terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O pecado (última parte)


Ratoneiro furta joias de uma horizontal
Dia 3 de maio de 1889, o temível gatuno Manuel Antônio de Oliveira penetrou em casa de uma horizontal [prostituta] e lhe furtou uma caixa contendo diversas joias de algum valor.
O “ativo” delegado de polícia, logo que teve conhecimento do ocorrido, mandou prender o ratoneiro e restituiu os objetos furtados a sua legítima dona, é o que nos informa o jornal A Pátria daquele mesmo dia.

Desordem no maxixe
Na noite de sábado, 27 de julho de 1889, em um maxixe à Rua Andrade Neves, houve grande desordem entre os convidados, os quais se viram ameaçados de grossa pancadaria.
Felizmente, dizia o jornalista, sabedores do que ocorria, compareceram no salão do baile os Srs. subdelegados do 1º distrito, comandantes da polícia particular e da seção fixa, os quais acompanhados da respectiva força acalmaram os ânimos sendo as damas conduzidas para o xadrez da polícia e os cavalheiros para o palacete da Rua Sete de Setembro.



Por causa de uma horizontal
Às 23 horas do dia 21 de outubro de 1889, na casa de negócios do Sr. Augusto Ramires, no porto da cidade, o indivíduo Lino Fernandes Ramos, armado de facão, promoveu desordem por causa de uma horizontal [prostituta], agredindo e ferindo diversas pessoas que ali estavam, entre elas um inspetor de quarteirão, que tentou prendê-lo.
Comparecendo a polícia particular, apaziguou os ânimos, efetuando a prisão do delinquente, o qual também ficou gravemente ferido.
No local do acontecimento, compareceu o Sr. subdelegado do 1º distrito, que mandou proceder o auto de perguntas e corpo de delito nos feridos.
Ramos foi conduzido, no dia seguinte, para a Santa Casa de Misericórdia.

Idílio e gatunice
A “preta” Felisberta Amaral, de 40 anos de idade, que outrora havia pertencido à viúva D. Flora Amaral e, na época alugada [empregada] em casa do Sr. José Maria de Brito, achava-se domingo [26 de outubro de 1889], à noite, em um bailareco à Rua Gonçalves Chaves, junto à taberna do Sr. Lourenço Guimarães, a qual fazia esquina à Rua General Neto, quando, sentindo-se presa do desejo de tomar um cálice de conhaque, dirigiu-se a referida taberna e bateu à porta.
Lourenço abriu e, ao saber do desejo de Felisberta, ponderou-lhe que muito melhor seria que ela ficasse em sua companhia durante o resto da noite, em vez de voltar ao maxixe, onde, além dos perigos de um resfriado, poderia sobrevir o de uma visita da polícia.
Felisberta derreteu-se toda ao contato dessa chama amorosa, e como era para o bem do Sr. Lourenço... ficou.
Fecharam-se as portas e, lá pela alta madrugada, o Sr. Lourenço, entregue a um sono reparador, despertou assustado com o ruído que fazia uma patrulha da polícia particular à porta do seu estabelecimento.
A patrulha vinha comunicar-lhe que a casa estava aberta e era preciso não confiar muito na generosidade dos gatunos.
Levanta-se o Sr. Lourenço, procura a melíflua Felisberta, e não a encontra.
– Estou roubado, – grita ele – aquela mulher roubou-me. Pasmo da patrulha e, tremores nervosos do Sr. Lourenço.
Ora, eis o que se passou, segundo a confissão de Felisberta: quando ela se deixou seduzir pelo Sr. Lourenço, e por entregarem-se a repetidas libações de conhaque, sucedeu ficarem ambos um pouco na chuva.
Felisberta, porém, teve o tino preciso para, ao ver o amoroso Sr. Lourenço dormindo, tirar-lhe do bolso do casaco a chave de uma gaveta, onde havia dinheiro, e dessa gaveta arrebatar-lhe 300$000 em moeda papel, 15$000 em nacionais de prata, 1 nacional de ouro, 2 condores, 1 argentina, uma portuguesa e 5 dólares, 7 moedas de prata boliviana e peruanas e 3$000 em balastracas e níqueis.
E mais um guarda-sol de seda, em bom uso.
Munida desse sortimento, Felisberta deixou o Sr. Lourenço a sonhar com a Vênus Calipígia e deu sebo às pernas em direção a casa onde estava empregada.
         Como não lhe quiseram abrir a porta, Felisberta dirigiu-se ao Hotel São Pedro, pediu um quarto, não sem haver deixado que o proprietário daquele estabelecimento e outras pessoas vissem, em seu poder, um lenço com a dinheirama dentro.
O proprietário do hotel, ao amanhecer, comunicou o caso ao Sr. Araújo, subdelegado de polícia do 1º distrito, que logo se pôs em campo.
Ao mesmo tempo o Sr. José Maximo, subdelegado do 2º distrito, fazia prender Felisberta, por já saber da queixa do Sr. Lourenço.
Felisberta foi conduzida para a cadeia e ali, interrogada pelo subdelegado Araújo, declarou o já exposto e, que a história do furto fora obra da carraspana do conhaque, porque ela, Felisberta, a sangue frio, nunca fizera nem era capaz de fazer uma áfrica [aventura] semelhante.
O dinheiro furtado foi entregue ao Sr. Lourenço, com a diferença, para menos, apenas de cinco mil e tanto.
Aí estava, concluía o jornalista, o que se chamava um homem feliz.
Como se tratava de um crime particular, e não havia sobre ele queixa em juízo, Felisberta teve de ser posta em liberdade.
Caros amores, e péssimo conhaque.

____________________________________________________________             
* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Postagem: Bruna Detoni
Seleção de imagem: Janaína Vergas Rangel

Revisão do texto: Jonas Tenfen       

Nenhum comentário:

Postar um comentário