quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O pecado (parte 12)






Distúrbio em baile à Rua do Imperador

Diz o Onze de Junho de 17 de abril de 1888 que, sábado, em uma casa à Rua do Imperador [atual Felix da Cunha], onde funcionara a loja maçônica Rio Branco, estavam entregues aos prazeres da dança diversos indivíduos, sendo a maior parte deles vagabundos de profissão e muitas damas de baixa hierarquia.
Eles e elas dançavam desassombradamente, levados nas asas do prazer, sem temor de que a polícia os fosse incomodar porque, segundo o jornalista, apresentavam orgulhosos, a licença que a autoridade policial lhes havia concedido.
No auge do maior entusiasmo, porém, uma nota destoou em meio à harmonia que reinava e formou-se um grosso rolo.
O cacete imperou; as facas brilharam à luz das velas de sebo; os revolveres saíram dos bolsos; uma gritaria infernal ergueu-se e os contendores saindo da sala do baile, foram terminar a tremenda contenda à Rua Santa Cruz, onde os ânimos acalmaram-se talvez pela influência da fresca viração que então ocorria.
Durante o distúrbio os apitos soaram desesperadamente, os vizinhos acudiram e a polícia do Sr. capitão Casado deixou-se ficar no quartel ou nas esquinas, muito quieta, sem preocupar-se com coisa alguma.
Pois se eles, os bailarinos, tinham licença para divertir-se..

Menor é deflorada com auxílio de cafetina

Pelo Sr. subdelegado do 1º distrito foi, dia 25 de novembro de 1888, encontrada, em casa da “preta” cafetina Eva da Costa, a menor Silvéria, filha do “preto” João de Oliveira.
Silvéria fora raptada da casa de seu pai, com o auxílio daquela cafetina, que já se encontrava presa e recolhida à cadeia civil.
Dia 26, daquele mesmo mês, o Sr. subdelegado de polícia mandou proceder o exame na referida menor, sendo peritos os Drs. Raymundo da Silva e José Brusque, que declararam ter sido recente o defloramento.
No dia 27 deveria ser aberto o respectivo inquérito.

Morto por ter defendido bofetada em meretriz
Por volta das 22 horas do dia 27 de dezembro de 1888, foi barbaramente assassinado, no porto da cidade, Antônio Cordeiro, tripulante do patacho [embarcação antiga de dois mastros, tendo a cela de proa redonda e a de ré, latina] Pelotense III, pelo indivíduo Cincinato Ignacio Duarte, tripulante do iate José I.
O fato passou-se da seguinte maneira:
Encontravam-se conversando à porta do botequim do Sr. Domingos Leite Marinho, à Rua Conde de Porto Alegre, Antônio Cordeiro, Augusto José Maria, também tripulante do Pelotense III, o proprietário do botequim e Cincinato.
Conversavam sobre a agressão que, por parte de um indivíduo conhecido por Camões, acabava de ser vítima uma meretriz de nome Sophia.
Em meio da conversa, Cordeiro disse, entre outras palavras, as seguintes: “A bofetada que aquele sujeito deu naquela mulher foi muito bem empregada”.
Cincinato, que um pouco afastado ouvira aquelas palavras, precipitou-se bruscamente sobre Cordeiro e, dando-lhe certeira punhalada no coração exclamou: “Estou vingado!”. Pondo-se em seguida a correr em direção à Praça Domingos Rodrigues.
As pessoas que presenciaram aquela cena inesperada, achando que Cordeiro tivesse recebido apenas um murro, correram em seu auxílio, fazendo-lhe algumas perguntas.
Cordeiro respondeu que não era nada, caindo logo após, morto sobre as lajes do passeio.
O Sr. Marinho apitou imediatamente, comparecendo dois praças da polícia particular que, tendo conhecimento do ocorrido, trataram de perseguir o criminoso.
Tendo conhecimento do fato, o Sr. subdelegado do 2º distrito, o comunicou ao Sr. delegado de polícia e ao Sr. subdelegado do 1º distrito, seguindo aquelas autoridades para o porto, acompanhadas pelo Dr. José Brusque.
O Sr. delegado de polícia tratou de proceder a auto de corpo de delito no cadáver, sendo peritos os Drs. José Brusque e Requião, e os Srs. subdelegados trataram de dar providências para a captura do assassino dando buscas em diversos iates atracados no cais, sem obterem resultado.
Nessa ocasião, foram informados, pelo patrão do iate José I, que o assassino se lançara ao São Gonçalo, o que foi confirmado pelo proprietário do lanchão Jovem Pelotense, que vira um vulto nadando em direção àquela embarcação.
Em vista dessas informações, as autoridades mandaram uma força guarnecer o porto, em diversos pontos, e moveram dois praças para o Passo dos Negros a fim de evitarem a fuga do criminoso.
Às 4 horas da manhã, o patrão do iate José I gritou para os praças, que ali estavam, que acudissem que o assassino estava a bordo.
Estes acudiram, sendo logo preso Cincinato, que se entregou sem resistência.
Sendo-lhe perguntado como se achava naquela embarcação, que já tinha sido vistoriada, respondeu que havia se escondido junto à retranca, cobrindo-se com uma vela do iate.
Cincinato confessou o crime com o maior sangue frio.
O indivíduo que se atirara a água, como acima referido, foi o mesmo que pouco antes do assassinato havia dado uma bofetada na meretriz Sophia, predileta do criminoso, cujo fato a vítima aplaudira, originando-se o acontecimento.
Antônio Cordeiro era natural de Paranaguá, o assassino era de Porto Alegre e filho do Sr. Thomaz Inácio Duarte.

Cadetes espancam meretrizes
Às 21h30 do dia 28 de março de 1889, à Rua 16 de Julho [atual Dr. Cassiano], seis cadetes que se achavam de passagem por esta cidade, invadiram a casa de algumas meretrizes e espancaram algumas provocando verdadeira celeuma.
Aos gritos das vítimas, que pediam socorro, os desordeiros fugiram em direção ao hotel São Pedro.
Nessa ocasião, diversas pessoas começaram a apitar, comparecendo os Srs. Rodrigues de Souza, su sargento da mesma seção Sr. Rocha e alguns praças que, à Rua Andrade Neves, encontraram os desordeiros que já vinham ao encontro da polícia, travando-se então um sério conflito entre eles e os praças.
Graças, porém, a atitude calma e prudente assumida por aquela autoridade, coadjuvada pelo Sr. alferes Ribeiro, o conflito não assumiu maiores proporções.
Acalmados os ânimos, os referidos cadetes foram acompanhados pelo Sr. subdelegado do 1º distrito até o quartel da polícia, onde permaneceram alguns instantes, retirando-se depois para o quartel do destacamento de linha, depois de terem prometido ao Sr. Eduardo Moreira, delegado de polícia, que ali se encontrava, que não perturbariam mais a ordem pública.

                                                                                                                                 
                                                                    Continua...                          
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* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Postagem: Bruna Detoni
Seleção de imagem: Janaína Vergas Rangel

Revisão do texto: Jonas Tenfen       

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