Eusébios:
três feiticeiros da pequena África
pelotense
(parte
2)
Cândida e sua filha Brandina acusaram Eusébio de praticar a
feitiçaria e de viver à custa da exploração feita a pobres mulheres, que
moravam em sua companhia.
Acrescentaram elas que o dinheiro ganho por aquelas
mulheres, em seus empregos, era por ele usufruído.
Segundo as duas “pretas”, a casa de Eusébio Silva era um
verdadeiro “museu de feitiçaria”.
De acordo com informações colhidas pelo jornalista, na casa
de Eusébio, que ficava no centro da cidade, realizavam-se seguidamente
batuques, os quais, não raro, acabavam em grosso sarilho.
Cândida tinha mais duas filhas menores, Palmira e Maria
Emília, as quais se achavam em companhia de Eusébio.
Em seguida que as filhas de Cândida estiveram no 1º posto, este
comunicou a denúncia ao 3º posto, a cuja circunscrição estava afeto o caso.
Na Rua General Argolo nº 456, estiveram dois guardas do 3º
posto, para tomarem conhecimento do fato.
Cândida foi intimada a prestar depoimento naquele posto
policial.
No dia seguinte ao ocorrido, voltava o jornal A Opinião Pública a trazer novas notícias sobre o fato. Informava que o
“preto Eusébio”, morador à Rua Andrade Neves nº861 e contra quem a “infeliz
preta” Cândida Silva se queixara de tê-la espancado brutalmente, fora preso
pelo Sr. tenente Francisco Vernetti, subintendente do 1º distrito.
Na residência de Eusébio, foi encontrado um verdadeiro
arsenal de bugigangas que serviam, segundo o jornal, para confirmar as
informações recebidas de que “aquele indivíduo exercia a feitiçaria”.
Entre esses objetos achavam-se dois bonecos, aos quais
Eusébio dava o nome “de São Cosme e São Damião”, além de outro, maior, chamado Santo Antônio.
O Sr. tenente Vernetti apreendeu tais objetos, fazendo
recolher o “feiticeiro” ao 3º posto.
Dali, foi Eusébio removido para o 6º posto policial, no
Areal.
São Cosme e São Damião que o valessem, finalizava o
jornalista.
Aos 20 dias do mês de dezembro de 1912, o jornal a Opinião Pública referindo-se a
Eusébio, denominando-o de curandeiro manque [fracassado, charlatão], dizia que
este estava se tornando cada vez mais célebre pelas suas façanhas, arvorando-se
em curandeiro.
Informava a matéria, que há algum tempo, enfermava no lugar
conhecido como Passo do João Padre, pouco além do Monte Bonito, a mulher do
pardo Paulo de tal, empregado na turma de operários da estrada da colônia Santo
Antônio.
Agravando-se os padecimentos da referida mulher, Paulo
trouxe-a para a cidade, a fim de consultar um médico.
Aqui chegando, Paulo foi levado à casa do “patife
curandeiro”, o qual lhe pediu a importância de 40$000 [réis], uma cabrita e uma
ovelha, bem gordas, dizendo que com o sangue destes animais ele faria o remédio
para curar a enferma.
Paulo tratou, em seguida, de providenciar, conseguindo com
grande sacrifício a importância, a cabrita e a ovelha.
Eusébio, segundo o jornalista, naturalmente guardou os
bichos para festejar o Natal, realizando em sua casa batuques, que tanto
incomodavam a vizinhança.
Depois de ingerir o remédio fornecido pelo “explorador”, a
infeliz mulher” começou a manifestar sintomas de loucura.
O fato foi levado ao conhecimento do capitão Francisco
Vernetti, subintendente, que mandou intimar Eusébio, que viajara para Rio
Grande.
Com aquele ocorrido, dizia o jornal, era o terceiro ou
quarto fato grave, cometido por Eusébio, a quem aquela autoridade deveria dar o
castigo merecido.
A última notícia encontrada sobre o nosso personagem, nos vem
através do jornal O Rebate de 21 de
dezembro de 1917, na qual sob a denominação de “Queixa”, nos é informado que o
Sr. Gabriel Barcellos, residente à Rua Marquês de Caxias [atual Rua Santos
Dumont] nº 570, apresentara, naquele dia, queixa na delegacia de polícia contra
o “curandeiro” Eusébio Silva dizendo que, tendo “há dias” falecido um homem de
“cor preta”, que morava próximo a sua residência, o qual durante a sua
enfermidade fora cliente do “referido curandeiro” e este, como uma formalidade
da sua “maneira de tratar”, despiu o cadáver e jogou todas as vestes deste, bem
como roupa de cama, colchão e travesseiros, em um poço ali existente, e de onde
todos os moradores daquelas imediações se abasteciam de água.
Dias depois, por acaso, descobriram “essas imundícies” no
citado poço, pois, tendo caído um balde ali e alguém tratando de apanhá-lo, ao
invés de pegar o balde começou a recolher as vestes que pertenceram ao cliente
de Eusébio, vindo então a descobrirem o ocorrido.
Já era muita falta de escrúpulo, dizia o jornal.
Continua...
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Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni
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