ler o verbal da última reunião e dando uma relação do trabalho executado pelo diretório durante estes últimos meses.” O objetivo da cerimônia realizada era o de “comemorar a data histórica da marcha sobre Roma, mas aproveitava a ocasião para solenemente declarar aceitos onze novos inscritos e apresentá-los aos companheiros de fé e de trabalho.”
    O presidente revisou algumas normas disciplinares que devem ser seguidas pelos fascistas no estrangeiro, em especial sobre o respeito às leis e autoridades locais, antes de entregar os distintivos de fascista aos neófitos.
            Depois, teve início a comemoração da data através de eloquente discurso patriótico, revisando os fatos históricos referentes à marcha, encorajando os companheiros à busca do “completo triunfo do maravilhoso empreendimento que virá reconduzir a Itália ao caminho glorioso da antiga Roma.”
            Fechando a sessão, leitura de telegramas e comunicações de fascistas de várias partes do globo.

------------------
Fonte: Cedov – Bibliotheca Pública Pelotense. A Ilustração Pelotense foi acessada por meio da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.


Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário