quarta-feira, 29 de junho de 2016

A Pensão Rolinha

A. F. Monquelat

Depredaram a “Rolinha”
Na noite do dia 11 de novembro de 1929, um grupo de “Bam-Bam-bans” pôs em polvorosa a pensão “Rolinha”, situada à Praça Júlio de Castilhos [atual Parque D. Antônio Zattera] nº 11, quebrando quase tudo que encontraram à mão, deixando a dona da casa a ver cacos e mais cacos.
Nova desordem na “Rolinha”
Dizia o jornalista do A Opinião Pública que Pelotas, como em geral acontecia em outras cidades, contava também com um número apreciável dos chamados “mocinhos bonitos”.
Em face disso, dia 21 de novembro de 1933, três destes “mocinhos bonitos” resolveram fazer uma farra a seu modo.
Dirigiram-se, em companhia de uma mulher, por volta das 23 horas, a uma pensão existente à Praça Júlio de Castilhos nº 11, de propriedade de Rolinha Pereira.
De chegada, mandaram abrir várias garrafas, começando a beber alegremente em companhia de mais duas mulheres, residentes na Pensão.
Quando já estavam fartos de beber,se  iniciou o número mais atraente do “programa”, qual fosse: o de promover grossa baderna com o intuito de se furtarem ao pagamento da despesa feita.
Como, porém, a proprietária e uma das pensionistas cobrassem o mau procedimento dos mocinhos, estes começaram a espancar as duas mulheres.
Uma delas, por nome Isaura, fugiu em direção aos fundos da casa, tendo Rolinha, a proprietária da Pensão, recebido diversas escoriações e um ferimento contuso no rosto, lado esquerdo, produzido, ao que parecia, por estilhaço de vidro.


Um estranho caso na Pensão Rolinha

Foi levado, dia 31 de maio de 1935, ao conhecimento do Sr. major Demócrito Sattamini, delegado de polícia, um fato rodeado de circunstâncias graves.
Segundo o informante do fato, na manhã daquele dia, na Pensão Rolinha, situada à Praça Júlio de Castilhos, entre as ruas 15 de Novembro e Anchieta, uma mulher despertou surpresa de ali se encontrar e seriamente contundida pelo rosto e corpo, pedindo que a levassem para casa.
A mulher não sabia explicar de que modo se ferira. Ao despertar, perguntara à dona da pensão onde se achava e o que lhe acontecera, tendo lhe sido respondido que havia caído de um automóvel na véspera, dia 30.
De posse da denúncia, o Sr. major Demócrito Satamini, delegado de polícia, resolveu investigar pessoalmente, tendo convidado a acompanhá-lo os repórteres presentes na delegacia.
Aquela autoridade  se dirigiu, em primeiro lugar, à Pensão Rolinha, acompanhado dos jornalistas.
A Pensão Rolinha era, segundo o jornal A Opinião Pública, um antro de prostituição que funcionava há muito nesta cidade, tendo a sua proprietária, por vezes, ajustado contas com a polícia, por tentar arrastar menores ao vício.
Quando o delegado chegou à tal pensão, lá não se encontrava nem Rolinha, nem a vítima.
O Sr. major começou, então, a indagar das mulheres que se encontravam no referido “antro”, o que sucedera no dia anterior.
Tomou a palavra uma mulher bastante moça, de nome Albertina, que disse algumas coisas vagas, receosa, e contradizendo-se frequentemente.
Em vista disso, o Sr. major Satamini mandou recolher Albertina ao 1º posto policial.
Outra moradora da Pensão, de pouco adiantou, dizendo saber apenas que uma mulher, de nome Maria Lima, fora passear, em automóvel, com outra mulher e um homem, e que voltara à Pensão, pela madrugada, já ferida.
Por isso, o major Demócrito intimou Rolinha e Maria Lima, assim como o chofer do automóvel que as conduzira, durante a noite, a comparecerem à delegacia de polícia, às 14 horas daquele mesmo dia.
Exatamente à hora marcada, ali compareceram os intimados.
Maria Lima, que declarou ter 20 anos de idade e residir com sua família à Vila Elsa, na estrada das Três Vendas, apresentava grandes hematomas na região frontal direita, tendo o olho deste lado completamente fechado.
Relatou ela o seguinte: na noite anterior, por volta das 22h39, fora convidada para um passeio em automóvel por Francisco, mais conhecido por Chiquinho, empregado num café situado no Mercado Central e de propriedade do Sr. Costa Nova. Aceitando o convite, embarcaram no automóvel nº 674, de propriedade de Bruno Veiga, ela mesma, Chiquinho e a mulher de nome Albertina.
Dirigiam-se todos a um restaurante, onde comeram e beberam, tendo, após, retomado o automóvel e seguido em direção ao Parque Souza Soares. Daí por diante, declarou Maria de nada mais se lembrar do que consigo se passara. Apenas, quando despertou, viu que se encontrava na Pensão Rolinha, cheia de dores.
Foi também ouvido Bruno Veiga, o chofer do automóvel nº 674.
Bruno declarou que estava dirigindo o carro em direção ao Fragata, tendo sentada ao seu lado a mulher Albertina. No assento traseiro, estavam Chiquinho e Maria Lima. Mais ou menos na altura do cemitério, Chiquinho gritou-lhe que parasse o carro, pois Maria havia caído ao solo. Disse Bruno que ao parar, vira, de fato, caída pouco aquém do automóvel Maria Lima, que apresentava os ferimentos já descritos.
Por volta das 16 horas daquele mesmo dia, o major Demócrito ouviu Francisco Nova, o Chiquinho, que declarou o seguinte: Maria Lima, após a ceia que fizera em sua companhia e na da mulher Albertina, aceitara o convite para passear em automóvel. Embarcaram, então, os três no auto nº674, dirigindo-se este pela Avenida 20 de Setembro, rumo ao Parque Souza Soares.
Disse ainda Francisco  que Maria, ao defrontar o automóvel o Cemitério, manifestou sentir-se tonta e com falta de ar, debruçando-se, então, sobre uma das portas do veículo que ia a baixa velocidade. Em dado momento, sem dar tempo que seu gesto fosse obstado, Maria abrindo a porta do automóvel se jogou ao solo, recebendo, nessa ocasião, o ferimento que apresentava.
Essas as declarações de Francisco Nova, o companheiro de Maria Lima.
A natureza dos ferimentos recebidos por Maria Lima dava, porém, a impressão de que esta tivesse sido vítima de “violento soco”.
Entretanto, como a vítima declarava de nada se lembrar, nem mesmo atribuir a Francisco instintos de perversidade e, em vista de coincidirem as declarações das duas testemunhas com as que prestara Francisco Nova, as autoridades deram por encerradas as investigações, aceitando a hipótese de acidente.
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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen

6 comentários:

  1. e não é de hoje q o machismo e os "bons costumes" fazem suas vítimas em Pelotas.
    Andréa Schonhofen

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  2. Coitadas ficaram com medo de denunciar, eita machismo.

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  3. Cultura da diversão , da bebida, do cigarro ,do meretricio e do sexo pago....falta mais detalhes ...pergunto me : de grande validade e informação.
    Edu

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