quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Alguns aspectos históricos sobre o porto de Pelotas (2)


                                                                                     A.F.Monquelat

A localização do cais

         Pelo projeto geral, o cais a ser construído partiria das imediações do antigo estaleiro Lima, avançando até o Mercado do Porto, então existente na Praça Domingues Rodrigues, abrangendo uma extensão de 460 metros.
         Em janeiro de 1934, mês em que o governo do Estado aprovou os detalhes do projeto dos caixões [blocos], modificou-se também o traçado do cais, forçado que foi pelo fato dos proprietários dos velhos trapiches e outros imóveis a serem desapropriados, pretenderem pela venda dos mesmos quantias superiores aos seus valores reais.
         Em vista disso, foi resolvido suprimir o alinhamento reto de 280 metros, que partia do estaleiro Lima, abrangendo todos os trapiches, e adicionar mais 260 metro sobre o prolongamento para jusante [ lado em que segue o curso de água; lado em que vaza a maré.] do segundo alinhamento reto de 18 metros, dando assim ao novo cais uma extensão total de 440 metros.
         Assim sendo, desenvolver-se-ia a construção de acordo com o novo traçado, com início nas imediações da velha escada de desembarque, prolongando-se até as proximidades da Estação Fluvial.
         A sua diretriz ficaria equidistante da Avenida em 65 metros, o que significava dizer que, a construção avançaria sobre o canal São Gonçalo, em 40 metros, mais ou menos além da estacada existente, e o vazio que ficaria entre a nova e a antiga construção, que seria aterrada com o produto da dragagem, que seria realizada no leito do Canal.
         Desde o mês de fevereiro de 1934 que a firma vinha praticando sondagens geológicas no leito do São Gonçalo, com a intenção de conhecer a natureza do material que o constituía, não somente com o objetivo de avaliar sua resistência, para o assentamento dos blocos de concreto armado, como para a avaliação do volume a ser dragado, na profundidade de 6 metros, conforme exigência contratual.



Pessoal técnico

         Em visita realizada pela Imprensa local ao amplo prédio da firma Costa & Boegh, localizado à Rua General Osório nº 615 (sobrado), onde se encontravam localizados os escritórios e os departamentos técnicos da empresa, foi constatado serem estes constituídos por amplas salas, várias pranchetas e mesas para cálculos, além do gabinete do engenheiro-chefe, Sr. Dr. Carlos Boegh.
         O quadro do pessoal técnico da firma compunha-se dos seguintes engenheiros: Carlos Boegh, engenheiro-chefe, Emílio Iost, Pedro Sproviero, Rodolpho Sommeregger, Carlos Du Pasquier Júnior, Wilhelm Glasser, Gunter Glasser; e mais três desenhistas.
         Sob a direção do engenheiro Carlos Boegh, esses engenheiros tinham ocupações determinadas e empregavam a sua atividade na seção de cálculos, desenhos e trabalhos externos.
         A direção geral da firma estava a cargo do sócio, Sr. Antônio Edgar Costa, que era natural de Pelotas e fora sócio fundador e diretor da firma Kemnitz & Cia., construtora da ponte internacional sobre o rio Jaguarão e outras importantes obras de engenharia realizadas em diversos pontos do país.
         Era oportuno lembrar, segundo um jornalista que acompanhou a comitiva, que a construção do porto de Pelotas, “cuja necessidade vinha, de há muito, se fazendo sentir”, era devido ao esforço e a tenacidade de dois pelotenses: o Dr. João Py Crespo e o coronel Joaquim Augusto de Assumpção.
         O primeiro, Sr. Dr. João Py Crespo, quando intendente deste município, lançara a ideia da construção do porto, e, ao coronel Joaquim Augusto de Assumpção, então prefeito, pusera em prática a ideia do seu antecessor.

O telegrama da Associação Comercial de Pelotas ao general Flores da Cunha

         A Associação Comercial de Pelotas dirigiu, dia 4 de setembro de 1935, ao general Flores da Cunha o seguinte telegrama:
         “Exmo. Sr. general governador do Estado.
         Constando aqui que o governo do Estado encampou a construção do porto local, esta Associação interpretando o pensamento do comércio e da indústria desta zona sul do Estado, pede vênia a V. Excia. para renovar a exposição do seu ponto de vista acerca das desvantagens que, consequentemente, advirão para a vida econômica de Pelotas se, no momento, o projeto dessa vultosa obra for executado, integralmente, com caráter de porto oficializado e organizado.
         Pelotas, como V. Excia. conhece, não conta ainda com elementos suficientes para garantir ao novo porto um movimento de grande tonelagem, proporcionalmente ao elevado custo da obra, de sorte que, computados os valores invertidos e as despesas inerentes ao funcionamento respectivo, adviriam taxas portuárias superiores às dos demais portos do Estado ficando, portanto, Pelotas, embora seja ponto de convergência da importação e da exportação dos municípios limítrofes, poderá manter um movimento anual de cerca de oitenta mil, garantindo, portanto, uma renda muito pequena para permitir as mesmas taxas cobradas em P. Alegre e Rio Grande.
         Como porto secundário, desde que passassem a vigorar as despesas a que ficariam sujeitos todos os valores de Navegação Costeira e as embarcações que fazem o tráfego lacustre e fluvial, Pelotas sofreria grandemente no seu movimento, dando lugar a restrições das principais linhas, e a supressão de outras, Pelotas como medida de saneamento e de estética, precisa apenas de um cais e, esta Associação, refletindo o pensamento daqueles que conhecem os grandes problemas econômicos de Pelotas, sempre combateu a ideia da construção de um porto organizado, fazendo sentir que esse empreendimento deveria ficar limitado a um cais. E agora, quando se proporciona a rescisão do contrato respectivo, novamente ousamos ponderar a V. Excia. o mesmo ponto de vista que sempre sustentou esta Associação, longe de qualquer sentimento interesseiro, mas inspirado unicamente pelo são desejo de evitar um colapso de consequências gravíssimas para a atividade das classes produtoras e especialmente para o seu comércio de importação e de exportação. Ante a eventualidade da encampação das obras, ousamos sugerir a V. Excia. Que seria oportuníssimo o momento para mandar revisar o projeto existente, restringindo-o a um cais somente e, afastando definitivamente o plano de porto organizado que, por outro lado, traria encargos não reprodutivos para o Estado.
         E já que está votada e autorizada a verba para a construção total, permitimo-nos sugerir que a sobra resultante da restrição do projeto seja aplicada na reforma e na consolidação das duas importantes estradas intermunicipais, Pelotas ao Vale do Camaquã, passando por São Lourenço, e Pelotas a Piratini, passando por Canguçu; a primeira seria início de uma grande e necessária artéria, ligando o sul do Estado a Porto Alegre. Executado este plano rodoviário: Pelotas, Canguçu, Piratini, Camaquã, São Lourenço, Arroio Grande e outros seriam consideravelmente beneficiados e facilitar-se-ia o desenvolvimento das zonas cujo progresso depende exclusivamente da eficiência dos meios de transporte.
         A nossa sugestão encerra um problema de vital importância para esta zona sul do Estado e seria de fácil execução, sobretudo porque não demandaria sacrifícios por parte do governo, já que a verba destinada à construção do porto está computada no orçamento vigente, podendo ser aproveitada no plano das estradas o Batalhão Rodoviário da Brigada, cujos magníficos trabalhos mereceram sempre os mais justos aplausos.
         Confiantes em que esta exposição merecerá de V. Excia. todo o interesse que lhe tem merecido os grandes problemas econômicos do Estado, apresentamos nossos respeitosos cumprimentos e antecipamos-lhe nossos agradecimentos.   
         Associação Comercial – Manoel Ferraz Vianna, presidente; Victorino Menegotto, secretário”.

                                                                                              Continua... ________________                                     
Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen      

Seleção de imagem: Bruna Detoni

2 comentários:

  1. Costurando essa grande colcha de retalhos que é a história do cotidiano da cidade. Compreendendo as relações entre o passado e nossa realidade nos dias de hoje.... Moizes.

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  2. É exatamente esse o nosso projeto, meu caro Moizes. De retalho em retalho esperamos costurá-la, até podermos vê-la estendida por inteira, mesmo que de forma subjetiva quanto a escolha dos retalhos, que a estamos construindo. Cumprimentos pela compreensão do projeto. Abraço.

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