quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Por que do apelido Xavante?


(parte 2 e final)



                                                                                    A.F. Monquelat

 
Os primeiros indícios do apelido “xavante”, e a origem deste

         Em matéria veiculada pelo jornal A Opinião Pública, de 27 de outubro de 1950, é provável que tenha sido, onde, por primeira vez tenha surgido a palavra xavante, na imprensa, relacionando-a ao torcedor rubro-negro.

         O conteúdo daquela reportagem versava sobre o último encontro que ocorreria pelo campeonato pelotense de futebol, entre as equipes do G. E. Brasil e a do E. C. Pelotas – “os tradicionais adversários de todos os tempos” - que se realizaria no gramado da “Baixada”.
         Embora a partida não tivesse caráter decisivo, tendo em vista que o time rubro-negro jogaria o Bra-Pel já ostentando as faixas de tri-campeão, como sempre acontecia, este encontro polarizava o mundo esportivo da cidade.
         Os dois times, segundo o colunista esportivo, desfrutavam excelente forma e estavam em condições de proporcionar ao público uma jornada das mais interessantes e emocionantes.


         O mais interessante, porém, é a foto que ilustra a matéria: vê-se em primeira plana, na arquibancada do estádio, uma torcedora do clube rubro-negro, vestindo a camisa de seu time, tendo um cocar sobre a cabeça.
         Na legenda da referida foto, lê-se que: “O torcedor do Brasil é o mais alegre e entusiasmado. Pelo seu clube ele é capaz de tudo. Brinca como ninguém, vaia sem propriedade e grita de doer os pulmões”.
         A frase final, que fazemos questão de ressaltar em negrito, acreditamos ser o registro de nascimento do uso da palavra xavante associada ao torcedor do Grêmio Esportivo Brasil: “E QUANDO É PRECISO, VESTE-SE DE XAVANTE LEGÍTIMO”.

A passeata da festa xavante pelas ruas da cidade, e o registro desta
        Dia 30 de outubro, ainda de 1950, o jornal A Opinião Pública, jornal responsável e, certamente, a quem se deve o apelido de xavante ao torcedor rubro-negro, estampava em suas páginas um flagrante da passeata do Grêmio Esportivo       Brasil, ocorrida na noite de 29, com a chamada de “Comemoração dos xavantes. A passeata de ontem à noite”.

         Neste registro, feito por A Opinião Pública, lê-se também que durante o trajeto percorrido pelo magnífico carro alegórico alusivo ao grande feito [conquista do tricampeonato citadino] e com interessante homenagem aos outros clubes de Pelotas, a massa popular vivava seu quadro, exaltando àqueles que objetivaram a extraordinária vitória.


A primeira charge em que aparece a figura do índio representando o Grêmio Esportivo Brasil, e o autor desta
Quinta-feira, 8 de maio de 1952, é a data que acreditamos tenha surgido a primeira charge em que o rubro-negro é representado por um indígena.
         Esta charge, de autoria do Aldyr Garcia Schlee, traz além da assinatura, que é a letra A circundando o nome Schlee , o ano: 52.

         No desenho, ou charge, lê-se que “Amabilidade não faz mal a ninguém”; trata-se de uma ironia do autor, pois de um lado está a figura de um aristocrata, vestindo traje de gala, cartola e com um charuto na boca, apertando a mão direita do seu adversário, enquanto que na mão esquerda, nas costas, está um tacape, uma banana de dinamite acesa e uma arma no bolso do paletó. Esta é a forma que o chargista representou o  time áureo-cerúleo.
         Já o clube rubro-negro, está representado por um avantajado indígena, de tanga, olhar desconfiado, também com a mão esquerda voltada às costas, tendo nesta mão uma quantidade de flechas, arco e uma machadinha.
         Abaixo dessas figuras, há a seguinte legenda: “Alô! Que feliz encontro!”.
         A matéria indagava sobre quem seria o vencedor do clássico Bra-Pel, que ocorreria naquele domingo, 11 de maio de 1952, se os “xavantes”, para seus torcedores fazerem aqueles carnavais, que costumavam fazer, deixando muita gente “boa de cabeça inchada”.  Ou os áureo-cerúleos seriam os vencedores daquela magna jornada?
         O resultado daquele clássico foi publicado no A Opinião Pública, de segunda-feira, dia 12, tendo em destaque o “Categórico triunfo rubro-negro por 3 x 0”.

         Seara e Mortozinha, haviam marcado os golos do primeiro tempo, e Joãozinho consolidara a “vitória xavante” (sic) marcando aos 5 minutos do segundo tempo, o terceiro golo.
         Ilustrando aquela notícia, vê-se novamente em ação o chargista Aldyr Schlee, que através de um desenho mostra ao leitor o tempo de marcação de cada golo, o autor e a movimentação do goleiro adversário tentando defender seu posto.
         Em resumo: é ao jornal A Opinião Pública  a quem devemos a origem do apelido desde a publicação da foto com a torcedora rubro-negra, 27 de outubro de 1950, consolidando-se tal, ainda pelo mesmo jornal, a partir do ano de 1954, onde as chamadas se referiam aos “xavantes” e não mais rubro-negros ou Grêmio Esportivo Brasil, não havendo distinções entre o clube, o time ou torcedores. E, bem assim, podemos atribuir a Aldyr Schlee a criação do índio xavante como representação do time rubro-negro.

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 Fontes de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV e acervo particular de Douglas Almeida.Postagem e tratamento de imagem: Bruna Detoni.Revisão do texto: Jonas Tenfen      

Um comentário:

  1. Sobre a charge, ela é de setembro de 1952, sobre o clássico disputado na BAIXADA, inclusive com destaque na própria charge. Os 3 a 0 foram na Boca do Lobo. A partida aconteceu no dia 21/09/1952 no Bento Freitas: Brasil 0x0 Pelotas.

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