quarta-feira, 12 de junho de 2019

Carlos Ritter e a contribuição industrial para Pelotas (parte 2)

Carlos Ritter e a contribuição industrial para Pelotas
(parte 2)


A.F. Monquelat
Jonas Tenfen


Antes de nos atermos a descrever a fábrica do Sr. Ritter, gostaríamos, ainda que de forma sucinta, trazer algumas informações sobre a famosa Exposição Brasileira-Alemã ocorrida em Porto Alegre entre os anos de 1881/1882, inclusive sobre o incêndio ali ocorrido.
Aos 23 de setembro de 1881, lia-se, no Diário de Pelotas, que a indústria pelotense seria dignamente representada pelos Srs. Jacob Klaes, Ruiz Dias & Irmão, Cincinato Soveral, Eduardo da Silva Carvalho, Carlos Ritter, João Guilhermet Schreiber, F. C. Lang, Gustavo Hugo Elst e vários outros que enviaram seus produtos para participarem da Exposição Brasileira-Alemã.
Os Srs. Carlos Ritter, João Guilhermet, Schreiber & Filho e Ernesto Eifler mandavam também diversas qualidades de cerveja fabricadas em seus estabelecimentos. A cidade de Pelotas, naquela época, contava com 5 fábricas de cerveja.
Além dos citados, outros industriais da cidade participariam, honrando dessa forma a indústria pelotense e tornando-a ainda mais conhecida, no entender do redator da notícia.
Informa a imprensa de Porto Alegre que constava do Catálogo da Exposição Brasileira-Alemã - catálogo este impresso pela Typographia do Deutsche Zeitung, de Porto Alegre, e traduzido para o idioma alemão pelo jornal Deutsche Post ,de São Leopoldo -, mais de 11.000 objetos expostos.
Dentre outros tantos trabalhos expostos que chamaram a atenção do júri e do redator da Gazeta de Porto Alegre, destaque obteve os dois grandes quadros, representando as armas brasileiras e alemãs, feitos de borboletas e coleópteros, dos quais se via um sobre a mesa, que o jornalista acabara de examinar, e outro na posição “correspondente ao outro lado da praça d’armas”.
Esses trabalhos do Sr. Carlos Ritter, de Pelotas, prosseguia o jornalista, eram ao mesmo tempo obras de arte e subsídios à ciência, e, como tais, dignos de especial distinção.
Em tal ramo, ele jamais vira coisa melhor, e o Sr. Ritter podia orgulhar-se com razão da distinção que obtivera em comparação com outros idênticos trabalhos, também de primeira ordem.

A medalha de ouro do Sr. Carlos Ritter na Exposição

Aos 20 dias do mês de janeiro de 1882, o jornal Gazeta de Porto Alegre noticiava que, no dia anterior, o júri terminara os trabalhos de julgamento dos objetos que compunham a secção científica.
Na secção brasileira, foram premiadas, com medalha de ouro, as coleções de borboletas e coleópteros do Sr. Carlos Ritter (Pelotas), as coleções de pássaros do Sr. Schaun (São Lourenço), do qual falaremos posteriormente, as coleções do Sr. João Schroeder e a coleção etnológica que se achava exposta.

Os distúrbios e o incêndio do prédio da Exposição

Em virtude das desordens e distúrbios ocorridos no dia anterior (09.02.1882) no recinto da Exposição, por ocasião da distribuição de prêmios, com prejuízo da propriedade alheia, que ainda se encontrava no prédio, requereu a diretoria da Sociedade Filial de Geografia Comercial ao Presidente da Província a nomeação de uma comissão especial, encarregada de dar o seu parecer sobre a premiação, suspendendo a entrega dos mesmos até que tenha sido dado e publicado o parecer da respectiva comissão, segundo notícia divulgada na imprensa de Porto Alegre. 
À noite do dia posterior ao dos distúrbios e desordens, ardeu o prédio onde até então estava instalada a Exposição Brasileira-Alemã.
Desde a manhã do dia 23 de fevereiro, havia ajuntamento de pessoas.

Em vista dos distúrbios promovidos no dia anterior, por causa dos prêmios de pequeno valor, que no sorteio preencheram o lugar dos bilhetes em branco na loteria, resolvera o diretório da Sociedade Filial pedir ao Exmo. Sr. Presidente da província, a nomeação de uma comissão de sindicância, para dar parecer sobre o valor dos prêmios e a moralidade do sorteio além de suspender a entrega destes até a divulgação pública do julgamento da comissão.
O Sr. Dr. Joaquim Pedro Soares nomeou, imediatamente, uma comissão composta dos Srs. Lavra Pinto, Júlio Furtado e Joaquim Carvalho Bastos, sendo o fato comunicado aos portadores de bilhetes, através de um aviso por escrito, colado na porta do prédio, destacando o governo da província um guarda ao mesmo prédio.
Às 17 horas, começaram a juntar-se muitas pessoas e, dando-se as manifestações costumeiras em tais momentos, tentaram demolir o prédio, quebrando todas as janelas. Por volta das 20 horas, mais ou menos, rompeu o fogo. Dentro de uma hora estava o palácio da Exposição reduzido a cinzas com tudo quanto havia dentro em mercadoria estrangeiras e objetos da secção brasileira, prêmios da rifa, livros, papéis, diplomas, etc.
A perda em objetos foi de inestimável valor não somente para os seus proprietários, mas, em especial, para as ciências.

A fábrica de Carlos

No primeiro subterrâneo, estavam estabelecidos dois enormes fornos caldeiras, de cobre, que serviam para aquecer a água, cerveja, etc., cada um com capacidade para cinco mil e duzentas garrafas.
No centro, havia uma enorme tina de madeira destinada à infusão da cevada.
Ao lado, uma bomba aspirante, movida a braço, que conduzia a cerveja do tanque para o resfriadouro, que estava colocado no alto do prédio.
Por uma escada caracol, subia-se para o primeiro andar e ali via-se um bom moinho, fabricado por Kleyer & Beck de Darmstadt, Alemanha, destinado a moer a cevada, e outro da marca Penney & C., de Lincoln, estados Unidos, para a seleção deste cereal, em seguida estava o depósito de cevada, e que servia também de carpintaria para o serviço do prédio.
Voltando à escada, subia-se ao 2º andar, onde se via um enorme tanque de zinco destinado ao resfriamento da cerveja, podendo comportar de doze à treze mil garrafas.

Continua...


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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Postagem: Jonas Tenfen

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